Qualidade do sono e carga horária de trabalho de bombeiros militares do sul do Brasil

Autores

  • Karen Cristiane Pereira de Morais UFSM
  • Rosângela Marion da Silva UFSM
  • Carmem Lúcia Colomé Beck UFSM
  • Juliana Tamiozzo
  • Ariane Nardon Cattani UFSM
  • Caroline Scapin Facco

Palavras-chave:

Enfermagem; Saúde do Trabalhador; Bombeiros; Transtornos do Sono-Vigília; Carga de Trabalho.

Resumo

Introdução: O trabalho de um Bombeiro Militar (BM) ocorre em ambientes muito diversificados, locais esses que exigem um desempenho profissional especializado e de precisão, numa ação rápida e eficaz no atendimento de qualquer ocorrência1. Estes trabalhadores não só realizam o resgate e combate a incêndio, mas também realiza atividades administrativas como análises de planos de prevenção de incêndio e fiscalização de prédios.  O trabalho do BM é divido em escalas de trabalho.  Embora haja vários benefícios nos plantões, há um número de consequências potencialmente adversas para os trabalhadores com trabalho à noite, o sono dos trabalhadores é frequentemente perturbado pela chamada para comparecer ao trabalho, e pode ser perturbado mesmo na ausência de ocorrência, de modo que simplesmente estar de plantão possa prejudicar o sono2. Objetivo: Analisar a associação da qualidade do sono e a variável carga horária em Bombeiros Militares do sul do Brasil. Metodologia: trata-se de uma pesquisa com abordagem quantitativa e de corte transversal realizada em 2018 no Batalhão de Bombeiros Militares do Rio Grande do Sul. Incluíram-se trabalhadores que estavam em atendimento direto à população e com mais de seis meses de atuação na função. Para a coleta de dados foram utilizados um questionário de caracterização sociolaboral e de estilo de vida e o Índice de qualidade de sono de. Após esse procedimento, realizou-se uma análise estatística (teste Qui quadrado) e descritiva dos achados, considerando estatisticamente significativo p <0,05. Trabalho aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, que ocorreu em março de 2018 sob número de parecer 2.562.016, sendo respeitado os preceitos éticos da 466/2012 e 510/2016, ambas do Conselho Nacional de Saúde. Resultados e Discussão: Participaram 129 bombeiros militares. A média de idade dos BM foi de 37,93 anos (±10,00), a média de tempo na profissão foi de 14,02 anos (±10,31) e a função predominante foi de combate a incêndio (65,1%). Os BM apresentaram diferentes divisões nas escalas semanais, como 8h diárias, esquemas de 24h de trabalho por 48h de descanso; 6h de trabalho por 18h de descanso; 12h de trabalho por 36h de descanso; e 12h de trabalho por 12h de descanso. Predominou a carga horária de 40h semanais (75%). Os resultados mostram que 24,1% dos trabalhadores bombeiros possuem carga horária maior que 40h semanais, o que pode comprometer a sua saúde. Estudo realizado com bombeiros em Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais, identificou sintomas de depressão relacionado a sobrecarga de trabalho e condições de trabalho, como a insuficiência, inadequação de equipamentos e precariedade estrutural3.Em relação à qualidade do sono, houve o predomínio de bombeiros com avaliação ruim da qualidade do sono (50,4%) e distúrbio do sono (34,9%). No que tange à qualidade do sono, este possui função importante para o indivíduo e a sua privação pode causar distúrbios na capacidade de desempenho intelectual, mental e na estabilização do humor que podem ser evitados por meio da prevenção. Ao associar a qualidade do sono e a variável carga horária, predominaram os bombeiros que realizavam até 40h e que apresentaram avaliação boa e ruim do sono. Não foi identificada associação significativa (p>0,05). Os dados analisados indicaram que entre os bombeiros que realizavam até 40h/semanais, predominou a avaliação ruim da qualidade do sono. O sono acumulado pode ocasionar aumento de sentimentos de confusão, perturbação do humor, exaustão mental, estresse, déficits na vigilância psicomotora, piora na inibição da resposta, erros de omissão e desempenho de rendimento4. A análise dos dados evidenciou a avaliação ruim da qualidade do sono na maioria dos bombeiros, dado semelhante a pesquisa realizada com bombeiros do Irã5. A avaliação ruim do sono foi identificada em cinco municípios, abrangendo um quantitativo de 92 bombeiros. Ao comparar a qualidade de sono por idade e tempo de trabalho, identificou-se que os bombeiros com boa qualidade do sono apresentaram idade em torno de 35 anos (30-48), e média de tempo de trabalho de 12 anos (6-28). Os bombeiros com qualidade do sono ruim apresentaram média de idade de 33 anos (31-40) e média de tempo de trabalho de 9,5 anos (6-14,75). Importante mencionar que em um plantão de 24h, durante o turno diurno os trabalhadores podem realizar atendimentos e atender ocorrências de combate de incêndio e acidentes com vítimas presas em ferragens, o que pode contribuir para manter o trabalhador alerta e prejudicar o descanso. O trabalho, principalmente entre os bombeiros operacionais, que possuem um período de tempo de sono inadequado durante os turnos de 24 horas, contribui para a deficiência de sono, fator influenciador no bem-estar psicossocial, fadiga dos bombeiros, e desenvolvimento de estresse no trabalho. Além disso, a má qualidade de sono pode se constituir risco para o trabalhador bombeiro em cenário de catástrofe, destruição e acontecimentos traumáticos. Houve também análise entre sonolência diurna excessiva e qualidade de sono, onde a maioria dos bombeiros com presença de sonolência apresentaram qualidade do sono ruim (27,2%) e em relação à associação da sonolência e qualidade do sono, não foi identificada associação significativa (p>0,05). Podem contribuir para a sonolência, em especial desses trabalhadores, as longas jornadas de trabalho, o trabalho árduo e o estado de alerta permanente. Considerar um local para descanso pode ser fator favorável para minimizar o adoecimento e auxiliar no desempenho do trabalhador, tendo em vista que os participantes da função operacional atuam em regime de plantão, pois o sono é um requisito básico para restaurar muitas funções fisiológicas e psicológicas do ser humano.  Considerações finais: É importante conhecer a rotina de cada pelotão referente as atividades de trabalho e repouso, para que medidas de higiene do sono sejam planejadas, como organizar horários para dormir e levantar, diminuir a intensidade da luz do local de descanso e arejar o ambiente. Analisar o trabalho de um bombeiro nos aspectos físicos, psicológicos, sociais e ambientais é procurar entender as preocupações de saúde, lesões e tensões, detectar precocemente fatores de risco relacionados ao trabalho, podendo, assim, ajudar a melhorar a qualidade de vida desses trabalhadores.

Publicado

08-04-2024