MONITORIA INTERCULTURAL DOS POVOS INDÍGENAS: LETRAMENTO ACADÊMICO E DECOLONIALIDADE DO SABER NO ENSINO SUPERIOR

Autores

  • Lucas Costa Chaves Bernardo da Silva UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL

Palavras-chave:

Decolonialidade, Epistemologias indígenas, Letramento acadêmico

Resumo

Este trabalho discute a presença de estudantes indígenas no ensino superior a partir da experiência da Monitoria Intercultural dos Povos Indígenas, desenvolvida na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), sob coordenação do Prof. Dr. Éderson Luis Da Silveira. A monitoria tem como principais objetivos adquirir conhecimentos específicos para elaboração e interpretação de enunciados em língua portuguesa, desenvolver estratégias de aprimoramento de texto escrito, promover a refacção de textos acadêmicos que destoem da norma culta da língua portuguesa e desenvolver a apropriação progressiva de gêneros acadêmicos. Entretanto, durante o processo de atendimento, foi perceptível que poucos estudantes indígenas procuram a monitoria, e quando o fazem, geralmente é para  auxiliar na elaboração de cartas de intenção, resumos e outras tarefas de cunho textual solicitada por docentes. Ademais, vale acrescentar que o projeto encontrou desafios quanto à procura por atendimento e, diante disso, optou-se pelo uso de QR Code para o agendamento, além de divulgações da monitoria em sala de aula. Considerando o  exposto, o objetivo deste estudo reside em analisar os limites e as potencialidades da Monitoria Intercultural dos Povos Indígenas como espaço de apoio pedagógico e valorização dos saberes indígenas no ensino superior, além de identificar os fatores institucionais e epistemológicos que dificultam a participação efetiva dos estudantes indígenas na monitoria. Para alcançar os objetivos propostos, foi adotada uma abordagem qualitativa de caráter bibliográfico, complementado por um relato de experiência, baseado na vivência da Monitoria Intercultural dos Povos Indígenas, na Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Laranjeiras do Sul, articulando autores que discutem as relações de poder na produção e circulação do conhecimento. No que diz respeito ao referencial teórico, pode-se mencionar que foi realizado um levantamento de estudos sobre o tema. Diante disso, autores como Urquiza e Silva (2024) apontam que a presença indígena no ensino superior constitui movimento político que questiona o modelo dominante, revelando práticas institucionais que desconsideram outros modos de saber. Ponso (2018), por sua vez, afirma que a universidade invisibiliza formas alternativas de leitura, escrita e compreensão de mundo, e defende que o letramento acadêmico considere outras formas de conhecimento. Já Maldonado-Torres (2008) argumenta que enfrentar a colonialidade exige postura ética e teórica que afirme a vida e o saber de sujeitos marginalizados. Desse modo, embora a monitoria busque construir espaço de escuta e valorização das diferenças, alinhando-se a uma perspectiva intercultural, o baixo envolvimento indígena levanta questões importantes. Uma dessas questões é que práticas pedagógicas e epistemológicas hegemônicas ainda predominam, dificultando o reconhecimento da monitoria como espaço confiável ou relevante. Assim, mesmo um espaço pensado para acolher pode ser insuficiente frente a uma estrutura institucional que não legitima saberes indígenas. Nesse contexto, fortalecer ações como a monitoria exige transformar o ambiente universitário. Por essa razão, é preciso promover o reconhecimento efetivo da diversidade epistemológica nos espaços institucionais, para que iniciativas de apoio pedagógico ganhem sentido e alcance. Consequentemente, esse esforço contribui para um ensino superior mais inclusivo, crítico e coerente com direitos dos povos indígenas.

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Publicado

21-08-2025