LUZ, CÂMERA, APS! A EXPERIÊNCIA DO CINE DEBATE NA MONITORIA DE SAÚDE COLETIVA

Resumo

Sabe-se que a formação médica enfrenta desafios significativos ao longo da trajetória de construção do conhecimento, e a inclusão de metodologias ativas configura-se uma das limitações mais relevantes. Essas metodologias visam superar o modelo tradicional centrado na comunicação unidirecional, através da escuta ativa, troca de experiências e da reflexão crítica. A utilização das atividades audiovisuais seguidas por debates, surgem como uma abordagem promissora, possibilitando uma imersão de conhecimento unindo teoria e prática (Nicolaou; Matsiola; Kalliris, 2019). Essa abordagem proporciona aos participantes melhorias das habilidades acadêmicas e profissionais, incluindo a compreensão abrangente do processo saúde-doença-cuidado. O presente trabalho foi construído a partir das experiências vivenciadas no projeto “Cine Debate: Atenção Primária à Saúde (APS) na formação médica”, organizado pela monitoria de Saúde Coletiva do curso de Medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus Chapecó. O cine debate foi um facilitador pedagógico, e teve por objetivo criar um espaço para o diálogo e reflexões sobre temas relevantes no contexto da APS, incluindo a relação médico-paciente, a territorialização e a atuação multiprofissional. Além disso, os participantes foram estimulados a compreender as realidades locais e a propor soluções baseadas em práticas médicas humanizadas. Como suporte teórico, adotamos a pedagogia problematizadora de Paulo Freire, que valoriza o aprendizado dialógico e coletivo, os princípios da Educação Permanente em Saúde (PNEPS), que promovem reflexão e transformação das práticas de trabalho, e os fundamentos da Atenção Primária à Saúde (PNAB), com ênfase no vínculo, integralidade e participação social (Chiarella et al., 2015; Brasil, 2018; Brasil, 2012). A abordagem metodológica utilizada foi qualitativa e participativa, com encontros semanais organizados pelos monitores. Foram realizadas 8 monitorias, entre 25/10/2024 e 13/12/2024, abrangendo os 8 episódios da primeira temporada da série Unidade Básica, com a participação de 9 alunos diferentes, todos do primeiro período do curso de Medicina, e uma média de 7 alunos por encontro. A participação dos estudantes variou ao longo dos encontros, influenciada por fatores como os compromissos acadêmicos regulares, que impactam a disponibilidade para atividades extracurriculares. Nesses encontros, os participantes assistiam a um episódio que apresentava situações-problema vivenciados pelos profissionais e usuários da APS. Em seguida, era realizada uma roda de debates conduzida pelos monitores, onde os participantes podiam relatar experiências, dificuldades e percepções relacionadas ao tema do episódio em questão. Nessa etapa foram preconizadas perguntas abertas e escuta ativa, promovendo um debate horizontal. Os resultados mostraram engajamento crescente dos participantes, destacado pela qualidade das reflexões apresentadas e na profundidade do conteúdo abordado. Além disso, o projeto foi avaliado por meio de um formulário de avaliação enviado aos participantes ao final das monitorias. Todos os participantes que responderam consideraram o cine debate uma experiência positiva, destacando como principal aspecto o formato da atividade, que incentivava discussões que iam além do conteúdo expositivo, permitindo uma compreensão mais aprofundada das realidades da APS. Portanto, torna-se evidente que a monitoria, aliada a metodologias ativas, pode ser um espaço potente de uma formação médica mais reflexiva, humanizada e alinhada aos princípios do SUS.