ARQUITETURAS DA ESCUTA: PRÁTICAS ARTÍSTICAS PARA EDUCAÇÃO SONORA PÓS-DIGITAL

Autores

  • Marcela Alvares Maciel Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Erechim
  • Valdirene Schneider Mestranda no PPGICH - UFFS (Campus Erechim/RS)
  • Laiane Batista Graduanda em Arquitetura e Urbanismo (UFFS - Erechim/RS), bolsista de monitoria.

Palavras-chave:

Aprendizagem interdisciplinar, Metodologias ativas, Ecologias da escuta

Resumo

A educação sonora ainda é pouco abordada nos currículos de Arquitetura e Urbanismo, especialmente no que se refere à escuta sensível como prática projetual. A acústica, geralmente tratada de forma técnica e abstrata, pode ser explorada de maneira mais significativa por meio de práticas artísticas contemporâneas, em diálogo com o conceito de paisagens pós-digitais (Gobira e Mucelli, 2017). Considerando o som como elemento projetual e epistemológico, este relato de experiência apresenta propostas didático-pedagógicas que valorizam escutas sensíveis no ensino de ambiência acústica no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Na quarta edição do projeto de Monitoria em Educação Sonora, com participação de uma estagiária vinculada ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, foi adotada uma abordagem qualitativa, exploratória e interdisciplinar. Utilizando a pesquisa baseada em arte como metodologia formativa, articulou-se som, corpo e espaço como formas de aprendizagem (Diederichsen, 2019). Entre as abordagens sensíveis desenvolvidas, destacam-se: caminhadas artísticas, gravações em campo, mapas mentais, vídeo-entrevistas, criações com objetos naturais e narrativas sonoras. Como principal resultado, elaborou-se o diário sonoro “Escutas da Natureza”, com cinco práticas artísticas inspiradas em Krenak (2020): (i) Postal sonoro; (ii) Cartografia das águas; (iii) Partituras do chão; (iv) Museu mais que humano; e (v) Fabulações sonoras. No contexto da educação sonora pós-digital - em que as fronteiras entre analógico e digital se tornam híbridas - investigam-se formas de inserir essas práticas em ecologias da escuta (Ingold, 2008; Oliveira, 2019), nas quais o som é parte de um ecossistema complexo, envolvendo interações entre humanos, ambiente e tecnologias. Os resultados indicam que práticas artísticas ampliam a escuta sensível de estudantes de arquitetura, promovendo processos criativos colaborativos e reflexivos. A escuta deixa de ser apenas técnica para tornar-se dimensão formativa essencial à prática projetual. As arquiteturas da escuta, ao se configurarem como espaços simbólicos de criação e transformação social, revelam-se potentes estratégias pedagógicas. Ao integrar som, educação e tecnologia por meio da arte, esta proposta apresenta uma abordagem pedagógica inovadora, que compreende o som não apenas como dado técnico, mas como elemento formativo e epistemológico. A escuta é entendida como prática estética e projetual, capaz de fomentar processos educativos mais críticos e inclusivos, alinhados aos desafios contemporâneos. Assim, ao deslocar a acústica de um campo técnico para um campo artístico-relacional, fortalece-se seu papel na formação profissional dos futuros arquitetos, abrindo novas possibilidades para a qualidade sonora dos projetos arquitetônicos.

Downloads

Publicado

21-08-2025