EDUCAÇÃO SONORA EM CONTEXTO PÓS-DIGITAL
Resumo
O projeto “Monitoria em Educação Sonora”, em sua terceira edição, vem desenvolvendo práticas didático-pedagógicas inovadoras para o ensino de ambiência acústica no curso de arquitetura e urbanismo da UFFS, com ênfase no conceito de paisagem sonora (ISO, 2014). A proposição de metodologias ativas a partir de projetos interdisciplinares em parceria com a comunidade regional, foi o foco das edições anteriores (Maciel, 2020). A adaptação emergencial das práticas educacionais para o ambiente virtual em virtude da pandemia de covid-19 desafiou a monitoria em educação sonora a reavaliar suas abordagens didático-pedagógicas, reconhecendo a necessidade de incorporar ferramentas digitais no processo de ensino-aprendizagem. O conceito de pós-digital (Gobira e Mucelli, 2017) incita à reflexão sobre como as tecnologias digitais estão imersas na sociedade, influenciando nossas interações e práticas cotidianas, bem como nossa compreensão do mundo e da própria tecnologia. Assim, este trabalho tem como objetivo apresentar o desenho instrucional de ambientes de aprendizagem de ambiência acústica numa perspectiva pós-digital. Para tanto, partiu-se da análise das necessidades de aprendizagem do público-alvo, sendo definidos os objetivos educacionais específicos para a seleção de conteúdos para o design de atividades e recursos interativos para promover a participação ativa dos alunos e a aplicação prática do conhecimento. Acrescenta-se a isso ainda a definição de estratégias de suporte contínuo aos estudantes e a avaliação sistemática do processo de aprendizagem para a melhoria contínua dos materiais educacionais (Filatro, 2015). No primeiro módulo da disciplina em contexto pós-digital, as atividades práticas de sensibilização da escuta sistematizadas em diário sonoro foram ressignificadas, utilizando murais virtuais colaborativos para compartilhamento de experiências de aprendizagem mediadas por recursos digitais de representação de paisagens sonoras, envolvendo áudios, vídeos, fotografias e colagens digitais. Citam-se, como exemplos, as atividades envolvendo mapas mentais, passeios sonoros, entrevistas com gravação de áudios e narrativas em textos descrevendo sons culturais de uma época. Já no segundo módulo da disciplina, as atividades propostas vão além da sensibilização sonora. Elas visam estimular uma reflexão mais profunda sobre a qualidade sonora no ambiente construído, através da prática do desenho sonoro. Assim, os exercícios projetuais propostos desafiam os alunos a tomarem decisões significativas no processo de projeto arquitetônico, levando em consideração os requisitos de desempenho acústico. Nesta etapa, destaca-se a introdução de aplicativos digitais gratuitos disponíveis para celular para a experimentação e avaliação da qualidade sonora do ambiente construído. A partir das práticas realizadas, observa-se que a introdução de ferramentas digitais e estratégias híbridas de atendimento da monitoria, com participação do monitor em sala de aula para assessoramento das práticas com o professor e atendimento extraclasse em grupo de atendimento da monitoria em plataformas digitais de redes sociais são as estratégias que se mostraram mais efetivas no processo de ensino-aprendizagem com a participação da monitoria. Portanto, a compreensão da educação sonora em contexto pós-digital permite explorar as fronteiras híbridas dos ambientes de ensino-aprendizagem de ambiência acústica, contribuindo para a formação de arquitetos e urbanistas comprometidos com a melhoria da qualidade sonora do ambiente construído.