A AGROECOLOGIA E AS DIVERSIFICADAS ESTRATÉGIAS DE REPRODUÇÃO DA AGRICULTURA CAMPONESA

  • Thaisson Rodrigues de Campos Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Roberto Antônio Finatto Universidade Federal da Fronteira Sul

Resumo

 

A agroecologia pode ser considerada um projeto sustentável para o campo, já que utiliza insumos orgânicos no processo de produção, atende as necessidades de autoconsumo das famílias, diversifica a produção agropecuária e possibilita a geração de renda. A agricultura camponesa, por sua vez, diante da histórica autonomia relativa que possui em relação ao mercado, da disponibilidade de mão de obra e de produtos para a manutenção da família se constitui como o segmento que melhor comporta os princípios da agroecologia. A agroecologia rompe, portanto, com a lógica do agronegócio já que não se estrutura para atender exclusivamente as exigências do mercado consumidor por meio de relações de trabalho tipicamente capitalistas. Assim, além da substituição de insumos convencionais por aqueles orgânicos, a agroecologia se projeta considerando os diferentes aspectos relacionados com a produção agropecuária, ou seja, abrange a questão ambiental, social, cultural, econômica e política (FINATTO, 2016). Este texto contextualiza a prática agroecológica, enquanto estratégia de reprodução da agricultura camponesa, em duas diferentes áreas da reforma agrária no estado do Paraná: o Acampamento Maila Sabrina, localizado no município de Ortigueira, mesorregião Centro-oriental do estado e o Assentamento Dorcelina Folador, município de Arapongas, mesorregião Norte central do Paraná. O objetivo principal do trabalho foi analisar a importância da agroecologia para a reprodução socioeconômica da agricultura camponesa apresentando diferentes situações em que ela é praticada. A pesquisa foi realizada com base em revisão teórica e pesquisa de campo. Com o objetivo de analisar diferentes situações em que a agroecologia é desenvolvida foram realizados trabalhos de campo no Acampamento Maila Sabrina e no Assentamento Dorcelina Folador, duas áreas ocupados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). A pesquisa de campo no Acampamento Maila Sabrina com observação participante, realização de entrevistas e registro fotográfico ocorreu entre setembro e dezembro de 2017. A realização de entrevistas e visitas nas unidades de produção do Assentamento Dorcelina Folador ocorreu em julho de 2018. No total, foram realizadas 10 entrevistas com informantes qualificados e camponeses que praticam a agroecologia nas áreas citadas. Embora a agroecologia seja parte do discurso político do MST, na prática dos acampamentos e assentamentos há dificuldade para a sua consolidação. Isso se deve ao fato de que o incentivo realizado pelo Movimento e por projetos de diferentes instituições, como as ONGs e universidades, não são suficientes para garantir a continuidade das ações em curso e estimular maior adesão na agroecologia. Se a agroecologia já está consolidada como estratégica para o autoconsumo e manutenção das famílias, ainda precisa se firmar enquanto alternativa para a geração de renda, como, aliás, já acontece em alguns. Os acampados e assentados não têm condições de assumir, sozinhos, os riscos do processo de transição agroecológica, é necessário o suporte de políticas públicas contínuas e estruturais que garantam a viabilidade da produção aproveitando o potencial cultural e ecológico das áreas de reforma agrária.

 

 

 

 

Publicado
13-09-2018