BIOLOGIA DA REPRODUÇÃO E DA POLINIZAÇÃO DE DESMODIUM AFFINE SCHLTDL., UMA LEGUMINOSA NATIVA NO RIO GRANDE DO SUL, COM POTENCIAL FORRAGEIRO

  • Patrícia Borck Garcia Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Cerro Largo
  • Mardiore Pinheiro
Palavras-chave: mecanismo explosivo, abelhas, frequência, eficiência, produção de frutos.

Resumo

1 Introdução

Desmodium affine Schltdl. (Faboideae Fabaceae) é uma espécie de leguminosa nativa do Brasil que apresenta potencial forrageiro. Para espécies forrageiras estudos de reprodução e polinização são primordiais já que são espécies destinadas à produção de sementes. As flores de D. affine são papilionadas e apresentam um sistema de polinização explosivo (FAEGRI; VAN DER PIJL, 1980). Flores com esse mecanismo são geralmente polinizadas por abelhas (WESTERKAMP, 1997). Conforme Alemán et al (2013) o disparo do sistema explosivo não é essencial para a produção de frutos em outras espécies desse gênero, pois são produzidos frutos por autopolinização. Portanto a polinização por abelhas pode assumir diferentes graus de importância entre as espécies de Desmodium.

 

2 Objetivo

Os objetivos deste estudo foram os seguintes: 1. Verificar quais são os visitantes florais e polinizadores de D. affine; 2. Estudar a biologia da reprodução e da polinização desta leguminosa; 3. Identificar quais dos polinizadores contribuem mais positivamente para a reprodução desta espécie.

3 Metodologia

O estudo foi realizado em uma população natural no município de Cerro Largo (28°08’41”S e 54°43’08”O) entre outubro de 2016 e fevereiro de 2017. Os visitantes florais foram coletados e observações do comportamento nas flores foram realizadas durante 126 horas. Foram considerados polinizadores as espécies que contataram as estruturas reprodutivas (ALVES-DOS-SANTOS et al, 2016). Para contatar o estigma nas flores de D. affine o polinizador deve disparar o sistema de polinização. Os polinizadores foram qualificados em relação a frequência de visitas e eficiência na polinização. A eficiência foi verificada pelos seguintes métodos: 1. Contato com o estigma: onde foi verificado o número de vezes que a espécie disparou o mecanismo de polinização. 2. Deposição de grãos de pólen no estigma: flores previamente ensacadas receberam uma visita, sendo posteriormente quantificado o número de grãos de pólen de D. affine depositados no estigma pelo visitante. 3. Formação de frutos: foi acompanhada a formação de frutos em flores previamente ensacadas e que receberam visitas (após a visita as flores foram novamente ensacadas). O sistema reprodutivo foi determinado por meio de três testes de reprodução (RADFORD et al, 1974): 1. Autopolinização espontânea (N= 65), onde as flores foram apenas marcadas. 2. Autopolinização manual (N= 65), em que as flores foram polinizadas manualmente com pólen de flores do mesmo indivíduo. 3. Polinização cruzada (N=  65), sendo as flores emasculadas e polinizadas com pólen de outros indivíduos. Ainda foram marcadas flores para o controle (N= 65). Em todos os testes, exceto o controle as flores em pré-antese foram previamente ensacadas com sacos de voal, sendo que após o tratamento foram novamente isoladas e a formação de frutos foi acompanhada em todos os tratamentos.

4 Resultados e Discussão

Durante o período de estudo, as abelhas foram os visitantes florais exclusivos de D. affine. Os testes de reprodução indicam que D. affine faz autopolinização e é auto compatível, no entanto apenas sete frutos (11% N= 65) foram formados por autopolinização espontânea. Ainda a formação de frutos por polinização cruzada e controle foi 35,4% e 58,4% superior, respectivamente, em relação a autopolinização espontânea. As espécies mais frequentes foram Exomalopsis aureopilosa, Megachile sp. 2 e Apis mellífera (Figura 1). Analisando os critérios para eficiência dos polinizadores (Tabela 1.), E. aureopilosa, foi a única espécie a disparar o mecanismo em todas as visitas. Megachile sp. 2 foi a espécie que depositou o maior número de grãos de pólen intraespecífico. Epanthidium bicoloratum formou o maior número de frutos.

5 Conclusão

Desmodium affine é auto compatível e produz frutos por autopolinização. Porém, a produção de frutos nas flores visitadas por abelhas (controle) foi superior em relação aos demais testes, indicando que a polinização por abelhas influencia positivamente no sucesso reprodutivo de D. affine. Considerando os parâmetros para determinar a eficiência dos polinizadores, as espécies E. aureopilosa, Megachile sp. 2 e E. bicoloratum foram as mais eficientes na polinização dessa espécie.

Referências

ALEMÁN, Mercedes et al. The explosive pollination mechanism in Papilionoideae (Leguminosae): an analysis with three Desmodium species. Plant Systematics And Evolution, [s.l.], v. 300, n. 1, p.177-186, 19 jul. 2013. Springer Nature. http://dx.doi.org/10.1007/s00606-013-0869-8.

ALVES-DOS-SANTOS, Isabel et al. Quando um visitante floral é um polinizador? Rodriguésia, [s.l.], v. 67, n. 2, p.295-307, jun. 2016. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/2175-7860201667202.

FAEGRI, Knut; VAN DER PIJL. The principles of pollination ecology. 3. ed. Oxford: Pergamon Press. 1980.

RADFORD, Albert E. et al. Vascular plant systematics. 1. ed. New York: Harper & Row. 1974.

WESTERKAMP, Christian. Keel blossoms: Bee flowers with adaptations against bees. Flora, [s.l.], v. 192, n. 2, p.125-132, abr. 1997. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/s0367-2530(17)30767-3.

Publicado
15-09-2017