ANÁLISE EXPERIMENTAL DA INFLUÊNCIA DA ESPESSURA DA JUNTA DE ARGAMASSA DE ASSENTAMENTO EM PRISMAS DE BLOCOS CERÂMICOS ESTRUTURAIS

  • Paulo Roberto Dutra Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - Campus Erechim
  • Giovani Jordi Bruschi Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - Campus Erechim
  • Gilson Francisco Paz Soares Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - Campus Erechim
Palavras-chave: Alvenaria estrutural, Desempenho mecânico, Resistência à compressão.

Resumo

 

1 Introdução

Apesar de utilizada desde a antiguidade, a alvenaria estrutural começa a ganhar mais notoriedade a partir da segunda metade do século XX. Desde então, tanto estudos experimentais quanto análises numéricas têm se tornado recorrentes entre o meio técnico, com o intuito de compreender o real comportamento do conjunto bloco-argamassa e, consequentemente, explorar a máxima potencialidade da alvenaria.

A alvenaria estrutural não pode ser dissociada de um rígido controle de qualidade, posto que, falhas, por menores que sejam, podem causar danos irreversíveis às edificações e, em último caso, levá-las à ruína. Por isso, é de suma importância o conhecimento sobre as características e propriedades dos materiais de construção, assim como seu desempenho mecânico, a fim de melhorar a eficiência global das obras e reduzir custos e passivos ambientais gerados com o aproveitamento inadequado de matéria-prima.

2 Objetivo

O presente estudo tenciona verificar qual a influência a espessura da junta de argamassa de assentamento exerce sobre a resistência à compressão de prismas compostos por blocos cerâmicos estruturais, contribuindo com a disseminação do conhecimento na área.

Dentre os objetivos específicos, destacam-se: realizar a revisão da literatura, coletando informações acerca do processo construtivo e dos ensaios a serem realizados; modelar prismas de blocos assentados com diferentes espessuras e resistências de argamassa, sujeitos a carga de compressão; verificar se os modelos experimentais evidenciam, e em que níveis, a influência da espessura e da resistência da argamassa de assentamento no comportamento mecânico da alvenaria, tendo como parâmetro de análise a tensão de ruptura à compressão; e comparar a eficiência dos prismas entre si e com os postulados teóricos.

3 Metodologia

Inicialmente, procedeu-se à prévia caracterização dos blocos cerâmicos estruturais empregados na análise experimental. Conforme a NBR 15270:3 (ABNT, 2005), determinaram-se as características geométricas (dimensões efetivas das faces, espessura dos septos e paredes externas, desvio em relação ao esquadro e planeza das faces, área bruta e área líquida), físicas (massa seca e índice de absorção de água) e mecânicas (resistência característica à compressão) para uma amostra de treze blocos selecionados aleatoriamente.

A caracterização mecânica (principal critério de avaliação) dividiu-se em dois estádios: regularização das faces de trabalho dos corpos de prova e ensaio à compressão. O capeamento foi realizado em dois dias subsequentes, aguardando-se 24 h para o endurecimento da argamassa de uma das faces para realizar o procedimento na superfície oposta. Após o endurecimento da argamassa de capeamento de ambas as faces, os blocos foram imersos em água durante 6 h, período após o qual foram ensaiados à compressão na condição saturada.

Ao todo, serão confeccionados prismas com dois blocos e juntas de argamassa com espessuras variáveis de 2 mm e 5 mm (abaixo do especificado pela norma), 7 mm, 10 mm e 13 mm (dentro dos limites propostos pela norma), 17 mm e 25 mm (acima dos limites da norma). Para cada espessura de análise, moldar-se-ão quatro corpos de prova, vinte amostras para cada resistência da argamassa de assentamento, a qual foi delimitada em função da resistência característica à compressão do bloco (fbk) como aproximadamente 0,2fb­k, 0,7fbk e 1,5fbk. Durante esta etapa de trabalho, moldaram-se apenas os prismas de dois blocos referentes à argamassa de 0,7fbk, com a confecção dos demais corpos de prova prevista para a sequência das atividades.

Após o período de 28 dias acondicionados em câmara climatizada (temperatura média de 24 ºC e umidade média de 25%), avaliar-se-á a resistência à compressão dos prismas assentados com diferentes espessuras de junta de argamassa. A partir dos resultados experimentais, dar-se-á a comparação dos dados entre si e com os resultados obtidos por pesquisas anteriores, de modo a estabelecer uma combinação ideal espessura-resistência da argamassa de assentamento que conduza à máxima resistência à compressão da alvenaria.

4 Resultados e Discussão

A NBR 15270:2 (ABNT, 2005) estabelece tolerâncias dimensionais máximas para as dimensões efetivas das faces em relação às dimensões nominais, sendo de ±5 mm, para medições individuais e de ±3 mm, em relação à média. As espessuras mínimas dos septos e das paredes externas devem ser, respectivamente, 7 mm e 8 mm, enquanto que o desvio em relação ao esquadro e a planeza das faces são limitados a 3 mm. Mediante caracterização geométrica, o lote inspecionado seria aceito sem qualquer contratempo.

Da mesma forma, a mesma norma recomenda que o índice de absorção de água (AA) esteja situado entre 8% e 22%, o que ratifica o valor de 13,52% encontrado para o conjunto de blocos cerâmicos.

Quanto à caracterização mecânica, apenas dois blocos atingiram valores de resistência acima de 7 MPa, valor especificado pelo fabricante. Por outro lado, apenas um corpo de prova apresentou resistência abaixo de 5 MPa, o que definiu a resistência característica à compressão como 4,85 MPa. Isso ocorre devido à formulação utilizada para o cálculo da resistência característica estimada da amostra considerar os menores valores de resistência à compressão individuais.

Assim, definiu-se a resistência mecânica da argamassa em 2 MPa, 4 MPa e 8 MPa, o equivalente a 41,24%, 82,47% e 164,95% da resistência característica à compressão do bloco cerâmico, valores próximos àqueles propostos em um primeiro momento.

Os prismas confeccionados encontram-se em processo de cura, o que dificulta a apresentação de resultados mais conclusivos sobre a real influência da espessura e da resistência da argamassa de assentamento sobre a resistência à compressão de prismas compostos por blocos cerâmicos estruturais.

5 Conclusão

No que concerne à caracterização geométrica e física, os resultados indicaram adequada compatibilidade com as tolerâncias normativas. A resistência característica à compressão do bloco cerâmico resultou um pouco abaixo do esperado, entretanto ajustou-se a resistência da argamassa em função do valor obtido.

Em seguida, moldaram-se os prismas com argamassa de assentamento igual a 4 MPa, contemplando todas as espessuras de análise. À idade de ensaio de 28 dias, serão executados os ensaios de compressão e proceder-se-á à análise dos resultados, os quais serão comparados entre si e com os postulados teóricos. Espera-se que, os prismas reproduzam adequadamente o comportamento mecânico da alvenaria estrutural sob diferentes características da argamassa de assentamento.

Biografia do Autor

Paulo Roberto Dutra, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - Campus Erechim
Acadêmico de Engenharia Civil pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, campus Erechim.
Giovani Jordi Bruschi, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - Campus Erechim
Acadêmico de Engenharia Civil pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, campus Erechim.
Gilson Francisco Paz Soares, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - Campus Erechim
Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Maria, Doutor em Engenharia, na área de Mecânica dos Sólidos, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Coordenador do curso de Engenharia Civil da Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões, campus Erechim.

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15270:2: Componentes cerâmicos – Parte 2: Blocos cerâmicos para alvenaria estrutural e de vedação – Terminologia e requisitos. Rio de Janeiro,2005.

______. NBR 15270:3: Componentes cerâmicos – Parte 3: Blocos cerâmicos para alvenaria estrutural e de vedação – Métodos de ensaio. Rio de Janeiro, 2005.

Publicado
16-10-2017