AVALIAÇÃO DO POTENCIAL GENOTOXICOLÓGICO EM INDIVÍDUOS EXPOSTOS A AGROTÓXICOS EM REALEZA, PARANÁ

  • Diana Paula Perin Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Realeza
  • Alifer Palhano Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Realeza
  • Victor Augusto da Silva Carneiro Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Realeza.
  • Luciana Borowski Pietricoski Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Realeza
  • Dalila Moter Benvegnú Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Realeza

Abstract

1 Introdução

O modelo de agricultura em vigência atualmente é regido pelo plantio de monoculturas do tipo transgênicos, o que acarreta no elevado uso de agrotóxicos. Dessa forma, estudos indicam que o elevado uso de agrotóxicos leva a incidência de determinadas condições clínicas desfavoráveis a saúde humana (ALMEIDA, 2016; MATOZO; TUREK; NOLETO, 2015; ZENKNER, 2011, dentre outros trabalhos). Em relação a tais condições, estudos demonstram que os defensivos agrícolas estão relacionados ao surgimento de intoxicações agudas e, às vezes, crônicas, por exposição em longo prazo a baixos níveis desses agentes tóxicos, podendo o agrotóxico atuar também como agente teratogênico, mutagênico, cancerígeno e desregulador endócrino, além de contribuir para o aparecimento de doenças neurodegenerativas e distúrbios reprodutivos (ALMEIDA, 2016).

Além do mais, os agrotóxicos estão relacionados a efeitos danosos no DNA, como quebras cromossômicas, o que pode resultar no surgimento de alterações morfológicas em algumas células, sendo considerado um agente mutagênico (OLIVEIRA et al, 2012).

Dentre as alterações morfológicas nas células destacam-se os micronúcleos, que são fragmentos cromossômicos ou cromossomos inteiros que não são incorporados ao núcleo da célula devido a algum erro no núcleo, o que pode ser induzido por vários agentes externos (CARRARD, 2007). O Teste de Micronúcleo é um dos métodos mais utilizados para avaliar o dano genético nas células de indivíduos, visto que é capaz de detectar danos causados por agentes clastogênicos, que levam a quebras cromossômicas, ou de agentes aneugênicos, relacionados a aneuploidia ou segregação cromossômica anormal (ANSARI et al., 2011 apud ZENKNER, 2011).

 

2 Objetivo

Avaliar o potencial genotoxicológico de agrotóxicos em indivíduos expostos, através do teste de micronúcleo em linfócitos.

 

3 Metodologia

Caracterização da população e coleta de dados

Foram coletados até o momento, amostras de doze indivíduos, divididos em dois grupos:

  • Grupo controle: Indivíduos que residem exclusivamente no meio urbano a mais de dois anos e não possuem contato direto com agrotóxicos.

  • Grupo exposto: Indivíduos que possuem contato direto com agrotóxicos.

Inicialmente foi aplicado um questionário para conhecer a história ocupacional dos indivíduos. Esse questionário era composto por perguntas relacionadas ao perfil do participante (idade, sexo, local e tempo de residência), consumo de álcool, história ocupacional, sendo que nessa sessão o indivíduo relatou com quais agentes clastogênicos ele estava em contato com maior frequência como agrotóxicos, agentes químicos e radiação. Na sessão destinada a perguntas sobre agrotóxicos, questionou-se sobre o tipo de exposição dos entrevistados (tempo de exposição, tipo de agrotóxico).

 

Coleta sanguínea e confecção de lâminas

Após a aplicação dos questionários foram coletadas gotas de sangue em lâminas - através de perfuração do dedo indicador por meio de lanceta. Assim, para cada indivíduo foram confeccionados quatro esfregaços sanguíneos, os quais foram deixados secar ao ar livre durante 24 horas e depois o material foi submerso em metanol por 15 minutos e em seguida corado com giemsa 30%.

 

Análise das lâminas

As lâminas foram avaliadas com auxílio de microscópio óptico em aumento de 1000x, através do teste cego, onde avaliou-se 4000 linfócitos por indivíduo e a parir da observação dos linfócitos, fez-se a contagem de quantos possuíam micronúcleos.

Para considerar-se um micronúcleo, utilizou-se os seguintes critérios (CARRARD et al, 2007):

1. Estrutura da cromatina similar e intensidade de cor semelhante ou mais fraca do que a do núcleo principal;

2. Borda evidente, sugerindo membrana nuclear;

3. Formato arredondado;

4. Localização intracitoplasmática;

5. Diâmetro menor do que 1/5 do núcleo principal.

 

4 Resultados e Discussão

Até o presente momento foram coletadas amostras de 10 indivíduos, sendo que 6 eram do sexo feminino e 3 do sexo masculino, com média de idade de 22 anos. Em relação ao estilo de vida, 80% dos participantes informaram beber socialmente (n=8) e 20% responderam que não consomem bebidas alcoólicas. Já quando questionados sobre a história ocupacional, 80% (n=8) responderam que não trabalham, porém estudam na UFFS, 10% (n=1) responderam que trabalham com exposição frequente a agentes químicos, e 10% (n=1) trabalham com venda de frutas, verduras e hortaliças convencionais (grupo exposto).

Dessas 10 pessoas, 90% (n=9) não possuem contato direto com agrotóxicos e 1 (10%) possui contato direto com agrotóxicos, mais de três vezes por semana, tendo exposição a herbicidas, fungicidas e inseticidas. Ao serem questionados sobre exposição a agentes químicos, uma pessoa pertencente ao grupo controle (10%) relatou que possui contato direto com agentes químicos de laboratório e as demais (90%) disseram não possuir contato com esses agentes químicos sendo que tal indivíduo será excluído do grupo controle, pois pode fornecer resultados falso-positivos.

Quanto a análise dos linfócitos, dos 4000 linfócitos avaliados, o número de micronúcleos e linfócitos binucleados são apresentados na tabela a seguir, sendo que esses indivíduos são do grupo controle:

Indivíduo

Linfócitos Binucleados

Micronúcleos

01

4

3

02

1

3

05

5

10

06

10

0

07

12

0

 

5 Conclusão

Os agrotóxicos são agentes relacionados com quebras cromossômicas, que são responsáveis pela formação de micronúcleos, os quais por sua vez, estão relacionados com o surgimento de doenças. Para verificar a genotoxicidade desses agentes, o teste mais utilizado é o teste do micronúcleo, o qual verifica a frequência de micronúcleos em células de indivíduos expostos a determinados agentes, como no caso deste estudo, os agrotóxicos e as alterações em linfócitos.

Assim, o presente projeto surge com a perspectiva de complementar dados já existentes sobre os efeitos da exposição a agrotóxicos, como o surgimento de micronúcleos e sua relação com o desenvolvimento de doenças. Porém, o número de indivíduos expostos coletados até o presente momento, ainda não é suficiente para apresentar resultados conclusivos quanto a diferenças entre o grupo exposto e não exposto.

Author Biographies

Diana Paula Perin, Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Realeza
Graduanda do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas;
Alifer Palhano, Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Realeza
Graduando do curso de Licenciatura em ciências biológicas.
Victor Augusto da Silva Carneiro, Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Realeza.
Graduando do curso de Licenciatura em ciências biológicas.
Luciana Borowski Pietricoski, Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Realeza
Formada em Ciências Biológicas Licenciatura Plena/Bacharelado pela Universidade de Passo Fundo (2003), e Mestre em Biologia Celular e Molecular pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2006). Atualmente é Professora da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus Realeza-PR.
Dalila Moter Benvegnú, Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Realeza
Possui graduação em Farmácia pela Unversidade Federal de Santa Maria e mestrado e doutorado em Farmacologia pela mesma instituição. Atualmente é professora adjunta III da Universidade Federal da Fronteira Sul, onde ministra aulas de bioquímica e farmacologia aos cursos de Nutrição e Ciências Biológicas. Além disso, ocupa o cargo de Coordenadora Adjunta de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Realeza. Dedica-se à área de pesquisa em toxicologia, neuropsicofarmacologia e bioquímica da nutrição.

References

ALMEIDA, L. L. de et al. Efeito protetor da melatonina sobre intoxicações por herbicidas. Pesq. Vet. Bras, [s.i], v. 6, n. 36, p.174-180, mar. 2016.

CARRARD, V. C. et al. Teste dos Micronúcleos: Um Biomarcador de Dano Genotóxico em Células Descamadas da Mucosa Bucal. Fac. Odontol., Porto Alegre, v. 28, n. 1/3, p.77-81, jan. 2007.

MATOZO, F.; 1 TUREK, J. A. & NOLETO, R. B. Avaliação dos efeitos genotóxicos do fungicida Ridomil em Astyanax altiparanae (Pisces, Characiformes). Luminária, União da Vitória (PR), v.17, n. 1, p. 121-131, jan/jun. 2015.

OLIVEIRA, M.R.R. Avaliação da mutagenicidade em trabalhadores rurais expostos a agrotóxicos no estado de Goiás. Resumos do II EPACITO. Ribeirão Preto, SP, v.2, n. 1, p. 56. 2012.

ZENKNER, F. F. et al. Avaliação genotoxicológica em peixes nativos do rio Pardinho, RS, Brasil. Caderno de pesquisa, Sér. Bio.Santa Cruz do Sul, [s.i], v. 23, n.1, p. 5-16, Jan/Abr. 2011.

Published
15-09-2017