AVALIAÇÃO DO POTENCIAL TOXICOLÓGICO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS UTILIZANDO O MICROCRUSTÁCEO DAPHNIA MAGNA

  • Andressa Balem Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Erechim
  • Mirian Cátia Zarpelon Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Erechim
  • Cristiane Funghetto Fuzinatto Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Erechim
Palavras-chave: metal mecânica, toxicidade aguda, toxicidade crônica, Daphnia magna

Resumo

As atividades industriais causam grandes impactos ambientais, principalmente pela natureza  dos processos produtivos, dos métodos de uso dos recursos naturais e descarte dos rejeitos  da  indústria  (PHILIPPI  JR.  et  al.,  2004).  Efluentes  industriais  são  considerados misturas complexas de compostos orgânicos e inorgânicos cuja determinação e quantificação de  todos  os  seus  produtos  e  sub-produtos  torna-se  impraticável  além  de  apresentar  elevado custo, tempo e profissionais e equipamentos devidamente habilitados. A  problemática  ambiental  envolvendo  o  lançamento  de  efluentes  industriais  nos corpos de água superficiais está devidamente regulamentada por Lei (CONAMA 430/2011) e dentre outras determinações estabelece os limites tolerados de determinados componentes a serem lançados nos corpos de água e ainda  indica  que estes efluentes não deverão apresentar toxicidade.  Desta  forma  a  utilização  de  organismos  aquáticos  como  uma  ferramenta  para avaliar  o  potencial  efeito  toxicológico  dos  efluentes  industriais  no  ambiente  aquático  surge como  uma  alternativa  promissora  e  de  grande  importância  para  entender  o  comportamento (sinergismo/antagonismo) dos diferentes componentes dos efluentes industriais.2 ObjetivoCaracterizar  através  da  realização  de  testes  físico-químicos  o  efluente  de  indústria  metalmecânica e determinar o potencial toxicológico do efluente para o microcrustáceo D. magna.3 Metodologia 3.1 Efluente metal-mecânicoAs  amostras  de  efluente  metal-mecânico  coletadas  para  esse  estudo  foram obtidas  após  a  etapa  de  gradeamento  para  as  amostras  brutas  e  na  etapa  de  lançamento  de efluente  tratado  para  a  rede  pública  para  as  amostras  tratadas,  medindo-se  nesses  locais  a temperatura em que se encontrava o efluente.  Para  determinar  algumas  características deste efluente  foram  realizadas  análises  físico-químicas  dos  parâmetros:  cor  aparente,  turbidez, oxigênio dissolvido, condutividade, pH, sólidos totais, cloretos, DBO, e DQO.3.2 Teste de Toxicidade com Daphnia magnaO  cultivo  do  microcrustáceo  D.  magna  foi  realizado  de  acordo  com  a  NBR  12.713 (ABNT, 2016).  Foram realizados testes de toxicidade aguda e crônica com o microcrustáceo Daphnia magna. Os testes agudos tiveram duração de 48 horas e os resultados destes testes expressaram a CE 50, 48h, ou seja, Concentração Efetiva que causa imobilidade a 50% da  população exposta após 48 horas de exposição.Os testes de toxicidade crônica com D.  magna  (NBR 13.373 ABNT, 2010) avaliaram os efeitos subletais do efluente para o organismo. Os testes tiveram duração de 21 dias e os parâmetros avaliados foram:  longevidade, reprodução e crescimento. Foi  possível  ainda  observar alterações morfológicas.  As diluições  para o teste crônico foram selecionadas a partir da CE50,48h. 4 Resultados e DiscussãoAs características e resultados obtidos nas análises das amostras do  efluente estudado estão apresentadas na Tabela1. Tabela  1.  Resultados dos testes físico-químicos para o efluente de indústria metal-mecânica. Os resultados dos testes agudos com  D. magna  para amostras de efluente  tratado de metal-mecânica estão apresentados na Tabela 2.   Tabela 2. Resultados do teste agudo para D. magna  utilizando amostra de efluente    tratado  de indústria metal-mecânicaOs valores de CE50,48h encontrados demonstram um alto grau de toxicidade em todas as  amostras  de  efluente  estudadas.  De  acordo  com  a  Resolução  CONSEMA  129/2006  que dispõe sobre a definição de critérios e de padrões de emissão para a toxicidade lançados em águas  superficiais  no  Estado  do  Rio  Grande  do  Sul,  os  efluentes  não  devem  apresentar nenhuma toxicidade aguda quando submetidos a ensaios de toxicidade para organismos-teste de pelo menos três diferentes níveis tróficos. Percebe-se, então,  a alta toxicidade do efluente metal-mecânico estudado e a  discordância com a legislação vigente.  Os resultados do teste de toxicidade crônica com D. magna são apresentados na Tabela 3.Tabela 3. Resultados dos parâmetros crescimento e longevidade para o teste crônico.* a média para esta concentração é significativamente menor que a média do controle considerando um p< 0.05 em um teste de Dunnett.O  efluente  proveniente  da  indústria  metal-mecânica  demonstrou  apresentar  efeitos de toxicidade crônica para a longevidade  de  D. magna  com efeitos até o FD 1024. Não foi possível  identificar  uma  diluição  onde  o  efluente  deixasse  de  causar  efeitos  para  a longevidade  deste  microorganismo.  Para  o  crescimento  não  foram  identificados  efeitos  de toxicidade  crônica.  O  parâmetro  reprodução  não  pode  ser  avaliado  devido  a  elevada mortalidade  verificada  no  teste  de  toxicidade  crônica.  Ainda  foram  verificadas  alterações morfológicas significativas no teste realizado devido ao  encurtamento do espinho apical  dos organismos.5 ConclusãoOs resultados encontrados neste estudo permitem concluir que:-  O  efluente  da  indústria  metal-mecânica  após  tratamento,  apresenta  melhoria  em  alguns parâmetros, porém ainda não atende na totalidade os requisitos para lançamento da legislação vigente.- O efluente de indústria metal-mecânica apresentou toxicidade aguda ao organismo D. magnaem  fator  de  diluição  muito  superior  aos  permitido  sna  legislação  estadual  CONSEMA 128/2006;-  O  teste crônico  indicou que o efluente  apresentou efeitos significativos  sobre a longevidade de D. magna.
Publicado
16-10-2017