GENOTOXICIDADE E CITOTOXICIDADE EM PEIXES SUBMETIDOS AO TRIFLUMURON UTILIZADO NAS CULTURAS NO RIO GRANDE DO SUL

  • Camilo Alexandre Jablonski Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Cerro Largo
  • Natan Kasper Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Cerro Largo
  • Fabrício Luiz Skupien Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Cerro Largo
  • Suzymeire Baroni Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Cerro Largo

Resumen

1 Introdução

A produção de alimentos teve seu processo acelerado a partir do desenvolvimento das plantas transgênicas por meio da biotecnologia, embora isso não tenha acabado com as intercorrências de plantas invasoras, insetos e fungos que causam prejuízos nas culturas.

O Brasil é o maior consumidor mundial de químicos, ultrapassando a marca de 1 milhão de toneladas, o que equivale a um consumo médio de 5,2 kg de agrotóxico ao ano por pessoa, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Dentre esses agrotóxicos se destaca o uso de inseticidas utilizados no controle de pragas agrícolas nas diversas etapas de produção.

O “Triflumuron” [1-(2-chlorobenzoyl)-3-(4-trifluoromenthoxyphenyl)urea], pertencente ao grupo das benzo-fenil-ureias (BPU’s) é classificado como um CSI (Inibidores da Síntese de Quitina) que tem sido amplamente utilizado pelos agricultores no controle da larva  Helicoverpa armigera na cultura de soja no Rio Grande do Sul. Ele tem classificação toxicológica de nível II e classificação quanto ao potencial de periculosidade ambiental de nível III, segundo a portaria normativa nº 84, de 15 de outubro de 1996, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), com base no decreto nº 98.816/90.

Esses defensivos interagem com organismos vivos e podem trazer danos ao material genético, sendo necessário o uso de testes para avaliar o potencial genotóxico dessas substâncias.

Para esse propósito foi usado o teste de micronúcleo (SCHMID, 1975), adaptado para peixes. O micronúcleo é resultado de substâncias que podem levar a clastogenicidade e aneugenicidade (HAYASHI et al., 1994 apud MATOZO et al., 2015). Nesse mesmo teste, pode-se também verificar a ocorrência de anormalidades nucleares, que são formas inadequadas em que os núcleos dos eritrócitos dos peixes podem estar configurados.

2 Objetivo

Avaliação do potencial genotóxico e citotóxico em peixes submetidos ao triflumuron utilizado nas diversas culturas no Rio Grande do Sul.

3 Metodologia

Neste trabalho foram utilizados peixes do gênero Astyanax sp., (lambari). Os peixes foram capturados em Guarani das Missões – RS, munícipio vizinho de Cerro Largo em açudes e riachos de uma propriedade rural e levados para o Laboratório de Genética da UFFS. Os peixes foram alocados em aquários para aclimatação, contendo 34 litros de água de torneira decantada. Para cada tratamento e controle foram usados seis peixes. Para uso de animais, essa proposta foi submetida ao Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA), da UFFS e aprovado com o protocolo nº 23205.000952/2017-89.

Para cada aquário de tratamento foram usadas diferentes concentrações de Triflumuron.  As concentrações foram: 0,30 mL/L (concentração de campo); 0,15 mL/L e 0,45 mL/L e um aquário para o controle sem o Triflumuron.

Após 96 horas os peixes foram anestesiados, com posterior corte da cauda para a coleta de sangue periférico por meio de capilares de vidro embebidos em NaEDTA. (anticoagulante) para confecção de esfregaços. Após secagem e fixação em metanol as lâminas foram coradas nesta sequência: submersas em HCl 5N por 15 minutos para a hidrólise, seguido com a lavagem das lâminas e secagem; submersas em Reativo de Schiff por duas horas para coloração do núcleo dos eritrócitos. Para a coloração do citoplasma foi usado o corante Fast-Green por 3 minutos.

Para a observação dos esfregaços foi usado Microscópio Óptico (M.O.) em aumento de 1000x. De cada peixe foram contabilizadas 2000 células, nas quais foram observados a existência de micronúcleos e anormalidade nucleares, de acordo com Rivero (2007).

Para análise de alterações no fígado foram confeccionadas lâminas permanentes com coloração Hematoxilina-Eosina (HE) e analisadas em M.O em aumento 1000X.

Os resultados foram submetidos ao teste não-paramétrico Kruskal-Wallis no software R, na interface RStudio, com nível de significância de 5% (p < 0,05).

4 Resultados e discussão

Para a análise foi comparado a ocorrência de micronúcleo (MN) entre o grupo controle com os tratamentos. Nenhum dos testes foi estatisticamente significativo (p > 0,05) já que não foram registrados a presença de micronúcleos nas 48.000 células contabilizadas. Contudo, o número de anormalidades nucleares (AN) foi diferente entre os grupos de tratamento e controle, sendo que o tratamento de 0,45 mL/L apresentou maior frequência de AN (figura 1). Para fim de registro, as AN foram classificadas em cinco tipos: “blebbed”, com evaginação leve do núcleo; “lobed”, com evaginação maior que a blebbed; “notched”, com um corte considerável do núcleo; binucleada, quando o eritrócito apresentou “dois núcleos” aparentes (RIVERO, 2007); e vacúolo, quando o núcleo apresentou uma cavidade dentro do limite nuclear.

Apesar de não ter sido registrada a presença de MN e o teste não ter sido significativo, não podemos afirmar que o triflumuron não cause efeitos citotóxicos e mutagênicos sobre os seres vivos não-alvo. O alto índice de AN sugere que houve alterações nos processos de divisão celular alterando o término da mitose.

Os fígados dos peixes submetidos aos tratamentos apresentaram alterações importantes como: núcleos posicionados lateralmente; regiões de degeneração de hepatócitos; citoplasma vacuolizado e hipertrofia nuclear (ROCHA et al., 2010), o que pode sugerir déficit nos eventos metabólicos devido a exposição ao triflumuron.

 

5 Conclusão

É de grande importância os estudos de genotoxicidade e citotoxicidade para avaliar possíveis danos aos organismos que não são alvo para os diferentes tipos de inseticida, tais como peixes, aves e plantas e o ser humano.  Pela falta de compreensão do mecanismo do triflumuron, é necessário que se façam mais testes e estudos a fim de determinar se o mesmo pode trazer malefícios para o ecossistema em que é aplicado.

Citas

E SILVA, A. da C.; NEPOMUCENO, J. C. Avaliação da frequência de micronúcleos em eritrócitos periféricos de mandi-amarelo (Pimelodus maculatus) do rio Paranaíba. Perquirere. Patos de Minas: UNIPAM, n. 7. vol. 1: 167-179, 2010. Disponível em: < http://perquirere.unipam.edu.br/documents/23456/36602/Avaliacao_da_frequencia_de_micronucleos_em_e_ritrocitos.pdf>. Acesso em: 04 ago. 2017.

MATOZO, F; TUREK, J. A; NOLETO, R. B. Avaliação dos efeitos genotóxicos do fungicida ridomil em Astyanax altiparanae (Pisces, Characiformes). Luminária. União da Vitória – PR. v. 17. N.01. P. 121-131, 2015. Disponível em: < http://periodicos.unespar.edu.br/index.php/luminaria/article/view/522>. Acesso em: 04 ago. 2017.

RIVERO, C. L. G. Perfil da frequência de micronúcleos e de danos no DNA de diferentes espécies de peixes do Lago Paranoá, Brasília-DF, Brasil. 113 f. Dissertação (Mestrado em Patologia Molecular) – Programa de Pós-Graduação em Patologia Molecular – Faculdade de Medicina, Universidade de Brasília, 2007. Disponível em: < http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/2626/1/2007_CarlaLeticiaGedielRivero.pdf>. Acesso em: 04 ago. 2017.

ROCHA, R. M. et al. Avaliação histopatológica do fígado de Brachyplatystoma rousseauxii (Castelnau, 1855) da baía do Guajará, Belém, Pará. Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v. 11, n.1, p.101-109, jan/mar, 2010. Disponível em: < https://www.revistas.ufg.br/vet/article/view/3028/6514>. Acesso em: 04 ago. 2017.

SCHMID, W. The micronucleus test. Amsterdã: Mutations Research, vol. 31, p. 9-15, 1975.

Publicado
05-09-2017