O TEMPO EM (DIS) CURSO: COMPREENSÕES ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE HOMEM E NATUREZA EM TEXTOS JORNALÍSTICOS

  • Patrícia Inês Agnes Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Cerro Largo
  • Ana Cecília Teixeira Gonçalves Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Cerro Largo
Palavras-chave: Signo ideológico, Sujeito, Alteridade.

Resumo

Introdução

O projeto teve como objetivo geral nos levar a entender como são construídas as relações entre homem e natureza, no que diz respeito à maneira como os sujeitos compreendem as variáveis meteorológicas vinculadas ao dinamismo das condições do tempo. Tratando, portanto, de entender quais são as visões que o homem constrói, em seus discursos, sobre o tempo, como chuva e calor em excesso, por exemplo, buscando problematizar uma permanente preocupação humana: da relação entre homem e natureza.

Essas são as principais questões que se desdobram a partir do objetivo deste trabalho. Elas são fundamentais para compreender o desenvolvimento do pensamento social sobre o tema proposto. Uma vez que os sujeitos oferecem respostas aos textos de outros, é fundamental identificar e entender os textos produzidos no jornal local acerca das visões socioideológicas de elementos da natureza, e também, a quais discursos esses textos respondem no que diz respeito a alterações no tempo devido a mudança em elementos meteorológicos (como excesso de chuva, de ventos, de calor, etc).

Objetivo

O estudo objetiva analisar discursos jornalísticos acerca das relações entre homem e natureza no que diz respeito a maneira como os sujeitos compreendem as variáveis metereológicas vinculadas ao dinamismo das condições do tempo.

Além disso, Aa pesquisa visa contribuir com os estudos linguísticos sobre análises discursivas fundamentadas nos estudos bakhtinianos, uma recente corrente teórica e metodológica que vem sendo mais intensamente realizada no Brasil na última década, assim como realizar estudo que, situado na Linguística, vem se realizando na parceria com as ciências ambientais, devido a questões climáticas envolvidas na pesquisa.

Metodologia

Para esta pesquisa, as materialidades para as análises foram retiradas de dois jornais populares da região das Missões: Gazeta e Folha da Produção. Foram analisadas as quatro primeiras edições do primeiro semestre de 2016 de ambos os jornais e selecionadas as reportagens que abarcavam o tema da relação do ser humano com a natureza. Cada reportagem foi desmembrada em trechos para uma análise mais detalhada. No âmbito de cada reportagem, selecionamos enunciados cujo conteúdo remetesse à problemática central deste estudo, ou seja, enunciados que abordassem assuntos ligados, especificamente, ao fenômeno do tempo.

A metodologia utilizada para a análise das referidas reportagens está baseada em Antunes (2010). A partir da autora, detemo-nos, principalmente, em pontos relacionados à análise do texto com foco em aspectos globais, com foco em aspectos da construção do sentido e com foco na adequação vocabular de um texto. Dessa forma, estamos agindo a partir da concepção de língua(gem) de Bakhtin, tomando os estudos desenvolvidos pelo Círculo de Bakhtin como fundamentação teórica e metodológica central, pois estamos analisando a língua em contexto, em vida, isto é, a palavra como um signo ideológico. Assim, a análise dar-se à de forma descendente, isto é, partiremos de aspectos gerais para aspectos pontuais de cada reportagem, levando em consideração aspectos extralinguísticos e linguísticos do texto.

Resultados e Discussões

O texto, a língua, o discurso fazem do ser humano um ser social e que age ativamente nesse meio. De todas as formas ele interfere na vida de outro ser humano e uma dessas interferências se concretiza na palavra, no texto e no discurso quando estes influenciam o modo de vida, o modo de pensar e o modo de agir do sujeito.

Compreendemos que a palavra nunca é neutra e sempre é influenciada por outra, um discurso sempre é alterado por outro (BAKHTIN, 2011). Esse fenômeno faz parte da vida do homem e não há como afastar-se ou escolher não fazer parte, pois ele simplesmente acontece. De acordo com as análises, a língua(gem)  assume um papel de condicionadora de opinião, afinal, como já sabemos, a língua não é neutra.  Ela é capaz de alterar o pensamento social de outro indivíduo por meio do discurso, modificando, assim, nesse caso, em específico, a concepção de tempo/ natureza que o sujeito possui.

 

Em muitas das reportagens analisadas, o ser humano apresenta a natureza de forma negativa, como destruidora daquilo que ele construiu e isso é perceptível pela seleção lexical apresentada no texto. O tempo (tomamos a chuva aqui, como exemplo, por ser o fenômeno mais recorrente) possui um papel devastador na vida deste homem que trabalha para sobreviver e que é sempre devastado pelo poder da natureza. Ela é apresentada de forma negativa sempre que esta traz danos ao homem, principalmente econômicos. O inverso somente ocorre quando ela beneficia economicamente o ser humano, principalmente no que se refere à produtividade agrícola.

Podemos verificar que a natureza é apresentada no discurso do homem, nas reportagens, de forma positiva somente quando o auxilia e permite o desenvolvimento de sua economia. Do contrário e na maior parte das vezes, ela é a “vilã” da vida do homem.

Conclusão

O ser humano vive em interação com o outro, sendo esse outro uma pessoa, uma ideia ou algum fenômeno e, para existir, esse outro somente precisa ser pensado. No caso do tempo, ele é pensado, analisado e criticado pelo homem, transformando e organizando sócio-economicamente a vida do ser humano.

Este trabalho objetivou, por meio da análise, trazer a percepção de como o discurso pode influenciar uma percepção ou opinião. Além disso, chama a atenção para a importância de tratar o estudo do tempo não somente como uma realidade física que não interfere na vivência do homem na Terra, mas sim como parte de processos e estruturas que remetem para questões sociais e econômicas de uma sociedade, visto que o tempo afeta diretamente o homem.

Palavras-chave: Signo ideológico; Sujeito; Alteridade.

Financiamento: PRO-ICT.

Referências

ANTUNES, Irandé. Análise de textos: fundamentos e práticas. - São Paulo: Parábola Editorial, 2010.

 

BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo Paulo Bezerra. - 6ª ed. - São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011.

Biografia do Autor

Patrícia Inês Agnes, Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Cerro Largo
Graduanda de do curso de Letras - Português e Espanhol Licenciatura da Universidade Federal da Fronteira Sul-Campus Cerro Largo/RS. . Bolsista PRO-ICT no projeto "O tempo em (dis)curso: compreensões acerca da relação entre homem e natureza em textos jornalísticos", submetido ao edital nº385/UFFS/2016.

Referências

ANTUNES, Irandé. Análise de textos: fundamentos e práticas. - São Paulo: Parábola Editorial, 2010.

BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo Paulo Bezerra. - 6ª ed. - São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011.

Publicado
18-08-2017