DESEMPENHO AGRONÔMICO E INCIDÊNCIA DE DOENÇAS EM CULTIVARES DE SOJA PROVENIENTES DE SEMENTES SALVAS E BENEFICIADAS

  • Eduardo Silvestrini Tonello Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Erechim
  • Deivid Sacon Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Erechim
  • Aline Netto Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Erechim
  • Paola Milanesi Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Erechim

Resumen

 

DESEMPENHO AGRONÔMICO E INCIDÊNCIA DE DOENÇAS EM CULTIVARES DE SOJA PROVENIENTES DE SEMENTES SALVAS E BENEFICIADAS

 

EDUARDO SILVESTRINI TONELLO1,2*, DEIVID SACON1,2, ALINE NETTO 1,2, PAOLA MENDES MILANESI1,2

1Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Erechim; 2Grupo de Estudos e Pesquisas em Manejo Sustentável dos Sistemas Agrícolas do Exercício da Universidade Federal da Fronteira Sul;

*Autor para correspondência: Eduardo Silvestrini Tonello (eduardotonello@hotmail.com)

1 Introdução

O uso de sementes de alto vigor no momento da semeadura proporciona acréscimos entre 20 e 35% no rendimento de grãos em relação ao uso de sementes de baixo vigor. Além disso, sementes vigorosas asseguram o adequado estabelecimento da lavoura (KOLCHINSKI et al., 2005).

Visando a obtenção de altas produtividades, a utilização de sementes certificadas, avaliadas nos campos de produção e dentro das normas exigidas, contribui para o incremento produtivo. Porém, a utilização de sementes de soja certificadas é baixa, sendo crescente o uso de sementes próprias (salvas) (MENTEN, et al., 2005).

Entre as doenças de parte aérea, as de final de ciclo são transmitidas pelas sementes e sua ocorrência pode variar de safra a safra ou de região a região, sendo que a maior ou menor severidade dessas doenças depende das condições climáticas existentes, da cultivar utilizada e da presença de inóculo do patógeno (ITO, 2013).

 

2 Objetivo

Avaliar a incidência de doenças em plantas de soja, cvs. NS 5445 IPRO e BMX Ativa RR, de procedências salva e certificada, assim como a produtividade e componentes de rendimento das plantas provenientes dessas sementes, associadas ou não a aplicação de fungicidas.

3 Metodologia

A pesquisa foi conduzida no Laboratório de Entomologia e Fitopatologia e na Área Experimental, ambos localizados na Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Erechim, no ano agrícola 2016/17. As cultivares de soja avaliadas foram: NS 5445 IPRO e BMX Ativa, cujas sementes eram de procedência salva e certificada.

O experimento foi instalado a campo no delineamento inteiramente casualizado (DIC), em esquema fatorial 2 x 2 x 2 (cultivar; procedência; com e sem aplicação fungicida) e contaram com quatro repetições. As variáveis analisadas foram: incidência de doenças fúngicas foliares, número de grãos por planta e produtividade de grãos.

Para determinação da massa de mil grãos, seguiram-se as metodologias preconizadas pela Regra para Análises de Sementes – RAS (BRASIL, 2009). O número de grãos por planta foi determinado a partir de uma amostra representativa de seis plantas colhidas aleatoriamente na área útil (4m2) de cada parcela. A trilha das amostras foi realizada com uma trilhadora estacionária de parcelas e, após, efetuou-se as avaliações de produtividade (kg ha-1) referentes a cada tratamento.

A incidência de doenças foi determinada, antes de cada aplicação de fungicida em que realizou-se a coleta de 10 amostras foliares (trifólios) no terço médio de cada uma das 32 parcelas. Posteriormente, em laboratório, as amostras foram avaliadas quanto à presença de doenças e, em caso afirmativo, procedeu-se a diagnose, com o auxílio de microscópio estereoscópico e óptico e consulta de bibliografias especializadas em doenças da soja.

Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste F (p ≤ 0,05) e, se significativos, foram submetidos à comparação de médias pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05). Todas as análises foram realizadas através do software estatístico ASSISTAT versão 7.7.

 

4 Resultados e Discussão

A produtividade não apresentou diferença significativa para a cultivar NS 5445 em ambas as procedências (salva e certificada), com e sem aplicação de fungicidas (Tabela 1). A cultivar BMX Ativa, cujas sementes eram certificadas, apresentou redução de 947 kg em relação às mesmas parcelas com o tratamento fungicida.

Tabela 1. Produtividade média, peso de mil grãos, número de grãos por planta das cultivares NS 5445 IPRO e BMX Ativa, com procedência salvas e certificadas, associadas ou não a fungicidas.

Cultivar

Procedência

Fungicida

Com

Sem

Com

Sem

Com

Sem

 

Produtividade média (kg/ha)

Peso de mil grãos (g)

Número de grãos por planta

NS 5445 IPRO

Certificada

4103,0 aA*

3582,5 aA

177,8 aA

157,1 aB

120,4 bcA

111,4 bcA

Salva

3987,2 aA

3447,2 aA

183,4 aA

168,0 aB

107,1 cA

98,5 cA

BMX

Ativa

Certificada

4247,8 aA

3300,8 aB

179,6 aA

152,2 aB

177,1 aA

139,4 aB

Salva

3704,0 aA

3254,6 aA

177,2 aA

154,6 aB

135,1 bA

122,3 bB

C.V.(%)

17,0

5,2

6,4

 

*Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem entre si para cada variável avaliada pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05).

Quando realizada a aplicação de fungicida, observou-se incremento no peso de mil grãos em NS 5445 certificada (20,7 g) e salva (15,4 g); e BMX Ativa certificada (27,4 g) e salva (22,6 g), em relação às parcelas sem tratamento com fungicidas (Tabela 1).

Para o número de grãos por planta, independentemente da aplicação ou não de fungicidas, a cv. BMX Ativa com procedência certificada obteve maior número de grãos, sendo 177,1 e 139,4 grãos com e sem a aplicação de fungicidas, respectivamente (Tabela 1).

A incidência da ferrugem asiática foi verificada somente aos 74 dias após emergência (DAE), o que pode ser devido a condições meteorológicas desfavoráveis para o patógeno, no início do ciclo da cultura. Ademais, a decorrência de um inverno com temperaturas severas, acarretou na eliminação de plantas hospedeiras, como a soja guaxa.

A cultivar BMX Ativa apresentou maior sensibilidade à Phakopsora pachyrhizi alcançando uma incidência 5,3% superior a cv. NS 5445 IPRO (Tabela 2). No tratamento com fungicidas, a incidência de ferrugem asiática aos 92 DAE restringiu-se ao percentual de 34,1%, porém, nas parcelas sem a aplicação de fungicidas, observou-se uma incidência 60,9% superior.

Tabela 2. Incidência de ferrugem asiática, septoriose e cercosporiose em soja, cvs. NS 5445 IPRO e BMX Ativa, de procedências salva e certificada, associadas ou não a aplicação de fungicidas.

Fatores

Ferrugem asiática

Septoriose

Cercosporiose

74 DAE

92 DAE

74 DAE

92 DAE

74 DAE

92 DAE

-----------------------------------------------%----------------------------------------------------

NS 5445

37,7 b*

61,9 b

55,0 a

56,9 a

32,3 a

51,1 b

BMX Ativa

45,0 a

67,2 a

56,6 a

58,1 a

33,1 a

56,8 a

Certificada

40,0 a

62,8 a

56,9 a

52,9 b

24,6 b

50,1 b

Salva

42,7 a

66,2 a

54,7 a

62,2 a

33,4 a

57,8 a

C/Apl. Fun.

0,0 b

34,1 b

46,9 b

42,2 b

27,5 b

50,3 b

S/Apl. Fun.

82,7 a

95,0 a

64,7 a

72,8 a

38,0 a

57,3 a

C.V. (%)

14,7

9,5

17,3

16,3

14,8

11,8

*Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem entre si para cada variável avaliada pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05).

 

Constatou-se também alta incidência de septoriose nas parcelas sem aplicação de fungicidas, sendo que, aos 92 DAE, a aplicação de fungicidas reduziu a incidência em 30,6%. A incidência dessa doença não diferiu quanto a variável cultivar, contudo, quanto à procedência, observou-se uma incidência 9,3% superior nas sementes de procedência ‘salva’ (Tabela 2).

Nas parcelas sem aplicação de fungicidas, com sementes de procedência ‘salva’ e para a cv. BMX Ativa houve maior incidência de cercosporiose, com 57,3%, 57,8% e 56,8%, respectivamente (Tabela 2).

5 Conclusão

  1. Sementes certificadas e a aplicação de fungicidas atingem maiores produtividades nesse estudo.
  2. Peso de mil grãos é maior para ambas as cultivares e procedências quando associado à aplicação de fungicidas.
  3. O número de grãos por planta é maior para a cultivar BMX Ativa com procedência certificada e que receberam aplicação de fungicidas.
  4. A procedência das sementes, não é determinante para a incidência de ferrugem asiática, mas para doenças de final de ciclo, como septoriose e cercosporiose é um fator importante.

 

Referências

ITO, Margarida Fumiko. PRINCIPAIS DOENÇAS DA CULTURA DA SOJA E MANEJO INTEGRADO. Nucleus, v. 10, n. 3, 2013.

KOLCHINSKI, E.M.; SCHUCH, L.O.B.; PESKE, S.T. Vigor de sementes e competição intra-específica em soja. Ciência Rural, v.35, n.6, p.1248-1256. 2005.

MENTEN, J.O.M.; MORAES, M.H.D. Tratamento de sementes: histórico, tipos, características e benefícios. Informativo ABRATES, Londrina, v. 20, n. 3, p. 52-53, 2010.

BRASIL. Regras para Análise de Sementes. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasília, p. 147. 2009.

 

Palavras-chave: Glycine max; qualidade de sementes; safras; patógenos; produtividade.

Fonte de Financiamento: 315/UFFS/2016 - BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA - PROBIC/FAPERGS - 2016/2017.

 

 

 

Citas

ITO, Margarida Fumiko. PRINCIPAIS DOENÇAS DA CULTURA DA SOJA E MANEJO INTEGRADO. Nucleus, v. 10, n. 3, 2013.

KOLCHINSKI, E.M.; SCHUCH, L.O.B.; PESKE, S.T. Vigor de sementes e competição intra-específica em soja. Ciência Rural, v.35, n.6, p.1248-1256. 2005.

MENTEN, J.O.M.; MORAES, M.H.D. Tratamento de sementes: histórico, tipos, características e benefícios. Informativo ABRATES, Londrina, v. 20, n. 3, p. 52-53, 2010.

BRASIL. Regras para Análise de Sementes. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasília, p. 147. 2009.

Publicado
22-08-2017