ESTUDO QUALI-QUANTITATIVO DAS PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS PELA POPULAÇÃO RURAL DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO DAS MISSÕES, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

  • Nestor Bremm Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Cerro Largo
  • Neiva Bremm Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Cerro Largo
  • Carla Maria Garlet de Pelegrin Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Cerro Largo

Abstract

1 Introdução

A utilização de plantas para a recuperação da saúde tem evoluído ao longo dos tempos, desde as formas mais simples de tratamento local até as formas tecnologicamente sofisticadas, de fabricação industrial (LORENZI; MATOS, 2008). A Organização Mundial de Saúde considera fundamental que se realizem investigações acerca das plantas utilizadas para fins medicinais e seus princípios ativos. Para atender a estas recomendações, é essencial o conhecimento sobre as plantas medicinais de cada região, possibilitando se descobrir plantas que possam efetivamente proporcionar a cura e/ou a manutenção de nossa saúde. Complementando os estudos etnobotânicos clássicos, estão os estudos quantitativos, que podem ser utilizados com vários objetivos, tais como avaliar a importância das plantas para um determinado grupo étnico e a importância de diferentes tipos de plantas para uma comunidade, além de estabelecer e comparar a importância relativa das espécies e famílias de plantas medicinais (PHILLIPS; GENTRY, 1993).

2 Objetivo

Realizar o levantamento quali-quantitativo de plantas medicinais utilizadas pela população rural de São Paulo das Missões, RS.

3 Metodologia

O município de São Paulo das Missões está localizado no noroeste do Rio Grande do Sul, pertencendo a região das Missões. O levantamento de dados foi realizado por meio de entrevistas semiestruturadas e pela identificação das amostras vegetais coletadas no momento da entrevista.

Os participantes foram indicados pelos agentes comunitários de saúde e extensionistas da Emater/Ascar do município. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFFS sob número de CAAE: 58333316.0.0000.5564.

As amostras vegetais foram fotografadas, coletadas e identificadas até o nível de espécie, quando possível, através de consulta a material especializado (chaves de identificação, material de herbários, consulta a especialistas). Posteriormente, foram confeccionadas exsicatas para inclusão no Herbário da UFFS/campus Cerro Largo. Para a análise quantitativa, foi calculado o Valor de Uso da Espécie (UVs) (PHILLIPS; GENTRY, 1993).

4 Resultados e discussão

Foram realizadas 70 entrevistas, com coleta de 820 amostras vegetais, sendo destas 800 identificadas até o nível de espécie, representando 183 espécies, pertencentes a 59 famílias. As espécies mais citadas foram Cymbopogon citratus (DC.) (Cidreira) Stapf e o Origanum majorana L. (manjerona), com 27 e 26 citações, respectivamente. Já na análise do UVs, as mesmas duas espécies apresentaram os mais elevados valores, 0,73 e 0,70, respectivamente. Analisando-se o UVs verifica-se que o C. citratus teve maior importância para a população de São Paulo das Missões, pois esta variável leva em consideração o número de usos indicados pelos participantes. Segundo Vendrusculo e Mentz (2006), quanto mais usos citados para uma espécie de plantas medicinais, mais importante ela será para a comunidade, ou seja, a importância das plantas medicinais está relacionada com o uso mencionado pelos informantes.

Na análise das famílias mais ricas (Gráfico 1), destaca-se Asteraceae e Lamiaceae (26 espécies). A predominância dessas famílias também é relatada em outros levantamentos etnobotânicos realizados tanto no Rio Grande do Sul quanto em outros Estados do Brasil. Estas famílias possuem várias espécies com propriedades medicinais em virtude da presença de diversos metabólicos secundários.

Sobre as partes das plantas mais utilizadas, verificou-se a predominância da utilização das folhas em 84 das espécies citadas. As folhas são  de fácil coleta e muitas vezes, estão disponíveis na maior parte do ano. Além disso, a folha, geralmente é o órgão da planta com maior quantidade armazenada do metabólito de interesse (LÖBLER et al., 2014).

 

Gráfico 1 – Riqueza de famílias no levantamento etnobotânico em São Paulo das Missões, Rio Grande do Sul, Brasil, 2017.

 

No que se refere a forma de preparo, houve a predominância do uso do método de infusão (60,13%), este método muitas vezes não é muito adequado, pois de acordo com Silva et al. (2011), neste tipo de preparo ocorre a degradação de compostos voláteis e princípios ativos, pela ação conjunta da água e do calor prolongado.

Sobre obtenção das plantas medicinais, 92,90% das espécies são cultivadas em hortas ou áreas próximas às residências,  apenas uma pequena parcela é coletada em áreas de matas (2,73%). Referente a forma de aquisição do conhecimento sobre as plantas medicinais, 54,64% das espécies foram indicadas por membros da família, o que demonstra a importância da preservação e transmissão do conhecimento popular, passado de geração em geração.

5 Conclusão

Tendo em vista o grande número de espécies vegetais utilizadas como medicinais, os resultados obtidos no presente estudo demonstram a importância do uso das plantas medicinais, como recurso terapêutico para a população rural do município, tanto na prevenção quanto para a cura de doenças. Destaca-se ainda, que a associação entre os saberes científicos e tradicionais de uma região se faz necessária para que seja feita uma promoção de uso adequado e racional das plantas medicinais.

 

Referências

LÖBLER, L. et al. Levantamento etnobotânico de plantas medicinais no bairro Três de Outubro da cidade de São Gabriel, RS, Brasil. Revista Brasileira de Biociências, v. 12, n.2, p. 81-89,. 2014.

 

LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 554p. 2008.

 

PHILLIPS, G.; GENTRY, A. H. The useful plants of Tambopata, Peru: I. Statistical hypotheses tets with a new  quantitative technique. Economic Botany, v. 47, n.1, p. 15-32, 1993.

 

VENDRUSCOLO, G. S.; MENTZ, L. A. Estudo da concordância das citações de uso e importância das espécies e famílias utilizadas como medicinais pela comunidade do bairro Ponta Grossa, Porto Alegre, RS, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 20, n. 2, p. 367-382, 2006.

 

SILVA, F. DA. et al. Folhas de chá: remédios caseiros e comercialização de plantas medicinais, aromáticas e condimentares. Viçosa: UFV, 140p. 2011.

 

 

 

References

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SILVA, F. DA. et al. Folhas de chá: remédios caseiros e comercialização de plantas medicinais, aromáticas e condimentares. Viçosa: UFV, 140p. 2011.

Published
11-09-2017