DINÂMICA POPULACIONAL E ESTRUTURA DA COMUNIDADE DE PEQUENOS MAMÍFEROS EM FRAGMENTOS FLORESTAIS NO SUL DA MATA ATLÂNTICA BRASILEIRA

  • Aline Kolling Universidade Federal da Fronteira Sul Cerro Largo
  • Fabrício Luiz Skupien Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Jady de Oliveira Sausen Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Daniela Oliveira de Lima Universidade Federal da Fronteira Sul

Resumen

1 Introdução

A floresta Mata Atlântica é um dos biomas com maior diversidade e mais ameaçados do mundo, estima-se que menos de 12% da área original ainda persista dividida em fragmentos, sendo que mais de 80% deles possuam menos de 50 ha e distância média de 1440 m (RIBEIRO et al., 2009), podendo afetar direta ou indiretamente a fauna local.  Nesse cenário, é esperado que nem todas as espécies sejam capazes de sobreviver, mesmo aquelas que ainda persistem nos pequenos fragmentos, como por exemplo, os pequenos mamíferos não-voadores. Esses contemplam as espécies de mamíferos com menos de 2 kg representados por pequenos roedores, principalmente das famílias Cricetidae, Echimydae e marsupiais da família Didelphidae (ROSSI, 2011) e formam o grupo mais diversificado entre os mamíferos.

O conhecimento sobre os pequenos mamíferos no Rio Grande do Sul ainda é bastante precário, acredita-se que o número de espécies seja consideravelmente maior do que o conhecido atualmente, uma vez que o número de levantamento de espécies é muito baixo e não há clareza sobre quantas e quais espécies ocorrem dentro dos limites do estado (CHRISTOFF, 2003).

2 Objetivo

Esse trabalho teve como objetivo geral investigar padrões centrais na dinâmica populacional e a estrutura da comunidade de pequenos mamíferos não voadores.

 

3 Metodologia

O estudo foi realizado em dois fragmentos de mata no município de Cerro Largo no noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Para a realização das capturas foram utilizadas 20 armadilhas do modelo Sherman e 20 do modelo Tomahawk. Os pontos de amostragem estavam distantes 20m um do outro. Em cada ponto de amostragem foram dispostas duas armadilhas, Sherman ou Tomahawk, uma no solo e outra no sub-bosque, à aproximadamente 1,5m do solo. Foram realizadas sete amostragens em cada fragmento, nas estações: outono, inverno e primavera de 2015, verão, outono, inverno e primavera de 2016. Durante cada amostragem, as armadilhas permaneceram no campo ao longo de 10 noites.

 

As iscas utilizadas para captura foram compostas de produtos de origem animal e vegetal e foram trocadas todos os dias, objetivando aumentar sua atratividade. Os indivíduos capturados foram marcados, medidos, pesados, definido o sexo e condição reprodutiva, além de terem um pedaço de orelha cortada na primeira captura para análise molecular.

 

4 Resultados e Discussão

Com um esforço amostral de 5.320 armadilhas-noite, 198 indivíduos de seis espécies foram registrados em 405 capturas, sendo cinco roedores e uma espécie de marsupial, correspondendo à um sucesso amostral de 7,61%.  A espécie mais abundante foi Akodon montensis (221 capturas de 103 indivíduos), seguido por Oligoryzomys flavescens (88 capturas de 51 indivíduos), Oryzomys sp. (52 capturas de 22 indivíduos), Didelphis albiventris (43 capturas de 20 indivíduos), um indivíduo de uma espécie não identificada e um indivíduo da espécie exótica Rattus rattus. A. montensis e O.  flavescens apresentaram maior taxa de captura nas estações de inverno e primavera, Oryzomys sp apresentou número constante de indivíduos capturados durante todas as amostragens e D. albiventris apresentou um baixo número de indivíduos capturados em quase todas as estações amostradas. Indivíduos reprodutivos de A. montensis foram encontrados, principalmente, durante o outono, inverno e primavera, os de O. flavescens durante o inverno, primavera e outono, de Oryzomys sp., no inverno, primavera e outono e os de D. albventris na primavera e outono.

A comunidade de pequenos mamíferos analisada apresentou baixa riqueza, retratando o estado de degradação das áreas amostradas. Devem ser considerados fatores regionais e históricos, como o tipo de vegetação, o tipo de matriz do habitat e a duração do isolamento dos fragmentos como fatores determinantes na composição das comunidades (PASSAMANI & FERNANDEZ, 2011). Outro fator que contribui para demonstrar o alto grau de perturbação dos fragmentos amostrados é a composição de espécies. Não foi capturada nenhuma espécie ameaçada ou rara, sendo que todas as espécies registradas podem ser consideradas generalistas e bem adaptadas a ambientes antropizados.

5 Conclusão

Os resultados do presente estudo mostram que a riqueza de espécies de pequenos mamíferos foi pequena (seis espécies) e fortemente dominada por uma espécie de roedor (A. montensis). Esta baixa riqueza sugere que a área de estudo está altamente antropizada. A fragmentação e degradação dos ambientes naturais, gerados pela expansão agrícola e urbana tem influência significativa na perda de espécies e consequente empobrecimento da comunidade de pequenos mamíferos.

Palavras-chave: Diversidade; Fauna Local; Levantamento de Espécies.

Fonte de Financiamento

PROBIC/FAPERGS

 

Referências

CHRISTOFF, A.U. 2003. Roedores e Lagomorfos. Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção do Rio Grande do Sul. P. 567-571. Ed. EDIPUCRS. Porto Alegre.

PASSAMANI, M., FERNANDEZ, F.A.S. 2011. Abundance and richness of small mammals in fragmented Atlantic Forest of southeastern Brazil. Journal of Natural History, v. 45, p. 553-565.

RIBEIRO, M.C., METZGER, J.P., MARTENSEN, A.C., PONZONI, F.J. & HIROTA, M.M. 2009. The Brazilian Atlantic Forest: How much is left, and how is the remaining forest distributed? Implications for conservation. Biological conservation, 142(6), 1141-1153.

ROSSI, N.F. 2011. Pequenos mamíferos não-voadores do Planalto Atlântico de São Paulo: Identificação, história natural e ameaças. Vol.1.400 f. Dissertação (Instituto de Biociências) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.

Publicado
05-09-2017