RENDIMENTO CORPORAL E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DE FILÉS DE PEIXES CRIADOS EM SISTEMA DE POLICULTIVO DE BASE AGROECOLÓGICA

  • Dara Cristina Pires Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Laranjeiras do Sul
  • Igor Moisés Andrade Gonçalves Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Laranjeiras do Sul
  • Thiago Gabriel Luczinski Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Laranjeiras do Sul
  • Marcos Weingartner Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Laranjeiras do Sul
  • Betina Muelbert Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Laranjeiras do Sul
  • Maude Regina de Borba Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Laranjeiras do Sul

Resumen

1 Introdução

O mercado de alimentos orgânicos encontra-se em plena expansão no Brasil e exterior, sendo de grande importância principalmente para os agricultores familiares (BOSCOLO et al., 2012). Neste sentido, a piscicultura em sistema de produção agroecológica pode contribuir de maneira expressiva na segurança alimentar e na diversificação das fontes de renda na agricultura familiar e camponesa. O policultivo, recomendado nesta modalidade de produção aquícola, é considerado uma das formas mais simples e eficientes de conduzir a criação de peixes. Tem como premissa a utilização de várias espécies numa mesma unidade de cultivo, com hábitos alimentares diferentes ocupando diversos espaços na coluna d’água, de forma a utilizar todas as fontes de alimento naturais disponíveis.

Em aquicultura, o gasto com a ração utilizada na alimentação pode representar até 70% do custo total de produção. Além do aspecto econômico, a dieta é importante também do ponto de vista produtivo e ambiental, podendo influenciar diretamente o desempenho zootécnico, características nutricionais e de rendimento do pescado, bem como as excretas geradas. Tendo em vista não existir no mercado nacional nenhuma ração orgânica comercial para peixes (MUELBERT et al., 2014), uma alternativa pode ser a utilização de parte da produção agrícola orgânica da propriedade no preparo de rações destinadas para a piscicultura, otimizando e diversificando a agricultura familiar (BORBA et al., 2014).

Estudos sobre a composição e rendimento corporal de peixes cultivados, principalmente tratando-se de espécies novas entre as tradicionalmente criadas em cativeiro, têm grande importância sob o ponto de vista econômico e de produção. Mediante essas informações, tornam-se possíveis estimativas para obtenção de indicadores que permitam a avaliação da eficiência do processo produtivo tanto para o piscicultor quanto para a indústria de processamento (CARNEIRO et al., 2004). Serão aqui apresentados os resultados parciais do estudo que se encontra em andamento, aprovado no Edital Nº852/UFFS/2016–PIBIS/FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA.

 

2 Objetivo

Analisar o rendimento de filés de peixes cultivados em sistema de policultivo de base agroecológica, alimentados com dieta artesanal orgânica ou comercial convencional.

 

3 Metodologia

O presente estudo foi realizado nas instalações do Laboratório de Nutrição de organismos aquáticos da Universidade Federal da Fronteira Sul campus Laranjeiras do Sul-PR. Avaliou-se o rendimento de filé de 168 exemplares de sete diferentes espécies de peixe de água doce: jundiá (Rhamdia sp.), carpa comum (Cyprinus carpio), cascudo (Pterygoplichthys joselimaianus), curimba (Prochilodus lineatus), carpa prateada (Hypophthalmichtys molitrix), carpa cabeça grande (Hypophthalmichtys nobilis) e carpa capim (Ctenopharingodon idella), coletados aleatoriamente ao final de 12 meses de cultivo em sistema de policultivo de base agroecológica. Ao longo do período de cutivo (1,5 pxs/m2), os peixes foram submetidos a dois tratamentos alimentares, ração artesanal orgânica peletizada ou ração convencional extrusada, em quadriplicata. Para cada espécie foram obtidos o peso do peixe inteiro e peso do filé (FIGURA 1). A partir do peixe inteiro eviscerado, foi retirada a cabeça, nadadeiras e pele para obtenção do filé pelo corte iniciando na região dorsal, lateralmente a nadadeira, desde a região craniana até a extremidade caudal (CARNEIRO et al., 2004). A partir do peso inicial do peixe inteiro e dos cortes realizados foi obtido o rendimento de filé (RFILE %). A variável rendimento de filé foi analisada estatisticamente via Teste t de Student. As pressuposições de distribuição normal e de homogeneidade de variâncias foram checadas antes das análises. Foi adotado nível de significância de 5% em todos os testes estatísticos aplicados.

4 Resultados e Discussão

O RFILE das espécies estudadas não foi influenciado (P>0,05) pelo tipo de ração fornecida (TABELA 1). Os percentuais obtidos de RFILE para o jundiá (~34%) estão de acordo com a literatura e até mesmo um pouco superiores ao verificado por Losekann et al. (2008), que obteve para o jundiá R. quelen RFILE entre 32 e 33%.

Para o curimba foram obtidos os resultados de RFILE mais altos do presente estudo, que variaram entre 41,06±3,61% e 42,7±1,11%, respectivamente, nos tratamentos ração orgânica e comercial, não diferindo entre si (P>0,05). As espécies nativas, em geral, apresentam maior rendimento de filé em comparação à principal espécie de peixe exótico comercializado atualmente no país, a tilápia-do-Nilo, Oreochromis niloticus, cujo RFILE está em torno de 34% (SILVA et al., 2009).

 

5 Conclusão

O uso de ração orgânica peletizada ou convencional extrusada não influenciou o rendimento de filé das sete espécies produzidas em sistema de policultivo de base agroecológica.

 

Figura 1. Sequência das etapas de processamento dos peixes. 01 pesagem do peixe inteiro; 02 abertura ventral para retirada das vísceras; 03 peixe inteiro eviscerado; 04 peixe eviscerado sem cabeça e sem nadadeiras; 05 retirada do filé; 06 e 07 retirada da pele; 08 peso do filé.

 

Tabela 1. Rendimento de filé (RFILE) das sete espécies de peixe criadas por 12 meses em sistema de policultivo, alimentadas com ração orgânica ou comercial1.

Tratamento

Espécie

RFILE (%)

 

Ração orgânica

Jundiá

34,76±1,56

C. comum

39,58±0,84

C. capim

39,71±1,64

C. cabeçuda

33,90±2,51

C. prateada

35,82±1,32

Curimba

42,70±1,11

Cascudo

31,80±2,08

 

 

 

 

Ração comercial

 

 

 

 

 

Jundiá

33,75±2,10

C. comum

38,53±1,94

C. capim

37,78±2,17

C. cabeçuda

30,92±1,65

C. prateada

34,11±1,95

Curimba

41,06±3,61

Cascudo

26,72±9,82

1Média±desvio padrão de amostras de três peixes de cada repetição (n=12). Para cada espécie, não foi verificada diferença significativa entre os tratamentos alimentares (P>0,05).

Citas

Referências

BORBA, M.R.; MUELBERT, B.; WEINGARTNER, M.; PARRA, J.E.; BELETTINI, F.; MELO, N.; MUZZOLON, A. Piscicultura Familiar: Desempenho de juvenis de jundiá Rhamdia sp. alimentados com rações comercial convencional e orgânica artesanal. Cadernos de Agroecologia, v. 4, 2014.

BOSCOLO, W.R.; FEIDEN, A.; NEU, D.H.; Sistema orgânico de produção de pescado de água doce. Rev. Bras. Saúde Prod. Anim., Salvador, v.13, n.2, p. 578-590 abr./jun., 2012.

CARNEIRO, P.C.F.; MIKOS, J.D.; BENDHACK, F.; IGNÁCIO, S.A. Processamento de Jundiá Rhamdia quelen: rendimento de carcaça. Revista Acadêmica: ciências agrarias e ambientais, Curitiba, v.2 n.3, p. 11-17, jul./set. 2004.

LOSEKANN, M.E.; RADÜNZ NETO, J.; EMANUELLI, T.; PEDRON, F.A.; LAZZARI, R.; BERGAMIN, G.T.; CORRÊIA, V.; SIMÕES, R.S. Alimentação do jundiá com dietas contendo óleos de arroz, canola ou soja. Ciência Rural, v.38, n.1, p.225-230, jan-fev, 2008.

MUELBERT, B.; BORBA, M. R.; NUNES, J. S.; REMOR, E.; AMORIN, D. G. Situação e análise das normas brasileiras de certificação orgânica para a criação de peixes. Cadernos de Agroecologia, v.4, 2014.

SILVA, F.V.; SARMENTO, N.L.A.F.; VIEIRA, J.S.V.; TESSIOTORE, A.J.A.; OLIVEIRA, L.L.S.; SARAIVA, E.P. Características morfométricas, rendimentos de carcaça, filé, vísceras e resíduos em tilápias-do-nilo em diferentes faixas de peso. R. Bras. Zootec., v.38, n.8, p.1407-1412, 2009.

Publicado
07-08-2017