PAPEL DE UMA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO SUBTROPICAL (RIO URUGUAI, BRASIL) COMO ÁREA DE DESOVA E CRESCIMENTO DE PEIXES

  • Jaíne Cristiane Wentroba Universidade Federal da Fronteira Sul - campus Cerro Largo
  • David Augusto Reynalte-Tataje

Abstract

1 Introdução

Assim como acontece com a maioria das bacias hidrográficas do Brasil, a maior parte dos dados referentes à recursos pesqueiros do rio Uruguai é originária de avaliações ambientais relacionadas a empreendimentos hidrelétricos. Assim, são poucos os estudos que são realizados avaliando a comunidade íctica de trechos de rio com hidrodinâmica preservada, tais como os encontrados na Unidade de Conservação (UC) do Parque do Turvo (Alto Uruguai, RS).

Em relação á ictiologia, os estudos de ovos e larvas são relevantes para o conhecimento global da biologia e sistemáticas das espécies de peixes, particularmente em seus aspectos relacionados á variação ontogênica na morfologia, crescimento, alimentação, comportamento e mortalidade (HEMPEL, 1973). O fato de as larvas, além de representarem fases críticas ao sucesso de recrutamento, se apresentarem como organismos distintos dos adultos em relação aos requerimentos ecológicos e na relação de recursos, torna esses estudos imprescindíveis ao entendimento de auto-ecologia e da dinâmica populacional.

2 Objetivo

Avaliar a distribuição espaço-temporal de ovos e larvas de peixes migradores no Parque Estadual do Turvo.

3 Metodologia

O local da amostragem do trabalho foi realizado no Alto rio Uruguai, no Parque Estadual do Turvo. A área de estudo dentro do Parque foi classificada em duas sub áreas: Sub área 1 a área a montante do Salto do Yucumã e que abrange os pontos localizados no rio Peperiguaçu (Pg) e Guarita (G) e em pontos do rio Uruguai próximos a confluência com estes rios (UPg e UG). A Sub área 2 encontra-se a jusante do Salto do Yucumã e inclui dois rios tributários, o rio Yabotiguazu (Pm) e Turvo (T) e dois pontos no rio Uruguai próximos a confluência com estes tributários (UPm e UT)

As coletas das amostras foram realizadas nos meses de Outubro de 2015 a Março de 2016 (período reprodutivo dos peixes), as coletas foram realizadas durante três vezes ao mês em oito pontos do rio, montante e jusante, na parte noturna (21 horas).

Em todos os pontos foram efetuadas coletas ativas, utilizando rede de plâncton de formato cônico-cilíndrico a qual consiste em uma malha de náilon de 500 µm presa em uma das extremidades a um aro metálico com aproximadamente 35 cm de diâmetro. Em um intervalo de 10 minutos na superfície da água.  E foi se também mensurado as variáveis ambientais da qualidade da água

Para analisar a variação da matriz dos dados (fatores: meses e os pontos de amostragem) tendo como sua maior abundância ovos migradores e larvas (variáveis dependentes) foi aplicado sobre os dados uma Análise de Variância Uni-fatorial (ANOVA one way). Quando os resultados da ANOVAs foram significativos, foi aplicado o teste a posterior de Tukey, a fim de detectar estas diferenças.

 

4 Resultados e Discussão

Durante o presente estudo foram capturadas 1.308 larvas de peixes pertencentes a cinco ordens, 14 famílias e 30 táxons. A ordem que apresentou o maior número de espécie foi a ordem Characiformes com 20 táxons e as espécies que apresentaram as maiores densidades de larvas foram o mandi amarelo Pimelodus maculatus (219 indivíduos) e Bryconamericus stramineus (168 indivíduos). A espécie que apresentou maior frequência de ocorrência nas capturas foi o P. maculatus com 16,74% do total capturado. No trecho estudado também foram registradas as capturas de larvas de peixes migradores tais como o dourado Salminus brasiliensis (2 indivíduos), o grumatão Prochilodus lineatus (4 indivíduos) e a piava Leporinus obtusidens (1 indivíduo)  (Tabela 1).

Os pontos de amostragem que apresentaram o maior número de espécies foram o UT (23 espécies) e G (22 espécies). Já os pontos que apresentaram o menor número de espécies foram o UPg (15 espécies), UG (16 espécies) e T (16 espécies).

Tabela 1. Composição taxonômica de larvas de peixes capturados nos diferentes pontos de amostragem no rio Uruguai na área de abrangência do Parque Estadual do Turvo, RS, no período entre os meses de outubro de 2015 e março de 2016

Fonte: Elaborado pelos autores, 2017.

De acordo com ANOVA foi verificado que existe variação significativa de abundância de ovos migradores entre as sub áreas 1 e 2, sendo a sub área a jusante aquela que apresenta a maior densidade de ovos (P>0,05). Sendo que o ponto UPm foi a que apresentou a maior densidade de ovos, e os pontos Pg e G foram que apresentaram a maior densidade de larvas. Ovos e larvas de peixes migradores apenas foram observados na Sub –área 2.

 

5 Conclusão

Foi verificado que as espécies migradoras S. brasiliensis, L. obtusidens e P. lineatus conseguem se reproduzir no trecho do rio Uruguai que se encontra dentro do Parque Estadual do Turvo, no entanto a reprodução destas espécies está restrita para área a jusante do Salto do Yucumã e para a calha do rio principal.

References

REYNALTE-TATAJE, D. A.; ZANIBONI-FILHO, E. Biologia e identificação de ovos e larvas de peixes do Alto rio Uruguai. In: ZANIBONI-FILHO, Evoy et al. Reservatório de Itá: estudos ambientais, desenvolvimento de tecnologias de cultivo e conservação da ictiofauna. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2008. Cap. 9, p. 229-255.

DOHERTY, P. J.. Light-traps: selective but useful devices for quantifying the distributions and abundances of larval fishes. Bulletin Of Marine Science, p.423-431, 1987.

Published
11-09-2017