AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO TEMPORAL DE PARÂMETROS MICROBIANOS E BIOQUÍMICOS EM UM LATOSSOLO VERMELHO SOB DIFERENTES FORMAS DE MANEJO
Resumo
1 Introdução
Microrganismos desempenham funções fundamentais relacionadas às transformações e dinâmica da matéria orgânica no solo. Os fluxos de energia e nutrientes através do sistema decompositor do solo são dominados pela microbiota, que atua em processos de mineralização, imobilização e solubilização de nutrientes (Moreira; Siqueira, 2006).
Considerando a importância da microbiota, indicadores microbianos e bioquímicos são empregados na análise da qualidade do solo. A respiração do solo, densidade e diversidade de microrganismos, e atividades enzimáticas estão entre os indicadores utilizados, visto que costumam evidenciar mudanças no solo em função do manejo (Ferreira et al., 2017).
2 Objetivo
Avaliar indicadores microbianos e bioquímicos em solo sob diferentes formas de manejo.
3 Metodologia
O estudo foi realizado em área de transição para o sistema de plantio direto (0,5 ha), no noroeste Sul-Rio-Grandense, de Setembro/2016 a Maio/2017. As práticas aplicadas ao solo foram: gradagem (18/08/2016), subsolagem, aplicação de calcário e gradagem (19/08/2016), semeadura de crotalária (26/08/2016), aplicação de ureia (240 kg/ha; 20/09/2016), dessecação química da crotalária (08/12/2016), semeadura de milho e aplicação de fertilizante (NPK 9-33-12, 360 kg/ha; 23/12/2016), aplicação de ureia ao milho nos estádios V4 e V8. Variações na temperatura e precipitações foram típicas da região Sul (Campos et al., 2011).
A respiração do solo foi avaliada pela captação do C-CO2 liberado em solução de NaOH utilizando cinco campânulas estáticas. As campânulas foram retiradas diariamente para substituição de frascos contendo NaOH. A concentração de NaOH foi titulada com HCl e o C-CO2 liberado (mg C-CO2/m2/h) determinado conforme Campos et al. (2011). Estas avaliações foram realizadas mensalmente, durante cinco dias consecutivos a cada mês.
Contagens de bactérias e fungos foram realizadas mensalmente. Diluições do solo (0-20 cm) foram inoculadas em placas de Ágar para Contagem (bactérias) e Ágar Sabouraud (fungos). Após incubação (30 °C, 10 dias), colônias foram contadas e os resultados expressos como Unidades Formadoras de Colônia (UFC)/g de solo seco.
A atividade hidrolítica do solo foi mensurada utilizando diacetato de fluoresceína (FDA).
4 Resultados e Discussão
Os resultados da respiração do solo são apresentados na Tabela 1. Em Setembro/2016, com baixa precipitação pluviométrica, o solo recentemente revolvido apresentou respiração inferior a Outubro/2016, quando maiores precipitações e a fertilização (Setembro/2016) podem ter resultado em maior respiração. A aplicação de ureia em área com palhada de sorgo incrementou a respiração do solo, sendo máxima 30 dias após aplicação (Assis et al., 2003).
Em Novembro-Dezembro/2016, menores precipitações podem ter diminuído a respiração. A respiração elevou-se novamente em Janeiro-Fevereiro/2017, indicando relação com a dessecação da crotalária, plantio do milho e fertilização realizadas em Dezembro/2016 (Fevereiro/2017). A liberação de C-CO2 voltou a diminuir nos meses subsequentes, especialmente em Abril-Maio/2017, quando foram registradas menores temperaturas.
Maiores efluxos de C-CO2 a partir do solo também foram mensurados em Cruz Alta/RS nos meses de Outubro, devido à entrada de resíduos de culturas de inverno, e Fevereiro, pela maior respiração radicular da cultura de verão (soja). Embora a respiração tenha sido maior no verão do que no inverno, exceções foram observadas quando elevadas temperaturas conincidiram com diminuída umidade do solo (Campos et al., 2011).
Em Setembro-Outubro/2016, após o revolvimento do solo, aplicação de calcário e ureia, houve tendência de maior população bacteriana e menor população fúngica (Tabela 1). As flutuações mensais de bactérias foram menores a partir de Novembro/2016 até Maio/2017. Para fungos, as maiores populações foram observadas em Novembro/2016, Fevereiro/2017 e Maio/2017. O revolvimento, presença de resíduos orgânicos e a fertilização podem ocasionar maior atividade microbiana. Contudo, o revolvimento pode romper hifas e diminuir populações de fungos (Moreira; Siqueira, 2006). Em solo de Minas Gerais, a população bacteriana foi elevada pela calagem; no entanto, a população de fungos não respondeu à calagem, mas foi incrementada com cultivo de braquiária e adição de superfosfato (Barroti; Nahas, 2000). O estabelecimento de relações entre contagens microbianas e manejo ou outras variáveis avaliadas torna-se complexo, visto que pequena parcela da microbiota (<1%) é cultivável (Moreira; Siqueira, 2006).
O FDA é hidrolisado por diversas enzimas secretadas por microrganismos decompositores, podendo indicar a atividade heterotrófica da microbiota dos solos. A atividade hidrolítica total apresentou tendência de maiores valores em Outubro/2016, Dezembro/2016 e Fevereiro/2017 (Tabela 1), parcialmente corroborando os resultados de respiração. Contudo, a atividade hidrolítica não foi relacionada com aspectos temporais, contagens microbianas e respiração do solo na cultura do arroz (Ferreira et al., 2017).
5 Conclusão
Respiração, populações microbianas e atividade hidrolítica foram avaliadas pela primeira vez no solo em questão. Tendências de variações nestes parâmetros foram detectadas, potencialmente como resultado do manejo e outros fatores bióticos/abióticos. Como processos edáficos resultam da complexa interação entre fatores físicos, químicos e biológicos, a continuação e aprofundamento destes estudos tornam-se fundamentais visando esclarecer aspectos da composição e atividade da microbiota relacionados à qualidade do solo.Palavras-chave: solo; microbiota; indicadores biológicos; atividade enzimática.
Fonte de Financiamento
PRO-ICT/UFFSReferências
Referências
ASSIS, E.P.M., et al. Efeito da aplicação de nitrogênio na atividade microbiana e na decomposição da palhada de sorgo em solo de Cerrado sob plantio direto. Pesquisa Agropecuária Tropical, v.33, p.107-112, 2003.
BARROTI, G.; NAHAS, E. População microbiana total e solubilizadora de fosfato em solo submetido a diferentes sistemas de cultivo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.35, p.2043-2050, 2000.
CAMPOS, B.H.C., et al. Long-term C-CO2 emissions and carbon crop residue mineralization in an oxisol under different tillage and crop rotation systems. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.35, p.819-832, 2011.
FERREIRA, E.P.B., et al. População e atividade microbiana do solo em sistema agroecológico de produção. Revista Ciência Agronômica, v.48, p.22-31, 2017.
MOREIRA, F.M.S.; SIQUEIRA, J.O. Microbiologia e Bioquímica do Solo. 2 ed. Lavras: UFLA, 2006.
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