ATLAS DAS LÍNGUAS EM CONTATO NA FRONTEIRA: OESTE CATARINENSE – COLETA DE DADOS

  • Ana Elizabeth Fornara Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Chapecó
  • Marcelo Jaco Krug Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Chapecó
Palavras-chave: Bilinguismo, Línguas em contato, Cartografia Pluridimensional, Dialetologia.

Resumo

1 INTRODUÇÃO

A constituição histórica da grande região Oeste Catarinense, em virtude da imigração e das correntes migratórias internas, indica que nela já foram e ainda continuam sendo faladas muitas línguas. Através de pesquisas já produzidas, sabemos da existência de línguas autóctones, ou seja, indígenas, bem como alóctones, que seriam as línguas de imigração. Dentre estas, podemos citar as variedades alemãs, italianas, polonesas, bessarábias, russas, ucranianas, haitianas, guarani, kaingang, portunhol, dentre outras.

Essas variedades autóctones e alóctones, mesmo sofrendo uma perda de transmissão intergeracional, conviveram e ainda convivem com a variedade do português falada no Oeste Catarinense. A relação que se estabeleceu e que se estabelece entre esses falares foi provocando modificações na língua portuguesa e vice-versa, constituindo variações muito particulares. Considerando a insuficiência de pesquisas sociolinguísticas e dialetológicas referentes às línguas em contato com o português no Oeste Catarinense, busca-se, através dessa pesquisa, compreender as relações inter e intralinguais, bem como as relações identitárias advindas desses contatos em um meio pluricultural e pluriétnico.

Para isso, realiza-se uma coleta de dados linguísticos e iconográficos em determinados pontos da região Oeste Catarinense, com o objetivo principal de construir bancos de dados que darão origem a um atlas linguístico da região.

 

2 OBJETIVO

Coletar dados linguísticos e iconográficos no Oeste Catarinense constituindo um banco de dados que dê suporte à confecção de um atlas linguístico pluridimensional.

3 METODOLOGIA

 

Após a realização de um levantamento de informações acerca dos municípios que formam o Oeste Catarinense, reuniram-se esses municípios em pontos para a coleta de dados. Ao todos, são 36 pontos de coleta. Para essa coleta de dados linguísticos e iconográficos, utiliza-se a metodologia pluridimensional.

Através dessa metodologia, foram selecionados oito informantes em cada ponto de coleta, divididos em quatro homens e quatro mulheres e desses, dois homens e duas mulheres representam a geração mais velha (GI) e dois homens e duas mulheres representam a geração mais jovem (GII). Desses, um homem e uma mulher representam a Classe Alta (Ca) (estipulado pelo grau de instrução de nível superior) e um homem e uma mulher representam a Classe Baixa (Cb) com baixo nível de escolaridade (máximo ensino médio). Com isso, teremos um total de no mínimo 288 informantes, podendo esse número aumentar, dependendo no número de variedades de imigração ou indígenas faladas em cada ponto de coleta. Ou seja, para cada grupo de falantes de variedades distintas, aplica-se um questionário próprio em sua língua.

Para a obtenção dos dados, realizam-se entrevistas, utilizando o questionário linguístico do próprio projeto Atlas das línguas em contato na fronteira (ALCF). Para isso, utilizam-se gravadores H4N Zoom com regulagem de entrada de ruídos. Após tratamento acústico no laboratório fonético, os dados são armazenados no servidor do PPGEL (Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos). Também são feitos registros iconográficos e gravações de vídeo de peculiaridades macrolinguísticas, como por exemplo, estilos de construção de casas, e fotos de cartas antigas na variedade dos informantes.

4 RESULTADOS  E DISCUSSÕES

 

As análises feitas a partir dos históricos dos municípios do Oeste Catarinense apontam para uma necessidade crescente de estudos em prol das línguas minoritárias, visto que a falta de informações referentes a tais línguas refletem em atitudes equivocadas que geram a estigmatização dos falantes e, consequentemente, um processo de substituição linguística, no qual as línguas minoritárias são substituídas pela língua majoritária e dominante, o português.

Na tentativa de reverter essa situação, busca-se trabalhar na construção de um atlas linguístico das línguas em contato na fronteira. Será com os dados linguísticos e iconográficos resultantes dessa coleta que será possível construir uma base de dados, nesse caso, um mapa elaborado a partir da planilha do Excel, e disponibilizá-la a pesquisadores e estudantes que tenham como proposta o estudo das variedades minoritárias presentes na região.

Dentre os pontos de coleta, já foram coletados dados em cinco pontos. O levantamento desses dados foi de suma importância para organizar e otimizar o banco de dados, inclusive ver questões de espaço e memória necessário para cada ponto, assim como avaliar a melhor maneira de etiquetar cada dado separando por ponto, por célula e por informante, dentro da metodologia da pluridimensionalidade relacional. Toda essa organização interfere diretamente na elaboração dos mapas eletrônicos

 

5 CONCLUSÃO

 

Com o desenvolvimento da pesquisa, reforça-se a ideia inicial de que o Oeste Catarinense é uma região linguisticamente diversificada, portanto plurilíngue. Diversas línguas minoritárias e o português, língua majoritária, coexistem e se relacionam nesse espaço, consequentemente, existem modos de falar e culturas diferentes. Nessa perspectiva, salienta-se que a região oeste constitui um espaço muito rico e que cada vez mais temos a necessidade de estudar as particularidades linguísticas da sociedade local como forma de conscientização e manutenção das variedades dos falantes. Isso é imprescindível já que pesquisas cognitivas mostram constantemente a importância que o bilinguismo tem para a formação social dos sujeitos.

A atual pesquisa cartográfica, portanto, age exatamente sobre a grande demanda dos estudos de contato de línguas minoritárias: o levantamento de dados. Através da coleta de dados, possibilita-se a construção bancos de dados que darão suporte para a constituição de um atlas linguístico. Através disso, acredita-se ser possível realizar pesquisas diversas, com o intuito de desconstruir crenças, conhecer mais um pouco do uso real do português dessa região, revitalizar e manter línguas na região da Fronteira Sul.

 

Palavras-chave: Bilinguismo; Línguas em contato; Cartografia Pluridimensional; Dialetologia.

 

Publicado
18-09-2017