NARRATIVAS DE FORMAÇÃO EM CIÊNCIAS

  • Daniele Follmann Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Cerro Largo
  • Carlos Eduardo Mello Espindola Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Cerro Largo
  • Roque Ismael da Costa Güllich Universidade Federal da Fronteira Sul

Abstract

1 Introdução

O contexto investigado está fixado no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID), Subprojeto PIBIDCiências, desenvolvido na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Cerro Largo-RS, vinculado ao Curso de Ciências Biológicas que na época analisada passava pela transição do curso de Ciências para o atual curso. Importante também ressaltar que neste contexto os Pibidianos eram participantes da ação de extensão desenvolvida através do projeto de formação continuada denominado: “Ciclos Formativos no Ensino de Ciências”, organizada pelo do Grupo de Estudos e Pesquisas em Ensino de Ciências e Matemática (GEPECIEM), que se configurava como espaço e tempo de formação em que eram convidados a pensar na educação de modo mediado e colaborativo num coletivo docente, através de reflexões orientadas pelas escritas em diários de formação (DF) encontros de formação e processos de sistematização de práticas e relatos de experiências, o que caracteriza a investigação – ação (ALARCÃO, 2010; CARR; KEMMIS,1988;  GÜLLICH, 2013).

No grupo, ou seja, em coletivos, os professores compartilham concepções, vivências e acreditamos que possam torná-las experiências, refletidas e mediadas teoricamente tanto no processo coletivo quanto no DF como experiência individual. O referencial de base, no que se refere à produção de escritas-narrativas em diários, utilizado no grupo estava ancorado nos estudos de Porlán e Martín (2001), evidenciando assim a reflexão da prática, por meio de narrativas que são inseridas no diário de formação, que se torna uma ferramenta de reflexão dentro do cotidiano dos professores em formação. Assim, as narrativas tornam-se um instrumento investigação sobre o ser professor (WYZYKOWSKI; GÜLLICH; HERMEL, 2014).

Buscamos então avançar na compreensão de processos de Investigação-Formação-Ação (IFA) em que a reflexão se coloca como categoria formativa, partindo de uma avaliação de como o PIBIDCiências desenvolveu a IFA como matriz formativa mediatizada pelo uso do DF e de que forma este processo possibilitou/desencadeou a constituição docente em Ciências.

2 Objetivo

Analisar os processos de IFA e como desencadearam a constituição docente em Ciências.

3 Metodologia

O trabalho está fundamentado na análise qualitativa documental, em que buscamos nas narrativas nossos indícios formativos. Utilizando-se como referência a análise temática de conteúdos (LÜDKE; ANDRÉ, 2001) desenvolvida em três etapas, a saber: pré-análise, exploração do material e o tratamento dos resultados e interpretação. Definimos algumas categorias para nortearem a investigação, as quais foram definidas com base em referenciais teóricos sendo ele: Diário de Formação. Para atender aos princípios éticos na pesquisa com seres humanos, renomeamos os sujeitos para manter sua identidade no anonimato, assim referindo-nos a estes com a simbolização LCB seguida do numeral que corresponde ao licenciando que narrou o trecho que retiramos do diário.

4 Resultados e Discussão

Nossas investigações possibilitaram estabelecer um panorama geral das compreensões dos licenciandos acerca do diário de formação, a partir do qual podem se desenvolver a IA e propiciar constituição docente. A seguir apresentamos em forma de quadro(Quadro 1) as categorias e os licenciandos em que verificamos indícios evidenciam tais categorias formativas.

Quadro 1: Categorias de discussão

Categorias

Licenciandos

Fragmentos

Diário de formação

LCB2;LCB3;LCB4;LCB8;LCB11

Achei interessante que o professor falou que o diário de classe é a sistematização da própria prática. Do mesmo modo o diário de bordo, que nos desenvolvemos tem o intuito investigativo sobre as práticas (sobre a formação). O diário faz com que o professor pense retrospectivamente sobre as próprias práticas e pense progressivamente no futuro” (LCB8).

Desenvolvimento da IA

LCB1;LCB5;LCB6;LCB10;

“estamos modificando o ambiente atual, tirando os da posição de conforto, fazendo-os pensar que devem repensar seus atos e suas aulas" (LCB1).

Constituição docente

LCB1;LCB3;LCB4;LCB6;LCB10

O que considero mais significante para o sujeito são as reflexões em grupo, podendo ser a mera leitura de um artigo ou texto. Se o sujeito realizar a leitura terá apenas o seu ponto de vista sobre o mesmo, mas o momento que socializa com o grupo passa a ter vários pontos de vista do mesmo assunto, maneira sendo que cada pessoa enxerga o tema de maneira diferente”(LCB3).

A investigação deixa explícito o quanto o DF pode contribuir para qualificar o processo de iniciação a docência, como uma parte importante da formação inicial. As narrativas evidenciam, através de indícios, que a reflexão que incide para a compreensão e melhoria das práticas pedagógicas trata-se de um movimento formativo-constitutivo da docência em Ciências (dos novos professores em formação). Também percebemos o DF como uma ferramenta de investigação para levantar a discussão de temas que permeiam a formação e a docência.

 

5 Conclusão

Através do contexto investigado, inferimos que o DF é propulsor das reflexões críticas que por sua vez desencadeiam a IFA, no que seu desenvolvimento possibilita a constituição docente em Ciências, especialmente na formação inicial. O que é possível pelo uso de instrumentos culturais como o diário de formação em que as narrativas têm papel fundamental, constituindo os sujeitos professores com uma possível rememoração e revisita sempre que necessário.

 

Published
29-09-2017