APROXIMAÇÃO E INSERÇÃO DE UM ACADÊMICO- PESQUISADOR DENTRO DE UM SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA ESPECIALIZADA PARA A POPULAÇÃO VIVENDO COM HIV/AIDS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

  • Aldair Weber Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
  • Tatiane De Souza Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
  • Gabriela Flores Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
  • Larissa Tombini Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
Palavras-chave: Vínculo, Imunodeficiência, Formação.

Resumo

Introdução/Objetivos: A região oeste catarinense caracteriza-se pela concentração de grandes empresas do setor agroindustrial de alimentos e pelo intenso fluxo migratório de pessoas atraídas pelo potencial de desenvolvimento e geração de empregos. Mesmo com um grande numero de pessoa, encontra-se uma escassez de estudos sobre as doenças sexualmente transmissíveis, em especial sobre o HIV/AIDS e sua relação com as atuais políticas de saúde em vigência. Portanto, é necessário um resgate de fatos históricos que influenciaram na construção do perfil epidemiológico e socioeconômico do portador de HIV/AIDS na região, possibilitando uma avaliação da conjuntura apresentada pela aplicação das políticas públicas de promoção e prevenção e o alcance destas sobre as populações que demandam deste serviço. Observando a necessidade da conjuntura, acadêmicos e professores do curso de Enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Chapecó, desenvolveram projeto de pesquisa para construir o perfil sócio-epidemiológico dos pacientes portadores de HIV/AIDS do serviço de referência para 37 municípios do Oeste Catarinense. Metodologia: A pesquisa conduzida é de caráter observacional, exploratório, longitudinal, com análise quantitativa analítica. Trata-se de estudo quantitativo, transversal sobre base de dados secundária (prontuários dos pacientes e registros do serviço), que incluiu pacientes infectados pelo HIV e/ou com diagnóstico de AIDS registrados e acompanhados pelo serviço de referência em atenção ao portador de HIV/AIDS na região Oeste Catarinense. O projeto está em fase de análise de dados, sendo que foram coletados dados de mais de 1400 prontuários disponíveis no serviço. Todos os prontuários foram numerados de acordo com o grupo, e dessa forma o instrumento de coleta de dados foi também identificado através do número disposto no prontuário. Essa técnica foi utilizada com vistas à manutenção da responsabilidade ética assumida com o serviço preservando o sigilo dos usuários. Resultados e Discussões: Primeiramente, ao final da coleta de dados obteve-se um resultado de prontuários analisados: 323 prontuários de pacientes que foram a óbito; 136 do grupo de abandono de tratamento; 948 de pacientes em acompanhamento no serviço, além de contabilizar, porém sem analisar, 272 prontuários do grupo de pacientes que realizaram transferência. O serviço de assistência especializada para portadores do vírus HIV/aids, denominado Hospital Dia, demonstrou-se um pouco “restrito” quando a proposta de pesquisa foi apresentada, porém, firmou apoio, abrindo suas portas e pontuando que, a presença de acadêmicos dentro do serviço e desenvolvimento da proposta de pesquisa deveriam ser feitos a passos lentos, sempre em sincronia com o trabalho desenvolvido pela equipe responsável pelo serviço. As “ressalvas” do serviço quanto à execução do projeto permeiam a grande responsabilidade ética da equipe profissional, compromisso e respeito assumidos quando estabelecida a relação profisisonal-usuário(a), prezando pelo sigilo e confidencialidade das informações. Dessa forma, enquanto proponentes da pesquisa, discentes e docente, assumiram o compromisso de responsabilidade junto ao serviço pela manutenção do sigilo das informações, respeitando as regras em vigência no serviço. Conforme solicitação do serviço, a coleta dos dados deveria acontecer em espaço reservado, em dia de menor fluxo de usuários, de forma a garantir o sigilo e anonimato, assim como o conforto dos usuários que circulam diariamente pelo serviço. Considerações finais: O estudo da epidemia de HIV/AIDS continua se mostrando necessário e atual, pois a cada dia um número maior de pessoas é contaminada pelo vírus, mostrando-se assim um problema de saúde pública. Desenvolver estudos nessa área permite a busca incessante de pesquisadores, colaboradores e instituições de ensino superior e de pesquisa por melhorias nas políticas públicas em vigência, assim como a construção de novas políticas adequadas as demandas existentes para a população que usa desses serviços especializados e para toda a população em geral, que está exposta ao risco de contaminar-se. Desenvolver o projeto de pesquisa permitiu até o momento uma rica vivência dentro do serviço, conhecendo um pouco mais a rotina dos profissionais, bem como se inserindo como parte da equipe. Tudo isso veio complementar o projeto de pesquisa, demonstrando que construir uma boa relação com os profissionais atuantes permite um maior aprendizado, que ultrapassa o descrito como proposta do projeto. Além disso, frequentar o serviço permitiu sentir a “carga” de preconceito e estigma social sob o qual os portadores de HIV/aids que fazem acompanhamento junto ao serviço sofrem diariamente, pois aos olhos das outras pessoas o próprio fato de ser um frequentador do serviço já classifica a pessoa como portadora de HIV/aids, ou seja, o estigma e estereótipo afetam o serviço, os profissionais que lá atuam, os colaboradores, as pessoas que compreendem a causa como um problema de saúde pública e preocupam-se em desenvolver ações de prevenção junto à comunidade; reforçando a construção social ultrapassada que ainda está em vigência nos dias atuais. Enfim, o projeto mostrou-se mais importante a partir de sua execução, principalmente pela necessidade atual do tema e pelo fato de não existirem registros publicados cientificamente sobre a atuação do serviço, que possam dar respaldo a outros trabalhos que venham a ser realizados, além proporcionar reconhecimento de causa, contribuindo com a melhoria do serviço e propiciando uma formação universitária e social cada vez mais responsável e respeitosa.

 

Referências

GOMES, Antonio Marcos Tosoli et al . As facetas do convívio com o HIV: formas de relações sociais e representações sociais da AIDS para pessoas soropositivas hospitalizadas. Esc. Anna Nery, Rio de Janeiro , v. 16, n. 1, p. 111-120, mar. 2012. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452012000100015&lng=pt&nrm=iso>

GONÇALVES, ERLI HELENA et al. Ética e desconstrução do preconceito: doença e poluição no imaginário social sobre o HIV/Aids. Rev. bioét (Impr.) 2011; 19(1): 159 – 78

Publicado
21-09-2016