INFLUÊNCIA DO MILHO TRANSGÊNICO NO DESENVOLVIMENTO DE ANAGASTA KUEHNIELLA (ZELLER, 1879)

  • Thais Pigatto Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Laranjeiras do Sul
  • Aline Pomari Fernandes
  • Edemar José Baranek
  • Janaina Penteado dos Santos
Palavras-chave: Controle biológico, Dieta artificial, Transgenia.

Resumo

1 Introdução

A traça-das-farinhas Anagasta kuehniella (Zeller, 1879) (Lepidoptera: Pyralidae), multiplicada em laboratório para a realização de pesquisa em instituições de ensino e pesquisa. Para tanto, se utiliza uma dieta artificial com fubá de milho e levedura de cerveja. Essa espécie é necessária para que seja possível a multiplicação do parasitoide de ovos Trichogramma pretiosum (Riley, 1879) (Hymenoptera: Trichogrammatidae), a qual é capaz de controlar várias espécies de lepidópteros, o que permite o uso destes em várias culturas de importância agrícola. Assim, a criação de A. kuehniella em larga escala, permite a criação do parasitoide, para utilização do mesmo em áreas agrícolas priorizando. Acredita-se que fontes de alimento transgênico podem interferir no desenvolvimento dos insetos, aliado ao protocolo de Cartagena sobre Biossegurança de Organismos Modificados e a Convenção de Biodiversidade, que relatam que há necessidade de avaliações de organismos geneticamente modificados, devem ser realizados testes para a confirmação de interferência (CAPALBO et al., 2003).

2 Objetivo

Determinar a influência de milho geneticamente modificado no desenvolvimento de Anagasta kuehniella.

3 Metodologia

O experimento foi realizado no laboratório de Entomologia da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), em Laranjeiras do Sul, PR. Constou de dois tratamentos, sendo eles dietas contendo fubá comercial transgênico e fubá comercial orgânico.

3.1 Período Embrionário:

Em placas de Petri, forradas com papel filtro levemente umedecido, foram inoculados 10 ovos recém-colocados (0 a 12 h de idade), vedado com filme plástico PVC. As placas foram acondicionadas em câmaras climatizadas com temperatura (T) de 25±2 ºC, umidade relativa (UR) de 70±10% e fotofase 14 h. Para cada tratamento, foram realizadas 10 repetições, nas quais diariamente foram avaliados o número de lagartas eclodidas.

3.2 Período lagarta-adulto e razão sexual:

Foi introduzida uma lagarta recém-eclodida em um recipiente plástico de fundo chato com tampa (com pequenas perfurações para trocas gasosas), contendo em seu interior 0,2 g de dieta e um pedaço de papelão, o qual servirá de abrigo às pupas. Cada tratamento constou de 100 repetições que foram alocadas em câmaras climatizadas nas mesmas condições citadas anteriormente. Avaliou-se o número de adultos emergidos e a razão sexual.

3.3 Fecundidade e Longevidade:

Foram introduzidas 100 lagartas recém-eclodidas em um recipiente tipo gerbox, contendo 20 g de dieta e tiras de papelão, estes acondicionados em câmaras climatizadas. Após a emergência dos adultos, foram separados 14 casais em recipientes plásticos com fundo chato, mantendo-os nas mesmas condições de desenvolvimento. Diariamente, foi realizada a coleta e contagem dos ovos, e avaliada a mortalidade dos adultos.

3.4 Viabilidade:

Os ovos referentes ao 2º dia de postura foram dispostos em “lotes” de 10, em placas de Petri em câmaras climatizadas nas quais, diariamente, foram avaliadas as lagartas recém-eclodidas.

3.5 Análise estatística

Os dados foram submetidos à análise exploratória para avaliar as pressuposições de normalidade dos resíduos, homogeneidade de variância dos tratamentos e aditividade do modelo para permitir a aplicação da ANOVA (BURR & FOSTER, 1972; SHAPIRO & WILKS, 1965), sendo as médias comparadas pelo teste T (p≤0,05) (SASM-Agri, 2001).

4 Resultados e Discussão

O período de desenvolvimento lagarta-adulto foi maior para os insetos alimentados com dieta transgênica (Tabela 1), tornando o ciclo da espécie 65.98% maior. Com relação à razão sexual não houve diferença entre os tratamentos (Tabela 1). O maior período de desenvolvimento verificado pode relacionar-se a baixa qualidade nutricional ou a expressão da proteína transgênica do grão, afetando o número de ciclos da traça, reduzindo assim o número de ovos. Para razão sexual, não houve diferença significativa.

 

Tabela 1: Média ± EPM do tempo de desenvolvimento lagarta-adultoe da razão sexual de Anagastakuehniella alimentada com dieta de fubá proveniente de milho transgênico e orgânico.

Tratamento

Lagarta-adulto

Razão Sexual

Orgânico

53,36 ± 3,95 b

0,48 ± 0,71ns

Transgênico

88,57 ± 3,62 a

0,44 ± 0,71

CV(%)

20,30

1,09

nsMédia± Erro padrão da média (EPM) não diferem entre si pelo teste T(p<0,0005).

Em relação à fecundidade essa foi 60% maior para as fêmeas alimentadas com dieta orgânica (Tabela 2), preconizando a possível qualidade nutricional verificada também no menor período lagarta-adulto. Com relação à viabilidade e longevidade dos adultos, estas não apresentaram diferença entre os tratamentos.

Tabela 2: Média ± EPM da fecundidade e longevidade de Anagasta kuehniella alimentada com dieta de fubá proveniente de milho transgênico e orgânico.

Tratamento

Fecundidade1

Viabilidade

Longevidade

Macho

Fêmea2

Orgânico

287,21±11,42a

0,98 ± 0,19ns

2,57 ± 1,40ns

6,14 ± 2,18ns

Transgênico

170,64±9,86b

0,99 ± 0,14

2,21 ± 1,06

4,43 ± 1,76

CV(%)

23,67

2,88

66,48

52,79

nsMédia± Erro padrão da média (EPM) não diferem entre si pelo teste T (p<0,0005).1Dados transformados em “(x+k)^1/2” com k=10. 2Dados transformados em “Log x” na base 10.

5 Conclusão

O período lagarta-adulto e a fecundidade foram afetados pela alimentação a base de fubá transgênico, reduzindo o número de ciclos e de ovos do hospedeiro.

Referências

BURR, I.W.; FOSTER, L.A. A test for equality of variances. West Lafayette: University of Purdue.26p.1972.

CAPALBO, D.M.F., HILBECK, A., ANDOW, D., SNOW, A., BONG, B.B., WAN, F.H., Fontes, E.M.G., Osir, E.O., Fitt,G.P.,Johnston, J. 2003. Brazil and the development of international scientific biosafety testing guildelines for transgenic crops. Journal of Invertebrate Pathology. 83: 104-106.

SAS INSTITUTE. SAS user’s guide: statistics, version 8e. Cary, NC: SAS Institute (2001), 2001.

HAPIRO, S.S.; WILKS, M.B. An analysys of variance test for normality (complete samples). Biometrika, London, v.52, p.591-611, 1965.

Publicado
27-09-2016