MACROECONOMIA HETERODOXA: UM ESTUDO SOBRE A TEORIA KEYNESIANA E DE SEUS SUCESSORES (NEOKEYNESIANOS E NOVOS KEYNESIANOS) E A POLÍTICA ECONÔMICA BRASILEIRA NO PERÍODO DE 1994-2015

  • Rayssa Vieira kruger Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Laranjeiras do Sul
  • Deise Maria Bourscheidt Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Laranjeiras do Sul
Palavras-chave: Keynes, Política econômica, Heterodoxia, Neokeynesianos.

Resumo

1 Introdução

A teoria de Keynes teve grande impacto no cotidiano das economias a partir dos anos 1930. Sua expressiva contradição com a economia clássica, até então vigente, acabou por dar um novo rumo à condução da política econômica naquele momento. Posteriormente, em função das dificuldades enfrentadas pelas economias na década de 1970, entre as quais está a crise do petróleo, sua teoria acabou desacreditada por muitos atores envolvidos nas definições de políticas, bem como no ramo acadêmico. Contudo, seus postulados nunca foram esquecidos e diante de novas crises, acabaram retornando à academia e às mãos dos formuladores de políticas.

2 Objetivo

Estudar a relação entre a Teoria de Keynes e de seus sucessores (neokeynesianos e novos keynesianos) e a política econômica brasileira no período 1994-2015.

3 Metodologia

Inicialmente, foi feito uma pesquisa bibliográfica, constituída principalmente por livros e artigos científicos. Para isso foi consultada a Teoria de Keynes in loco e demais autores que escreveram sobre a mesma, como forma de propiciar um embasamento sobre a visão de Keynes e de seus sucessores sobre as políticas econômicas. Posteriormente realizou-se um levantamento bibliográfico sobre a política econômica que vigorou no período de 1994-2015.

4 Resultados e Discussão

O início do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) marcado por uma política monetária restritiva, dada pelo aumento da taxa de juros, prejudicou os investimentos do país e consequentemente os empregos, uma das principais consequências negativas da implantação do plano Real. Nota-se que a abertura comercial coexistindo com a apreciação do câmbio, taxa de juros elevadas, ajuste fiscal restritivo, foram medidas que se afastaram das ideias propostas por Keynes. De certa forma, este resultado é compreensível, pois o principal objetivo naquele momento não era o crescimento e o estímulo do emprego, e sim o controle dos preços.

Em relação ao governo Lula, seu segundo mandato teve um caráter Keynesiano, com medidas voltadas à ampliação do crédito ao consumidor, do aumento real no salário mínimo, da adoção de programas de transferência de renda direta, da criação do Programa de Aceleração do Crescimento e da ampliação da atuação do BNDES para estimular o investimento público e privado e, por fim, das medidas anticíclicas de combate à crise internacional, a partir de 2009. Segundo Lopreato (2015) , o segundo mandato teve um posicionamento de corte keynesiano, ou seja, defendeu a expansão dos investimentos das empresas públicas, a presença estatal na articulação e no financiamento de projetos de investimento privado, o uso de incentivos fiscais e financeiros em favor do capital privado, a definição de uma política industrial, ao lado da maior presença dos bancos públicos na oferta de crédito e de medidas de caráter social, como a política de defesa do aumento do salário mínimo e de ampliação dos gastos sociais. De acordo com Terra e Ferrari Filho (2014), o segundo mandato do governo Lula não teve uma ligação imediata com uma determinada perspectiva teórica, trabalhando com as metas de inflação, associada à ampliação da demanda agregada via aumento dos investimentos públicos ou à redução das taxas de juros do varejo bancário.

No governo Dilma Rousseff pode-se pontuar algumas considerações. O reforço da política Fiscal visando uma política de desenvolvimento e usada para o controle da demanda agregada, segundo Lopreato (2015), teve um caráter da síntese neoclássica, pois buscou-se o crescimento e estabilidade. Além disso, o Governo deu prioridade para o curto prazo e não procurou utilizar os gastos públicos para sustentar um processo de longo prazo. No início do Governo, houve a tentativa de estimular o setor produtivo do país, principalmente o setor industrial, como o incentivo ao investimento por meio do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que em 2012 começou a cobrar juros negativos na aquisição de máquinas e equipamentos. Além disso, o início do governo foi marcado pela redução da taxa básica Selic, e a adoção de pacotes de compras governamentais. Nota-se que esse início, teve, de certo modo, medidas próximas à ideia Keynesiana, mesmo essas medidas sendo insuficientes para reaquecer o setor produtivo. Em 2013, devido ao aumento da inflação, o governo optou pela elevação da taxa básica de juros e o aumento dos preços administrados. Além disso, a política Fiscal depois de ter sido pró-cíclica em 2010, voltou a ser contracionista. No segundo mandato da Presidente Dilma, iniciado em 2015, o cenário econômico brasileiro começou a mudar, o Governo realizou um corte de gastos, além do aumento dos juros para tentar retomar o crescimento brasileiro, essas medidas adotadas se afastaram do que Keynes como colocava como prioridade para o crescimento econômico.

5 Conclusão.

Nota-se que as ideias de Keynes não foram predominantes durante o período do governo FHC, momento em que não era prioridade a geração de empregos e sim o controle dos preços. Já no governo Lula, principalmente em seu segundo mandato, houve uma abordagem caracterizada como Keynesiana, como o aumento dos gastos, liberação de crédito e estímulo ao investimento privado. O governo Dilma, por sua vez, tentou se aproximar à ideia Keynesiana, porém, de caráter mais ligado à síntese neoclássica no primeiro mandato, buscando a ativação do setor produtivo. No segundo mandato, o governo voltou a ser contracionista elevando a taxa de juros, para combater principalmente a inflação e também realizou corte de gastos.

Referências

LOPREATO, Francisco Luiz C. Aspectos da atuação estatal de FHC à Dilma. No. 2039. Texto para Discussão, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 2015. Disponível em: < http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3429/1/td_2039.pdf>.

TERRA, FHB; FERRARI FILHO, F. As políticas fiscal e monetária em Keynes: reflexões para a economia brasileira pós-Plano Real. Paper apresentado no III Encontro da Associação Keynesiana Brasileira, 2010.

Publicado
19-09-2016