CONTRIBUIÇÕES DO “VER-SUS” PARA FORMAÇÃO ÉTICO-POLITICO-HUMANISTICA DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE: UM ESTUDO NO OESTE CATARINENSE

  • camila dervanoski Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
  • Ariane Sabina Stieven Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
  • Fabíola Feltrin Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
  • Cláudio Claudino Da Silva Filho Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
  • Kelly Aparecida Zanella Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
Palavras-chave: Sistema Único de Saúde, Formação Profissional em Saúde, Integração à comunidade, Humanização, Integralidade em saúde

Resumo

Introdução: Estudos nacionais e internacionais apontam que a formação nos cursos de graduação em saúde tem se pautado ainda na disciplinaridade e fragmentação dos conhecimentos, pouco instigando a formação de cidadãos(ãs) crítico-criativos(as) e comprometendo a atuação destes(as) futuros profissionais na complexa realidade do Sistema Único de Saúde (SUS) e no processo saúde-doença dos usuários. A formação profissional em saúde, numa concepção mais ampliada, é uma oportunidade relevante para o estudante desenvolver valores e atitudes reflexivas, além das competências e habilidades apontadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais. A atuação profissional pode ser refletida a partir do modelo de formação superior que o estudante teve durante sua vida escolar e acadêmica. Dessa forma, a futura prática na área de saúde precisa ser direcionada durante os anos de formação acadêmica e continuadamente na sociedade na qual o estudante está inserido. Estudos (MENDES et. al., 2012; SILVA FILHO et. al., 2014, WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010) nos mostram a necessidade de uma reformulação e maior atenção para a formação dos profissionais a fim de que ocorra satisfatoriamente a implantação das Políticas de Saúde e do SUS, levando em conta a igualdade de acesso e o reconhecimento das especificidades de cada grupo, compreensão e acolhimento de cada indivíduo como um sujeito holístico e integral, não o vendo apenas como uma máquina biológica e sim encaixada em um panorama social, e pautando sua prática muito além de suas atribuições, e sim, como um sujeito transformador da sociedade. Dentre diversos dispositivos de formação para tentar minimizar as lacunas na formação, a iniciativa do Ministério da Saúde “Vivências e estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde” (VER-SUS Brasil; Oeste Catarinense), já implantada em todas as regiões do país desde 2003, possibilita com que estudantes de graduação dentro e fora da área de saúde conheçam o SUS sob outro olhar, um ângulo diferenciado de militância política e de retomada do movimento de reforma sanitária, através de imersão na realidade das comunidades loco-regional. Implantado no Oeste Catarinense no pólo Chapecó-SC desde Julho de 2014, oportuniza ainda que estejam mais perto de como funciona o sistema, dialogando com profissionais, gestores e/ou usuários, constituindo os estudantes enquanto protagonistas fundamentais para estruturação e fortalecimento do SUS, e integrando os serviços de saúde às universidades envolvidas. Objetivo: reconhecendo as fragilidades no ensino de profissionais de saúde, e os reflexos ainda não investigados do VERSUS no Oeste Catarinense desde sua implantação, o presente estudo teve como objetivo geral analisar as contribuições do VER-SUS Oeste Catarinense para formação de profissionais de saúde, sob três eixos: ético, político, e humanístico. Metodologia: Tratou-se de uma pesquisa de campo, descritivo-exploratória, de natureza qualitativa, que entrevistou estudantes que já participaram como viventes, facilitadores e comissão organizadora do VERSUS no Oeste Catarinense nas edições de inverno 2014, verão e inverno 2015. Utilizou-se a entrevista em profundidade respaldada por roteiro semiestruturado. O início da coleta de dados foi condicionado à apreciação e aprovação do referido comitê, sendo garantido o sigilo e a confidencialidade de todos os dados coletados. Os critérios de inclusão na pesquisa eram: 1) graduandos(as) de instituições de ensino superior de Chapecó ou região; 2) já tinham participado como viventes, facilitadores(as) e/ou comissão organizadora do VER-SUS no Oeste Catarinense nas 3 edições realizadas até o início dessa pesquisa; 3) graduandos(as) que estivessem regularmente matriculados(as) em suas respectivas instituições desde sua participação no VER-SUS. As entrevistas foram realizadas com 15 (quinze) ex-versusianos, sendo 5 de cada edição do VER-SUS Oeste Catarinense, as quais só iniciaram  após concordância dos(as) participantes da pesquisa mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).  Os dados foram analisados a partir da Analise de Conteúdo proposta por Bardin, na modalidade Análise Categorial Temática. A pesquisa conta com aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), CAAE 48909315.1.0000.5564, número do parecer de aprovação 1.301.504 de 29 de Outubro de 2015. Resultado e discussão: Os resultados foram divididos e discutidos em quatro grandes categorias temáticas: A dimensão ÉTICA, os itinerários formativos e o VER-SUS: podemos articular dispositivos de reorientação da formação com iniciativas curriculares para formar profissionais mais éticos? A dimensão POLÍTICA, os itinerários formativos e o VER-SUS: a graduação é um espaço potencializador ou limitador da militância política? A dimensão HUMANÍSTICA, os itinerários formativos e o VER-SUS: como articular na formação profissional em saúde as competências relacionais e técnicas para resgatar valores humanos ameaçados? A “utopia” de um profissional crítico, criativo e reflexivo: estamos formando para o Sistema Único de Saúde (SUS)? Dentre todos os resultados obtidos, fica nítida a importância dos itinerários formativos como o VER-SUS, modificando e incrementando ainda mais a realidade na qual o acadêmico vai estar inserido, qualificando o trabalho em saúde e as realizações como profissional e cidadão. Dispositivos formativos para reorientação da formação profissional fazem-se imprescindíveis na trajetória dos(as) acadêmicos(as), não só como iniciativas isoladas e pessoais dos(as) próprios estudantes, mas de modo transversal e incorporado na matriz curricular, ou pelo menos valorizadas enquanto estímulo ético-político, para efetivas transformações rumo à formação de profissionais críticos, reflexivos, criativos e efetivamente  voltados para o Sistema Único de Saúde (SUS). Conclusão: Avalia-se que os resultados possam embasar ainda mais itinerários formativos em âmbito nacional, além de fomentar a mudança na forma como estamos “formando” nossos profissionais de saúde e de tudo que queremos que seja nosso “pensar e fazer em saúde” futuro.

Referências

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ROCHA, C. M. F. A experiência da realização do Projeto Piloto do VER-SUS/Brasil na visão das “equipes coordenadoras” municipais. 2004. Monografia (Especialização em Equipes Gestoras de Sistemas e Serviços de Saúde) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2004.

Publicado
27-09-2016