CONTRADIÇÕES POR TRÁS DO APARENTE SUCESSO: CRISE E DESENVOLVIMENTODAS COOPERATIVAS AGROPECUÁRIAS DO ESTADO DO PARANÁ NO PERÍODO 1990- 2015 – CASO COCAMAR

  • Débora Alice Coelho Universidade Federal da Fronteira Sul Laranjeiras do Sul
  • Pedro Ivan Christoffoli
Palavras-chave: Cooperativa, Crise, RECOOP

Resumo

Durante a década de 90 várias cooperativas do Brasil, passaram por processos de crise e transformação. Contam-se às dezenas as cooperativas incoporadas ou fechadas devido à crise no setor agrícola: Cotia, Camilas, Capab, Comfrabel, dentre outras, deixaram de existir, vitimadas pelo colapso do modelo produtivo e cooperativo dominante no meio rural até aquela década.

No período final da década de 1980 diante do esgotamento do modelo econômico brasileiro erigido a partir da ditadura militar, o setor agrário sofreu um forte impacto derivado desse cenário macroeconômico, afetando tanto pequenos agricultores como cooperativas. Uma das cooperativas que passou por esse processo e, no entanto conseguiu se recuperar é a Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá – COCAMAR. Surgida no ano de 1963, a cooperativa sofreu com essa crise, mas conseguiu se reerguer, através da diversificação e verticalização da produção, ancorada em forte apoio estatal.

Naquele período diante da situação que se encontravam, as cooperativas foram em busca de empréstimos bancários para conseguir sanar suas dívidas. Uma das formas encontradas foram as linhas de crédito oficiais, visto que o Estado historicamente havia sido o principal indutor do cooperativismo no meio rural brasileiro e paranaense (AZERÊDO, 2016) e tinha nas cooperativas um instrumento de estímulo e controle da produção no campo.

A década de 1990 marcou a abertura de corte neoliberal da economia brasileira, demandando novas estratégias para atuação no competitivo mercado mundial. De acordo com Delgado, a abertura comercial, que se expressa no inicio dos anos 90 mediante forte redução tarifária geral e pelo Acordo de Ouro Preto de 1994, da partida a um conjunto de politicas de minimização do conceito de mercado interno (Delgado,2012 pág.85).

Para isso as cooperativas precisavam ter um corpo de técnicos capacitados (tecnocratas), para desenvolver as ações. Por essa razão, a COCAMAR passou a imprimir um vigoroso programa de reestruturação interna, combatendo os seguintes pontos de ineficiência: a) estrutura organizacional pesada; b) aumento dos níveis de endividamento; c) elevado percentual de associados inoperantes; d) excesso de atividades de apoio (JARDIM JUNIOR, 2005 apud CHIARIELLO). A cooperativa iniciou um processo de enxugamento dos cargos diretivos, buscando agilizar o processo decisório, dando à sua gestão um caráter extremamente técnico. O ano de 1995 marcou o ápice da crise interna na COCAMAR. Em pesquisa realizada junto à COCAMAR, Rodrigues (2000) apud CHIARIELLO aponta que, até a concretização da crise, a cooperativa adotava uma postura de responsável pelo desenvolvimento regional, por meio de medidas que buscavam a diversificação da produção, priorizando os interesses dos cooperados e produtores locais. Para a direção da cooperativa, tal postura imprimia um caráter assistencialista à gestão da COCAMAR.

Ainda em 1995, a COCAMAR enfrentou sérios problemas financeiros resultantes da inadimplência de alguns cooperados; estrutura de capital deficiente; gestão equivocada de investimentos e elevação dos custos financeiros. De acordo com Chiariello, nessa época, a cooperativa tentava negociar uma dívida acumulada de R$140 milhões com bancos, o que representava 65% do seu endividamento total, enquanto suas atividades apresentavam um faturamento da ordem de R$350 milhões e um resultado operacional de R$12 milhões.

Tendo em vista que essa crise se generalizou no setor cooperativo rural no período, e como forma de equacionar os débitos e promover a reestruturação financeira, em 03 de setembro de 1998 o governo federal editou a Medida Provisória 1715, instituindo o Programa de Revitalização das Cooperativas de Produção Agropecuária, o RECOOP, tendo como objetivo promover o desenvolvimento autossustentado das cooperativas, dando a elas condições de competitividade e efetividade, que resultassem na manutenção e melhoria do emprego e renda. Para ter acesso aos recursos do RECOOP, as cooperativas deveriam apresentar Plano de reestruturação, demonstrando a viabilidade técnica e econômica da cooperativa; e promover o fechamento de linhas de produção deficitárias; Também foram estimulados processos de aquisição e fusão de cooperativas; Projetos de capitalização; de profissionalização da gestão; Plano de organização e profissionalização dos cooperados; e monitoramento do plano de desenvolvimento das cooperativas (CHIARIELLO, 2006).

Em 1998, a COCAMAR obteve acesso a R$ 160 milhões via RECOOP e se comprometeu a executar as reformas internas condicionantes da repactuação. A renegociação possibilitou a redução de cerca de 50% de seu passivo bancário, com juros médios de 4,8% ao ano e prazo de 16 anos para pagamento (CHIARIELLO, 2001). Com a injeção de crédito oficial, a COCAMAR passou a apresentar uma crescente capacidade de capitalização. Atualmente a Cooperativa se encontra entre as maiores do Brasil.

 

Dados Gerais da COCAMAR

Nº Associados

Nº Funcionários

Receita Global

1994

7.879

2.888

351,36

1995

6.598

2.469

348,07

1996

6.119

2.404

309,66

1997

5.771

2.062

287,99

1998

5.544

1.793

219,55

1999

5.446

2.402

188,46

2000

4.078

2.629

264,70

2001

5.460

2.600

264,68

2002

5.507

2.700

265,05

Fonte: Rodrigues apud Inocêncio-Rodrigues (2000) e Banco de Dados Cocamar (2003)

 

Biografia do Autor

Débora Alice Coelho, Universidade Federal da Fronteira Sul Laranjeiras do Sul

 

 

 

 

Publicado
23-09-2016