TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM EM PINHALZINHO – SC A PARTIR DA EXPLORAÇÃO MADEIREIRA ENTRE AS DÉCADAS DE 1940 A 1970
Resumo
1 Introdução
Até o início da colonização a região oeste do estado de Santa Catarina era ocupada por diversas famílias caboclas, na maioria sob o regime da posse. Estas possuíam práticas relacionadas ao uso comum da terra e dos recursos naturais em atividades como a criação de animais, principalmente o porco e a extração da erva-mate, enquanto a agricultura era realizada principalmente para a subsistência.
A baixa ocupação demográfica e o uso da floresta com poucas intervenções era a principal característica da paisagem regional. A colonização, iniciada na década de 1920, trouxe novas concepções de uso e posse da terra, dando origem, a partir de então, a um processo de intervenção humana e transformação da paisagem cada vez mais profundo, devastando a floresta para a formação de lavouras e a exploração de seus recursos madeireiros.
Para compreender tal processo, foi escolhido o município de Pinhalzinho – SC como recorte espacial. Pinhalzinho foi colonizado por migrantes gaúchos de descendência alemã desde a década de 1930. As terras foram comercializadas pela Companhia Territorial Sul Brasil, entretanto como estas já eram ocupadas por caboclos desde o final do século XIX, ocorreram diversas disputas e despejos dos caboclos sempre amparados pelo Estado, pois estes poderiam “atrapalhar” a comercialização das terras (FERRARI, 2010).
A partir da colonização, a região também passou a receber a atuação de empresas madeireiras desde os anos 1940, convertendo espaços antes dominados pela floresta em terras destinadas a exploração agrícola e a produção de suínos e posteriormente a atividades do setor comercial e industrial.
2 Objetivo
A pesquisa, que faz parte do projeto de iniciação científica intitulado “Memórias e imagens de uma paisagem em transformação: colonização e desmatamento no Oeste de Santa Catarina” tem por objetivo analisar, através da memória de antigos moradores da região e do uso de imagens, o processo de transformações sócio-ambientais da região Oeste de Santa Catarina expressa em sua paisagem.
3 Metodologia
A fim de atingir os objetivos propostos foi realizada uma coleta de informações em órgãos públicos e em empresas privadas, sobretudo aqueles ligados a população cabocla e a colonização da região. Foram pesquisados órgãos públicos, como museus, dentre os quais se destaca o Museu Histórico de Pinhalzinho, o qual forneceu imagens e entrevistas que foram de suma importância no decorrer da pesquisa.
4 Resultados e discussões
A análise da paisagem, vista como um documento torna possível ler as relações entre os homens e a natureza, integrando as características e os elementos tanto físicos quanto humanos tanto do passado quanto suas heranças no presente. Desta maneira, a compreensão acerca da construção de uma paisagem não se trata mais em contentar-se com a descrição do meio ambiente no qual vivem e trabalham os homens, entretanto, procura-se compreender as relações complexas estabelecidas entre os indivíduos e os grupos, as identidades que ali nascem e se desenvolvem, bem como ao ambiente que estes transformam (CLAVAL, 2004, p. 71).
Através dos referenciais apresentados torna-se possível analisar as transformações da paisagem no município de Pinhalzinho-SC a partir da exploração madeireira entre os anos de 1940 e 1970. A atuação de empresas madeireiras converteu espaços antes dominados pela floresta em terras destinadas a exploração agrícola e a produção de suínos e posteriormente a atividades do setor comercial e industrial.
Neste período, a indústria madeireira era a principal atividade econômica, onde se destacava a exploração de cedros e pinheiros. Dentre as serrarias instaladas nesse período, destacam-se empresas como as serrarias Campos, a Eckert, Klauck e Scheneider e a Pinhalzinho, uma vez que estas, ao constituírem as primeiras serrarias do município foram responsáveis por efetuar uma “limpeza da área” a fim de possibilitar a expansão de áreas de produção agrícola, conforme aborda Eckert (2002).
Assim, evidencia-se a parceria estabelecida entre a colonizadora e as empresas madeireiras, pois, assim a área ficaria livre para a produção agrícola e as empresas obteriam sua matéria prima. Portanto, depreende-se que a derrubada das matas já fazia parte do processo de colonização, uma vez que muitos dos colonos já haviam trabalhado com a exploração madeireira no Rio Grande do Sul. Isso fica evidente, pois “em 1931, chegaram a Pinhalzinho os primeiros migrantes vindos de Selbach, no Rio Grande do Sul, os quais vieram com o objetivo de construir uma serraria, instigados por notícias de um denso pinhal” (SCATOLIN, 2011, p.97).
5 Conclusão
Evidencia-se, com esse texto, que a ação dos homens sobre o espaço com temporalidades, espacialidades e culturas distintas imprimem sobre a paisagem marcas singulares, (re) constituindo-a e (re) significando-a, tornando-a, deste modo uma paisagem cultural, sujeita a mudanças. Assim, o processo de colonização seria um importante elemento na mudança da paisagem, onde a floresta passou a servir como produtora de mercadorias para a reprodução de uma sociedade capitalista.
Deste modo, se pode perceber que a devastação da floresta era vista como uma transformação ambiental a fim de efetivar a ideologia do “progresso”, aproveitando o que, no entender do colonizador, era “rejeitado” ou mal aproveitado pelos antigos habitantes da região. Nesta perspectiva, a derrubada das matas já fazia parte do processo de colonização. Assim, a questão não era simplesmente destruir a floresta, mas o modo como esta seria utilizada.
Referências
CLAVAL, Paul. A paisagem dos geógrafos. In: CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny (orgs) Paisagens textos e identidade. Rio de Janeiro: Ed UERJ,2004.
ECKERT, Ivo. Bonito pinhal Pinhalzinho: a saga dos pioneiros. Florianópolis: Gráfica Floriprint, 2002.
FERRARI, Luiz Fernando. Pinhalzinho: aspectos geográficos, história e educação. In: BEN, Fernanda et al. Retratos, memória e fragmentos da história de Pinhalzinho-SC. Pinhalzinho: Schaefer, 2011.
SCATOLIN, Leocádia Pavan. Pinhalzinho: aspectos geográficos, história e educação. In: BEN, Fernanda et al. Retratos, memória e fragmentos da história de Pinhalzinho-SC. Pinhalzinho: Schaefer, 2011.
Submeto o trabalho apresentado como texto original à Comissão Científica da XIII JIC, o qual apresenta os resultados de subprojeto de pesquisa, e concordo que os direitos autorais a ele referentes se tornem propriedade do Anais da XIII JIC da UFFS.
Observação: Caso o trabalho possua caráter sigiloso, o apresentador deve informar à Comissão Organizadora através do e-email jic.dpe@uffs.edu.br nos prazos indicados no Regulamento (www.uffs.edu.br/jicsimpos).