Avaliação de cultivares de aveia branca para produção de silagem

  • Fábio Politoski Universidade Federal da Fronteira Sul Cerro Largo
  • Gilmar Roberto Meinerz
  • Juarez JOHNE Johne
Palavras-chave: forragem, fermentação, pecuária.

Resumo

1 Introdução

A aveia branca (Avena sativa L.) é originária do Mediterrâneo. Há indícios de que tenha sido cultivada desde o ano 2000 a.C. e evidências arqueológicas de que foi encontrada no norte da Europa (Kluge et al). Também há indícios de que este cereal foi encontrado na Ásia.

Segundo Fontaneli et al (2012), a aveia branca possui vários propósitos, tanto para alimentação humana, suprindo a indústria de cereais matinais, como flocos e farinha, quanto animal, muito utilizada na composição de pastagens anuais de inverno, inclusive sob a forma de feno e silagem, sendo possível também a realização de silagem de grão úmido, salientando que a aveia branca possui grão maior que a aveia preta e cerca do dobro do peso.

A aveia branca também é cultivada com duplo-propósito, sendo pastejada durante fins de outono até meados do inverno e, depois, utilizada para a produção de grãos ou silagem (Fontaneli et al., 2012). Há, no entanto, um grande número de genótipos disponíveis no mercado, o que gera dificuldades na escolha dos genótipos mais aptos para cada finalidade.

2 Objetivo

O presente trabalho teve por objetivo avaliar cultivares de aveia branca para produção de silagem. Avaliou-se o potencial produtivo desta gramínea, sua composição estrutural, características fermentativas da silagem e recuperação de matéria seca.

3 Metodologia

O experimento foi realizado nas dependências na área experimental da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Cerro Largo/RS. O clima da região, de acordo com a classificação climática da Koppen, é do tipo Cfa. O solo do local é classificado como Latossolo Vermelho Distroférrico Típico.

O delineamento experimental utilizado na pesquisa foi o inteiramente casualizado (DIC) com quatro tratamentos (genótipos de aveia branca FUNDACEP FAPA 43, BRS Centauro, URS Guapa e URS Corona,) e quatro repetições. Foram implantadas 16 parcelas, nas quais foram avaliados o potencial de produtividade, composição estrutural, características fermentativas da silagem e recuperação de matéria seca. As parcelas possuíam tamanho de 1,36m de largura, por 10m de comprimento, totalizando 13,6m² por parcela.

A adubação de base foi realizada através de análise de solo coletada anteriormente, sendo feita a devida correção no solo, não sendo necessária a aplicação de calcário. A adubação nitrogenanda, dividida em três aplicações foi de 80 kg/N/ha, sendo distribuídos 10 kg/N/ha, 40 kg/N/ha e 30 kg/N/ha, respectivamente.

A população de sementes utilizada no experimento foi de 400 sementes viáveis por m², sendo contabilizados os danos mecânicos durante a semeadura.  A aveia foi ensilada no estádio de grão pastoso. Para as avaliações de rendimento foram cortadas duas amostras por parcela, utilizando um ancinho para o procedimento. O corte das parcelas inteiras foi feito à uma altura de 10 cm do solo para deixar residual da cultura no solo.

Após a separação do material, foi colocado o mesmo em sacos de papel, identificando cada qual por sua cultivar e secando em estufa a 55ºC até atingir peso constante. Depois, foi realizada nova pesagem e, posteriormente, calculado a participação de cada componente da massa de forragem da ensilagem. A ensilagem foi realizada mediante a trituração do material em partículas de 1-3cm e posterior compactação em silos experimentais de PVC, de aproximadamente 8kg. A abertura dos silos foi feita 60 dias após a ensilagem, avaliando-se o pH das silagens, o % de matéria seca e a recuperação do material ensilado, para posterior análise do rendimento ajustado. Os dados coletados foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

 

4 Resultados e Discussão

Para o % de MS pré-ensilagem a que teve maior percentual foi a URS Guapa, sendo que as outras cultivares foram iguais entre si. Convém salientar que os teores de MS de todas as cultivares estiveram próximos ou acima de 30%, valor indicado por Van Soest (1994) como ideais para o processo de ensilagem.

Em relação ao rendimento de MS (Tabela 1) foi observado que as cultivares URS Corona e a BRS Centauro foram as que mais produziram, sendo semelhantes entre si, com produção pouco abaixo de 20.000 kg/ha. Já as cultivares FAPA 43 e a URS Guapa foram as de menor produção em relação às primeiras cultivares, mas apresentando desempenho semelhante entre si, com resultados próximos a 10.000 kg/ha. Observou-se bom rendimento se comparado a outros experimentos já realizados, como o de Fontaneli et al. (2011), que obteve rendimento de MS de 11.400 kg/ha em corte realizado em estádio de grão de massa dura de aveia branca.

Para a densidade dos silos, os maiores valores foram das cultivares Fundacep FAPA 43 e a URS Corona, com densidades próximas de 500 kg/m³. Já as cultivares BRS Centauro e a URS Guapa foram os genótipos que tiveram menor densidade de silo, com resultados próximos a 400 kg/m³. Isto se deve, principalmente, aos teores mais baixos de MS que a forragem destas cultivares apresentou no momento da ensilagem (Tabela 1).

No percentual de MS da silagem, a cultivar que apresentou maior valor foi a URS Guapa, acima de 40%. As cultivares BRS Centauro e a URS Corona tiveram percentuais intermediários, com valores na casa dos 30%. As cultivares FAPA 43 URS Corona, foram as que apresentaram percentuais de MS mais baixos. Convém ressaltar que os percentuais de MS da silagem foram menores do que os da forragem inicial, explicitando o efeito da fermentação anaeróbica na redução dos teores de MS. Na recuperação de MS, as cultivares não diferiram entre si e os valores médios ficaram próximos a 92%. Para a produção de silagem, as cultivares que obtiveram melhores resultados foram as cultivares BRS Centauro e a URS Corona.

Os valores de pH das silagens (Tabela 2), não diferiram entre si, com valores próximos a 5. Este valor é considerado alto, mas se justifica pelos elevados percentuais de MS. Contudo, esse valor é considerado ideal de acordo com o entendimento de Mcdonald et al. (1991), para os teores de MS observados. Assim, mesmo com valores de pH considerados elevados, os valores de recuperação de MS foram satisfatórios.

Avaliando-se as perdas por efluentes, a cultivar que apresentou maiores perdas foi a BRS Centauro e a cultivar que menos perdeu foi a URS Guapa. As perdas, no entanto, podem ser consideradas baixas, de acordo com Loures & Nussio (2002), que observou perdas de 50 a 300 l/ton de forragem, considerando valores totais, tanto de proteínas, carboidratos e minerais, devido principalmente a umidade e má compactação, o que demonstra que a silagem foi bem compactada e fechada com rapidez. Para a perda por gases, os 4 genótipos não diferiram.

 

5 Conclusão

Com base nos resultados descritos anteriormente, conclui-se que as cultivares URS Corona e a BRS Centauro são as que se sobressaem e obtém os melhores resultados de produtividade de silagem.

Biografia do Autor

Fábio Politoski, Universidade Federal da Fronteira Sul Cerro Largo

Acadêmico do curso de Agronomia

 

Referências

FONTANELI, R.S et al. Forrageiras para integração lavoura-pecuária na região sul-brasileira. 2011. 7f. Encontro de Integração Lavoura-pecuária no Sul do Brasil. Pato Branco. 2011.

KLUGE, Elizandro Ricardo, et al. Potencial genético de cultivares de aveia branca (Avena Sativa L.) do sul do Brasil, produtividade e os componentes de rendimento. 65ª Reunião anual da SBPC..

LOURES, D.R.S.; NUSSIO, L.G. Produção de efluentes em silagem úmida. 2002. Disponível em: http://www.beefpoint.com.br/radares técnicos/conservação de forragens.

McDONALD, P.; HENDERSON, N.; HERON, S. The biochemistry of silage. 2 ed. Marlow: Chalcombe Publications, 1991. 340p.

VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2.ed. New York: Cornell University Press, 1994. 476p.

Publicado
10-10-2016