REPORTAGEM PÚBLICA 2015: ATUAÇÃO DA AGÊNCIA PÚBLICA MEDIANTE AO JORNALISMO LIVRE E INDEPENDENTE

  • Ana Carolini Fragoso Universidade Comunitária da Região de Chapecó- Unochapecó
Palavras-chave: Crowdfunding, webjornalismo, jornalismo independente, Agência Pública

Resumo

1 Introdução

Com o desenvolvimento e aperfeiçoamento das tecnologias da comunicação e da informação e, sobretudo, com a popularização da internet, o jornalismo passa a estabelecer movimentos de ressignificação e adaptação dos formatos de produção e veiculação dos conteúdos. Neste sentido, o aperfeiçoamento e desenvolvimento das tecnologias da comunicação e informação passam a adaptar e dar novos significados aos modos de fazer do jornalismo convencional. A “mídia tradicional” reformula suas produções no chamado jornalismo convergente (LONGHI,2012), no entanto os valores que sustentam o fazer jornalístico parecem permanecer os mesmos na era digital (AGUIAR,2009). As reformulações encontradas no jornalismo convergente para web, o webjornalismo, apontadas por Longhi (2012) provocam mudanças também nas ferramentas usadas para a construção e no financiamento de reportagens.

Neste sentido, surge no Brasil em janeiro de 2001 a primeira comunidade de financiamento coletivo, intitulada “Catarse”. A plataforma de crowdfunding usa da participação do público para a viabilização de projetos disseminados pelo canal. Neste cenário encontra-se a possibilidade de microfinanciamentos de projetos jornalísticos que se dispõe a realizar papel diferenciado da mídia convencional. Esta é a proposta da Agência Pública, Agência de reportagens e jornalismo investigativo, objeto de análise da pesquisa. A Pública é uma organização sem fins lucrativos focada, segunda ela, na produção de um jornalismo livre de interesses monetários e desligada a investidores. Utilizando dos recursos dispostos pelo Catarse, a Agência Pública de jornalismo viabilizou em 2015 o Reportagem Pública através de crowdfunding. A proposta prevê a produção de dez pautas votadas pelo público durante 2015 e 2016, abordando diversas temáticas, enfoques e valores notícia. Neste sentido, a pesquisa propôs a compreensão e analise do funcionamento, produção (valores notícia) e atuação da Pública enquanto jornalismo independente e investigativo.

 

2 Objetivo

Compreender a Agência Pública mediante análise de conteúdo com base em critérios de noticiabilidade de cinco (5) reportagens financiadas coletivamente em 2015.

3 Metodologia

Em relação ao universo da pesquisa, foi realizada análise de conteúdo primária das cinco primeiras reportagens produzidas pelo projeto Reportagem Pública 2015. Para dar subsidio as análises, foi realizado aprofundamento teórico por meio de pesquisa bibliográfica, dando ênfase no conhecimento de conceitos, métodos e técnicas do jornalismo e crowdfunding, bem como reflexões sobre mídia, ativismo e jornalismo independente. Junto a pesquisa bibliográfica foi efetuado o mapeamento do material posteriormente analisado, descrevendo processos e atuação do financiamento coletivo, Agência Pública e Catarse, bem como mapeamento das características e estruturas das reportagens já publicadas pelo Reportagem Pública 2015.

Para discussão e análise dos critérios de noticiabilidade, foi selecionado estudos de Silva (2014), utilizando dos valores notícia categorizados pela autora. Estes, por sua vez, utilizados na criação de tabelas que visaram qualificar e quantificar os valores e critérios aplicados pela Pública em suas reportagens publicadas. O mapeamento da Agência Pública identificou a organização, funcionamento, equipe, estrutura, parceiros e financiadores do veículo e sua linha editorial como base para as análises mais aprofundadas com olhar direto para as reportagens e em breve entrevista com a jornalista da Pública, Jéssica Mota em participação a Semana Acadêmica do curso de Jornalismo da Unochapecó. Para as análises foi empregado o método de análise de conteúdo, que se baseia na observação de mensagens que “cumprem com os requisitos de sistematicidade e confiabilidade” (CORRÊA in DUARTE 2011, p.286). Neste sentido, possuindo como objeto de análise as reportagens financiadas através da plataforma Catarse, houve sistematização e direcionamento das investigações adentrando fontes, multimidialidade, técnicas jornalísticas e valores notícia.

4 Resultados e Discussão

A entrevista realizada com repórter Jéssica Mota, unida às observações do portal online da Pública, possibilitou visualizar a estrutura e funcionamento, constatando que a Pública não conta com venda de espaços publicitários em seu portal, possuindo recursos financeiros provindos de fundações e doações, o que a caracteriza como praticamente de jornalismo independente ao considerar o termo como aquele desprovido de interesses e relações a instituições monetárias. O acompanhamento da fonte em seu meio de vivência, percebendo sua causa e motivação para compreender seu discurso também foi ressaltado como ponto importante durante as entrevistas realizadas pelos jornalistas da Pública. Neste sentido, pode-se recorrer às ideias de Sponholz (2009) que ressalta que a investigação é a base para noticiar de forma objetiva, e as observações auxiliam na percepção do profissional para correlacionar realidade midiática e realidade social.

Já as interações entre público e produtores revelaram a participação através de interação reativa, baseando-se apenas em comentários de interações via redes sociais. Desta forma, a conexão entre público e Agência Pública por viés de jornalismo participativo visto por Gillmor (2004 apud BAMBILLA 2005), baseando-se na ideia da prática comunitária do jornalismo, não pôde ser identificada.

 

5 Conclusão

Os mapeamentos e reflexões realizados caracterizaram a Pública como jornalismo independente, atuando diferentemente da grande mídia, observando: utilização de fontes testemunhais e pouco uso de fontes oficiais, apesar da utilização do jornalismo de base de dados; eixos temáticos e abordagens; reportagens em profundidade com recursos multimidiáticos diversos; utilização de jornalismo literário, com detalhamento de informações (ambiente, expressões de entrevistados) e utilização de sarcasmos e ironias. Também pôde constatar os valores notícias recorrentes nas cinco primeiras reportagens do Reportagem Pública 2015: proximidade; justiça e conflito.

 


Referências

CATARSE. Reportagem Pública 2015. Disponível em < https://www.catarse.me/reportagempublica2015> Acesso em 30 de Jan de 2016.

DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (Org.). Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. São Paulo: Atlas, 2005.

LONGHI, Raquel Ritter (Orgs); D'ANDREA, Carlos (Orgs.). Jornalismo convergente: reflexões, apropriações, experiências. Florianópolis: Insular, 2012.

ORDANINI, Andrea, et al. Crowd‐funding: transforming customers into investors through innovative service platforms. Journal of Service Management, Vol. 22. Milão 2011. Disponível em <http://www.emeraldinsight.com/doi/abs/10.1108/09564231111155079> Acesso em 28 de mai. 2015.

SILVA, Gislene; SILVA, Marcos Paulo; FERNANDES, Mário Luiz (Orgs.). Critérios de noticiabilidade: problemas conceituais e aplicações.Florianópolis: Insular, 2014.

Publicado
19-09-2016