EFEITO DA TEMPERATURA DA ÁGUA EM CULTIVO DE CAMARÕES DE ÁGUA DOCE Macrobrachium rosenbergii (DE MAN, 1879) E Macrobrachium amazonicum (HELLER, 1862)

  • Lucas Fabrício Vogel Universidade Federal da Fronteira Sul

Resumo

1 Introdução

O cultivo de camarões de água doce desponta como atividade de grande interesse na aquicultura, dentre os quais destaca-se o gênero Macrobrachium (VALENTI, 1996). A atividade apresenta aspectos positivos quando comparado ao cultivo do camarão marinho como: menor suscetibilidade a doenças; cultivo longe de zonas costeiras; possibilidade de policultivo e cultivo consorciado com outras atividades (NEW et al., 2000).

A carcinicultura de água doce é pouco desenvolvida na região sul, onde o cultivo está restrito a aproximadamente sete meses, nos quais a temperatura permite maior crescimento (VALENTI, 1996).

2. Objetivo

Estudo do efeito de baixas temperaturas sobre parâmetros zootécnicos de Macrobrachium rosenbergii e Macrobrachium amazonicum.

3. Metodologia

Foi realizado experimento de letalidade sob baixas temperaturas para as espécies M. rosenbergii e M. amazonicum. No ensaio, 03 grupos de 05 animais de cada espécie, com peso médio de 0,86 ± 0,1g para M. amazonicum e 1,714 ± 0,4g para M. rosenbergii, foram alocados em equipamento de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) para controle da temperatura, em aquários de 3 L, com aeração constante e fotoperíodo de 12h luz. Após aclimatação de 24 horas à 22 ºC os animais foram submetidos a temperaturas decrescentes, de -1 °C a cada 24 horas, até 100% de mortalidade. Foi oferecido diariamente ração comercial 40% PB á 5% da biomassa. Os animais mortos foram registrados e retirados do ensaio três vezes ao dia. Efetuou-se análise de regressão linear e regressão exponencial para estimativa de temperatura letal acumulada.

Em um segundo ensaio 180 animais (M. rosenbergii) com peso médio de 0,2g foram divididos em 12 grupos e submetidos à 17, 20, 24 e 29 °C com três repetições. O experimento teve duração de 15 dias, em aquários de 3 L, com aeração constante e  temperatura mantida com o uso de aquecedores, em laboratório climatizado à 17 °C. Foram realizadas análises de temperatura, oxigênio, pH e amônia e limpeza dos aquários diariamente. Os animais foram alimentados diariamente com ração comercial 40% PB á 5% da biomassa. Os animais foram pesados no início e ao final do ensaio para cálculo de ganho de peso e  foram realizados registros de mortes ao longo do ensaio. Os dados foram analisados quanto a homocedasticidade e normalidade, seguidos de Anova e teste de Tukey com 5% de probabilidade. O comportamento alimentar dos animais foi identificado pela atividade de procura do alimento durante 05 minutos após o fornecimento.

4. Resultados e discussão

No ensaio de letalidade em baixas temperaturas os animais foram mantidos em equipamento climatizado, sob as mesmas condições. Os valores experimentais de mortalidade, descritos na figura 01, demonstram que a equação exponencial representa melhor a resposta dos animais das duas espécies frente à redução da temperatura. Soares et al. (2012) utilizaram a regressão linear para estimar as temperaturas letais para a espécie Farfantepenaeus paulensis. Nesse experimento foram apresentadas as duas equações, no entanto, devido à baixa correlação entre as duas variáveis na regressão linear e devido aos efeitos fisiológicos gerais não serem bem representados por equações lineares, as equações de regressão não-linear foram selecionadas para estimar as temperaturas de mortalidade total neste trabalho. A temperatura de mortalidade total estimada para M. rosenbergii foi de 13,13 °C e para M. amazonicum foi de 13,64 °C. Porém, para sobrevivência total, a estimativa linear é mais adequada por representar melhor a realidade experimental. Para M. rosenbergii a temperatura para sobrevivência total foi estimada em 19,21 °C e para M. amazonicum em 19,5 °C. Fica evidente que as duas espécies apresentaram respostas bastante semelhantes.

 

B

 

A

 

Figura 01 – Valores de equações linear e não linear obtidos para M. rosenbergii (A) e M. amazonicum (B) a partir de valores de mortes acumuladas sob diferentes temperaturas.

No ensaio de crescimento de animais submetidos a diferentes temperaturas, foi identificada diferença da taxa de sobrevivência dos animais (figura 02). Em temperaturas inferiores a 24 °C foi observado a redução do consumo alimentar e da atividade dos animais, sendo a maior movimentação, identificação de captura de alimento e ausência de sobras verificadas na temperatura de 29 °C.  Porém, não houve variação de ganho de peso dos animais submetidos às diferentes temperaturas (Tabela 01).  Outros experimentos com maior tempo de execução são necessários para avaliar o ganho de peso a longo prazo.

 

Figura 02 - Médias e desvio padrão para porcentagem de sobrevivência dos camarões sob diferentes temperaturas. *Difere estatisticamente (P<0,05)).

Tabela 01 – Dados médios (± desvio padrão) do peso úmido no início e no 15° dia de cultivo de pós-larvas de Macrobrachium rosenbergii em diferentes temperaturas.

Temperatura (°C)

Peso (gramas)

Incial

Final

Ganho de peso

 

PU (mg)

17

0,18±0,02

0,24 ± 0,51

0,06 ± 0,05

20

0,18±0,02

0,21 ± 0,01

0,03 ± 0,05

24

0,18±0,02

0,24 ± 0,52

0,06 ± 0,03

29

0,17±0,02

0,20 ± 0,15

0,03 ± 0,04

 

5. Conclusão

Temperaturas inferiores a 20 °C são criticas e temperaturas entre 13 e 14 °C são letais às espécies M. rosenbergii e M. amazonicum.

Para M. rosenbergii, o cultivo em temperatura de 29 °C garante maior movimentação e captura de alimento. Temperaturas abaixo de 24 °C reduzem o consumo alimentar e a temperatura de 17 °C causa redução de sobrevivência.

 

Palavras-chave: Carcinicultura; Letalidade; Atividade alimentar; Crescimento; Sobrevivência.

Fonte de Financiamento

PIBIC - UFFS

Referências

NEW, M. B.; VALENTI, W.C.; TIDWELL, J. H.; D’ABRAMO, L.R.; KUTTY, M. N. Freshwater Prawns Biology and Farming. Editora: Wiley-Blackwell - John Wiley& Sons, Ltd. p. 544.  2010.

SOARES, R.; PEIXOTO, S.; BIANCHINI, A; CAVALLI, R.; WASIELESKY, W. Efeito da temperatura na sobrevivência, consumo alimentar e crescimento de pós-larvas do camarão-rosa Farfantepenaeus paulensis. Atlântica, Rio Grande, v. 34, n.1, p. 23-30, 2012.

VALENTI, W. C. Criação de Camarões em Águas Interiores. Boletim Técnico do CAUNESP n.2, Jaboticabal: FUNEP, 1996. 81p.

 

 

Publicado
20-09-2016