RASTREAMENTO DA PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS EM ESTUDANTES DE ENFERMAGEM A PARTIR DE UM ESTUDO DE COORTE

  • Talita Cristina Pegorin Universidade da Fronteira Sul- UFFS
  • Anderson Funai Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP.
Palavras-chave: Estudantes de enfermagem. Saúde Mental. Transtornos Mentais.

Resumo

Introdução: Jovens universitários compõe um grupo frequentemente estudado por diferentes pesquisadores em âmbito nacional e internacional. O ambiente universitário denota de diferentes experiências que irão permear de forma direta a dinâmica de vida do estudante. Sabe-se que o período de graduação, e o conjunto de fenômenos atrelados a ela, pode possibilitar a adoção de comportamentos que interfiram nas condições biopsíquico com possível impacto social assim como a exposição a diferentes fatores associado ao ambiente universitário. Os transtornos mentais comuns (transtorno de ansiedade, depressão e somatização) 1, são fenômenos que podem interferir na vida do estudante universitário, tanto quanto nos fatores que irão desencadeá-los quanto na sua própria intensificação. Nesse sentido, evidencia-se que muitos indivíduos irão apresentar o seu primeiro episódio psiquiátrico durante o período da graduação e, aproximadamente, 12% a 18% dos universitários apresentam alguma doença mental capaz de ser diagnosticada2 .Objetivo: Esse estudo teve como objetivo descrever a ocorrência de transtornos mentais comuns em uma turma de enfermagem, a partir das análises realizadas, decorrente do projeto de pesquisa intitulado comportamentos de saúde, uso de álcool, transtornos mentais comuns, religiosidade e desempenho escolar de estudantes de enfermagem – um estudo de coorte, sob edital 281/UFFS/2015 PRO ICT/UFFS, vigente no período de agosto de 2015 a julho de 2016. Metodologia: Trata-se de um estudo longitudinal do tipo coorte, realizado com os alunos ingressantes no primeiro semestre de 2015, do curso de enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul. As avaliações ocorreram no primeiro semestre de 2015, a partir de um instrumento validado em âmbito nacional, cujo sua utilização é baseada no rastreamento de transtornos mentais não psicóticos, o Self-Reporting Questionnaire – SRQ-20. As coletas de dados serão ainda realizadas uma vez ao ano durante os próximos 3 anos. Destaca-se que esse instrumento composto por 20 perguntas correspondentes as respostas “sim” ou “não”. Destas perguntas, 4 dizem respeito a sintomas físicos e 16 sobre desordens psicoemocionais. Esse instrumento avalia aos últimos 30 dias, e a cada resposta “sim” é atribuído um ponto, resultando em uma pontuação final que varia de 0 a 20 pontos, considerando que um escore maior ou igual a oito representa possiblidade de sofrimento mental. A análise foi realizada por meio da elaboração de um banco de dados no programa Statistical Package Social Science v 22.0 for Windows – SPSS.  Os direitos éticos foram assegurados conforme a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde. O estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal da Fronteira Sul, CAAE: 41147614.0.0000.5564. Resultados e Discussão: A pesquisa contou no total com 41 estudantes que se disponibilizaram a participar do estudo da coorte, sendo que, entre os participantes, 40 do sexo feminino e 01 masculino, com média de idade de 20,3 anos. Constatou-se, a partir da aplicação do SRQ 20 aos integrantes da pesquisa, um total de 39% (16) dos estudantes que pontuaram maior igualitariamente ou 8 ou mais pontos, considerando que valores iguais ou maiores a esse valor, sinalizam a elevada possibilidade de sofrimento mental. Estudos realizados com estudantes universitários, avaliando também os transtornos mentais comuns nessa população, demonstram resultados variados a essa condição. Em pesquisa realizada com universitários de Educação Física, Enfermagem, Odontologia e Medicina da Universidade de Pernambuco, utilizando o mesmo questionário de rastreamento, SQR-20, com uma população de um total de 443 estudantes, obtiveram uma prevalência geral de TMC de 34,1%3. Também, em outro estudo nacional realizado com 76 estudantes de enfermagem, em períodos variados, abrangendo início e quase término da graduação (sétimo semestre), avaliando a prevalência de (TMC) também a partir do uso do SQR-20, observou-se que um número expressivo referente a essa condição, sendo que, 46, 1% dos estudantes afirmaram sentirem-se nervosos, tensos ou preocupados” e com“humor depressivo/ansioso”4. Outro estudo buscando também avaliar a mesma relação, com o mesmo instrumento utilizado embora com estudantes de medicina, de uma universidade pública brasileira, encontrou nessa população (229 questionários aplicados) uma prevalência de 37,1%5. Diante aos resultados das pesquisas já produzidas com objetivo semelhante, observa-se que mesmo em estudantes ingressantes a prevalência de sofrimento mental está dentro dos valores encontrados em outras amostras estudadas no país. Embora ocorra essas divergências, os estudos trazidos com a finalidade de comparação com a realidade dessa pesquisa, buscou-se utilizar o mesmo mecanismo avaliativo (SQR-20) como finalidade de estabelecer melhor parâmetro comparativo. Desta forma, torna-se perceptível que, diante da amostra encontrada nesse estudo, o total correspondente a prevalência de (TMC) demostrou valores significativos. Conclusão: Conclui-se a partir dos resultados iniciais do estudo que, os estudantes de enfermagem participantes da pesquisa, apresentam sofrimento mental considerável, podendo refletir na relação entre o ambiente universitário a dinâmica de vida do estudante. Destaca-se, mediante aos resultados encontrados, a necessidade de uma abordagem para o padrão apresentado de sofrimento mental, considerando que, existe uma gama de recursos de ordem terapêutica capazes de promoverem intervenção neste nível de sofrimento, porém no cenário nacional não é encontrado programas de promoção da saúde mental em ambiente universitário. O Plano Nacional de Assistência Estudantil – PNAES prevê a atenção à saúde do estudante universitário. Esta pesquisa pretende subsidiar ações no ambiente na universidade participante do estudo.

Referências

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- MOWBRAY, C.T.; MEGIVERN, D.; MANDIBERG, J.M, STRAUSS, S.;STEIN, C.H.; COLLINS, K. et al. Campus mental health services: recommendations for change. J Orthopsychiatry. V.76.n.2.p 226-37, 2006.

- FACUNDES, V. L.D.; LUDERMIR, A. B. Common mental disorders among health care students. Rev. Bras. Psiquiatr. São Paulo, v.27, n.3, Sept. 2005.

- SILVA, B.P.; CORRADI-WEBSTER, C.M.; DONATO, E. C. S.; et al. Transtornos mentais comuns e consumo de bebida alcoólica e tabaco entre estudantes de enfermagem de uma universidade publica na Amazônia ocidental brasileira. Revista. Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drog. v. 10, n. 2, p. 93-100, maio-ago. 2014.

- FIOROTTI, K. P.; ROSSONIL, R.R.; BORGES, L.H, et al. Transtornos mentais comuns entre os estudantes do curso de medicina: prevalência e fatores associados. J Bras Psiquiatr. v.59, n.1, p.17-23. 2010.

Publicado
26-09-2016