A ORGANIZAÇÃO E AS CONCEPÇÕES DA PRÁTICA DE ENSINO EM CURSOS DE LICENCIATURA EM QUÍMICA

  • Joana de Castro Martins Universidade Federal da Fronteira Sul - Cerro Largo
  • Judite Scherer Wenzel
Palavras-chave: Formação Inicial de Professores, Mediação Didática, Práticas de Ensino

Resumo

1 Introdução

O presente resumo contempla resultados de uma pesquisa de iniciação científica, que apresentou como foco o estudo da organização da Prática de Ensino em Cursos de Química Licenciatura do Rio Grande do Sul. Partiu-se do entendimento de que o modelo de formação docente assim como de outra formação profissional, está inserido em diferentes discursos e em diferentes práticas que, sendo históricas, fazem parte de sociedades, pertencem a grupos sociais e, por sua vez, são objetos de reformulações e de revisões ao longo dos anos, seja em função de novas legislações, seja por meio da inserção de novos professores formadores nas Instituições de Ensino. Daí a necessidade de investigar os modos e as concepções das Práticas de Ensino que perpassam a formação inicial.

A prática de ensino como componente curricular tem sido objeto de inserção curricular desde o ano de 2001 de acordo com o Parecer CNE/CP n° 9/2001 e vem se reafirmando no Parecer CNE/CP n° 2/2015. Considerando que tais perspectivas curriculares ainda se mostram recentes junto aos cursos de formação inicial, a presente investigação procurou melhor compreender/visualizar os modos de organização das práticas de ensino em Cursos de licenciatura em Química, tendo como perspectiva a qualificação das discussões acerca dessas práticas.

2 Objetivo

Buscou-se compreender a concepção e os modos de organização da Prática como Componente Curricular em diferentes cursos de Química Licenciatura mediante análise de seus Projetos Políticos Pedagógicos (PPCs) num diálogo com a legislação vigente e com o referencial teórico da área por meio de revisão bibliográfica.

3 Metodologia

A pesquisa se caracterizou como qualitativa pelo uso da análise documental, que segundo Lüdke e André (2013), é vantajoso, pois os documentos persistem ao longo do tempo e podem ser consultados repetidas vezes e, inclusive, servir de base a diferentes estudos, o que dá mais estabilidade aos resultados obtidos.

Iniciou-se por uma leitura atenta da legislação (Pareceres CNE/CP n°s 9/2001, 21/2001, 28/2001, 1/2002, 2/2002, 15/2005 e 2/2015) que vem (re)direcionando os caminhos formativos das licenciaturas. Seguiu-se com uma revisão bibliográfica na revista Química Nova com uma atenção para os trabalhos publicados na sessão educação a partir do ano de 2000. Justifica-se a escolha desse período de tempo, pois foi a partir daí que se intensificou o debate sobre a Prática de Ensino nos Cursos de Formação de Professores e a escolha do periódico pelo seu direcionamento ao Ensino Superior de Química, contemplando assim, a formação inicial de professores.

Em seguida, realizou-se uma busca nos PPCs de Química Licenciatura de Universidades do estado do Rio Grande do Sul no site do Ministério da Educação (MEC). De início selecionou-se as universidades que apresentaram, a partir de 2011, um conceito de Curso igual ou superior a quatro. Das quatorze instituições selecionadas, teve-se acesso à onze PPCs os quais foram objeto de análise pela via Análise Textual Discursiva (ATD) proposta por Moraes e Galiazzi (2007).

4 Resultados e Discussão

Pela revisão bibliográfica foi possível identificar um destaque positivo à inserção da prática de ensino na formação inicial de professores, com atenção aos desafios reais que a acompanham. De um modo geral é considerada um avanço no processo de formação, uma vez que implica outro modo de compreender a docência e as especificidades formativas para esse fim. Em especial a sua inserção é vista como modo de qualificar a reflexão na e sobre o fazer docente, uma aproximação da universidade com a escola, e, em especial, como sendo propulsora da mediação didática pela interface teoria prática.

Para além dos pontos positivos foram apontados desafios no estabelecimento de tal interface, do movimento que qualifique e oportunize o diálogo entre os conteúdos específicos químicos com os modos de ensino, de formação e a realidade da Educação Básica. As principais causas desses desafios que foram indicadas consistiram na formação do professor formador na sua concepção de licenciando que está sendo formado e da carência do seu preparo pedagógico de um modo geral. Um caminho indiciado consiste na elaboração e organização coletiva das Práticas de Ensino (MASSENA, FILHO e SÁ, 2013). Salienta-se que tal parceria poderá ser mais qualificada se realmente houver um diálogo entre os professores formadores e não uma simples divisão de tarefas.

E da análise dos PPCs pela via da ATD emergiram duas categorias, a saber, (a) Prática de ensino no contexto escolar/Interação universidade escola, que contempla uma prática de ensino voltada para a escola. Tal forma de pensar a formação docente vem sendo defendida por Nóvoa (2009), na qual é ressaltada a importância do contexto real no decorrer da formação, que no caso das licenciaturas é o ambiente escolar. E a outra categoria, (b) Prática de ensino no contexto da universidade com um olhar para o ensino, contemplou os PPCs 3, 5, 7 e 9, que apontaram a carga horária de Prática de Ensino para um movimento mais interno, que se caracterizou por contemplar reflexões sobre o ensinar, sobre métodos e elaboração de instrumentos didáticos. Tal categoria denota uma preocupação com a transposição didática, mas não menciona, de forma explícita, um contato efetivo do licenciando com o contexto escolar, como o fazem os PPCs 1, 2, 4 e 6 categorizados na primeira categoria.

A maioria dos PPCs que foram analisados contemplou a inserção da prática de ensino desde o início do curso, inserindo o licenciando na realidade do contexto escolar e/ou realizando reflexões acerca dos trabalhos e metodologias possíveis de serem desenvolvidas. Pode-se dizer que é notória a preocupação dos Cursos com uma formação mais voltada para o exercício da profissão. Isso decorre das novas legislações que vão norteando os currículos. De um modo geral, foi possível perceber que a maioria dos cursos procura trabalhar a prática de ensino como um modo de reflexão na e sobre a ação, sobre a organização escolar no contexto de formação inicial. Silva e Schnetzler (2005) ressaltam que adotar a prática reflexiva significa outra maneira de encarar os professores em formação, uma forma de vê-los como sujeitos de sua própria formação.

5 Conclusão

Por fim, ressalta-se que pelo estudo realizado foi possível evidenciar que a prática de ensino é vista como uma dimensão essencial na articulação teoria e prática nos cursos de formação inicial de professores e os seus modos de organização são muito particulares a cada contexto formativo. Isso indicia a necessidade da ampliação e continuidade da pesquisa visando compreender como ocorre na prática o que está descrito nos PPCs, uma vez que a literatura da área apontou que um dos grandes desafios para qualificar as práticas consiste no efetivo comprometimento dos professores formadores.

Outrossim, foi possível evidenciar uma qualificação nas propostas de formação de professores em detrimento ao modelo formativo calcado na racionalidade técnica, as novas propostas indiciam aspectos de uma racionalidade prática numa inter-relação da formação inicial com o contexto escolar, porém a multiplicidade de maneiras em realizar tais ações instigam e requerem um maior acompanhamento.

Publicado
16-10-2016