INFLUÊNCIA DE EXTRATOS AQUOSOS VEGETAIS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA LAGARTA-DO-CARTUCHO, Spodoptera frugiperda (J. E. Smith, 1797)

  • Leoneli Fandres Wrublak Universidade Federal da Fronteira Sul campus Laranjeiras do Sul
  • Josemar Tomazini Universidade Federal da Fronteira Sul campus Laranjeiras do SUl
  • Edemar José Baranek Universidade Federal da Fronteira Sul campus Laranjeiras do Sul
  • Aline Pomari Fernandes Universidade Federal da Fronteira Sul campus Laranjeiras do Sul
Palavras-chave: Controle alternativo, milho, plantas inseticidas.

Resumo

1 Introdução

A lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda (J.E. Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidade) é a principal praga da cultura do milho (Zea mays L.), atingindo frequentemente o nível de dano econômico, o ataque dessa espécie ocorre em todos os estádios de desenvolvimento da cultura, ocasionando cerca de 38% de perdas na produção (VIANA et al., 2006). Nesse contexto, os inseticidas naturais são uma importante alternativa de controle, apresentando-se como método eficiente e menos agressivo ao meio ambiente, podendo ser utilizado por qualquer sistema de produção, sendo facilmente executado por agricultores e auxiliando no manejo ecológico de pragas, permitindo um desenvolvimento sustentável da agricultura (ALMEIDA et al., 2003).

2 Objetivo

Determinar extratos aquosos de plantas que interferem no desenvolvimento e mortalidade de Spodoptera frugiperda.

3 Metodologia

As lagartas de S. frugiperda foram criadas no laboratório de Entomologia da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) campus Laranjeiras do Sul-PR, sendo reproduzida, em dieta artificial, proposta por Bowling (1967), e metodologia de criação adaptada de Santiago (2005).

Os extratos vegetais utilizados foram de plantas de ocorrência frequente na região Cantuquiriguaçu, passando por processo de secagem e trituração até obtenção de material fino, armazenadas em recipientes hermeticamente fechados e na ausência de luz até seu uso, em condições de temperatura ambiente. Os extratos aquosos utilizados foram na concentração de 10%, obtidos através da mistura do pó vegetal (5g), com água destilada (45ml), agitou-se por 1 minuto em liquidificar do tipo industrial, permanecendo em repouso por 24 horas, em local ausente de luz. Após as 24 horas realizava-se filtragem em tecido fino (“voil”), obtendo uma mistura homogênea e livre de resíduos, sendo usada em até 48 horas após o preparo (SANTIAGO, 2005).

As larvas de Spodoptera frugiperda em diferentes instares foram acondicionadas em placas de Petri, aonde se ofertou, diariamente, folhas de milho embebidas em extratos aquosos. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, constando de 7 tratamentos: cinamomo (Melia azedarach) (50% folha 50% fruto), cinamomo (Melia azedarach) (100% fruto), alamanda (Allamanda cathartica) (70% folhas 30% flores), três marias (Bougainvillea glabra) (100% folha), pimenta cambuci (Capsicum baccatum) (70% folha 30% fruto) nim (Azadirachta indica) (100% folha) e água destilada. Foram realizados 3 bioensaios de acordo com os instares iniciais de avaliação  1°, 3° e 5° , sendo 20, 16, 20 os números de repetições, respectivamente. Avaliou-se o período de desenvolvimento larval. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 1% de probabilidade.

4 Resultados e Discussão

4.1 Bioensaio 1 – Lagartas de 1° instar

Foi verificada a diferença no período de desenvolvimento larval, no 1° e 2° instares, onde extratos de cinamomo (folhas/frutos) e nim aumentaram cerca de 80% a duração do 1° instar quando comparadas a três marias (Tabela 1). Durante o 2° instar, os maiores períodos foram verificados para cinamomo (folhas/frutos), três marias e nim. Nos tratamentos com cinamomo e nim foi constatado 100% de mortalidade, observando-se efeitos de fagodeterrência e impedimento do hormônio de crescimento. No 6° instar, foi verificado que lagartas alimentas com folhas tratadas com pimenta cambuci, apresentaram desenvolvimento duas vezes mais longêvo que a testemunha.

Parussolo et al. (2004) obteve que lagartas de S. frugiperda recém-eclodidas e alimentadas com folha de milho, imersa por trinta segundos no extrato aquoso de fruto de cinamomo, na concentração de 1%, ocasionou controle acima de 80% ao final da avaliação de oito dias. Diante disso, o presente trabalho usando imersão em 3 segundos, obteve 100% de mortalidade, evidenciando possivelmente que ao aumentar a concentração diminui-se o tempo de exposição do extrato a folha, para obter maior eficiência no controle.

4.2 Bioensaio 2 – Lagartas de 3° instar

Nenhuma das lagartas de S. frugiperda alimentadas com folhas de milho embebidas nos extratos de cinamomo (folhas/fruto e frutos) completaram o desenvolvimento da fase larval, atingindo 100% de mortalidade antes de completar o 4° instar (Tabela 2). Observou se que o cinamomo (fruto) teve mortalidade mais lenta. As diferentes composições dos extratos de M. azedarach não diferiram na taxa de mortalidade de S. frugiperda. Dessa forma, independentemente do bioensaio 1 ou 2, o desenvolvimento larval de S. frugiperda quando utilizado o extrato de M. azedarach (folhas/frutos ou somente frutos) foi comprometido, visto que os efeitos obtidos foram similares interferindo no processo de ecdise e provocando efeito fagodeterrente e fagosupressante.

4.3 Bioensaio 3 – Lagartas de 5° instar

Não foi verificado diferença no desenvolvimento larval do 5° e 6° instar de Spodoptera frugiperda (Tabela 3). Os extratos aquosos de cinamomo não atingiram o 6° instar, apresentando 100% de mortalidade, observando-se efeitos de constrição abdominal e impedimento do hormônio de crescimento. O presente bioensaio evidenciou-se novamente a influência de impedimento do hormônio de crescimento nas lagartas alimentadas com folhas de milho tratadas com nim, contudo demorou-se mais tempo para obter a mortalidade.

5 Conclusão

Obteve-se que os tratamentos compostos por M. azedarach e A. indica tiveram 100% de mortalidade no desenvolvimento larval e os demais tratamentos não se mostraram eficientes neste período.

Tabela 1 – Bioensaio 1: Média ± EP do tempo de desenvolvimento larval (dias) de Spodoptera frugiperda alimentada com folhas de milho tratadas com diferentes extratos de plantas.

Extratos de plantas

1˚ instar1

2˚ instar

3˚ instar2

4˚ instar

5˚ instar

6˚ instar3

Cinamomo (frutos/folhas)

1,90 ± 0,67 a

2,53 ± 0,93 a

-

-

-

-

Cinamomo (Frutos)

1,67 ± 0,73 ab

0,67 ± 0,69 b

-

-

-

-

Alamanda

1,50 ± 0,55 ab

2,03 ± 0,55 ab

2,20 ± 0,55ns

2,97 ± 0,55ns

2,80 ± 0,55ns

1,40 ± 0,50 bc

Três marias

1,10 ± 0,47 b

2,28 ± 0,62 a

2,03 ± 0,65

3,35 ± 0,55

2,71 ± 0,55

2,38 ± 0,94 ab

Pimenta cambuci

1,52 ± 0,68 ab

2,07 ± 0,79 ab

1,97 ± 0,88

3,23 ± 0,40

3,20 ± 1,28

2,50 ± 0,93 a

Nim

2,08 ± 0,86 a

2,93 ± 1,09 a

-

-

-

-

Testemunha

1,70 ± 0,52 ab

1,57 ± 0,66 ab

1,85 ± 0,47

3,12 ± 0,40

3,00 ± 0,59

1,20 ± 0,67 c

CV(%)

12,55

35,91

12,57

15,98

30,88

54,51

nsMédia ± EP (Erro Padrão) não diferem entre si pelo teste Tukey (p<0,0001). (-) 100% de mortalidade. ¹Análise realizada nos dados transformados em 1/(x^1/2). ²Análise realizada nos dados transformados em em (x+k)^1/2. ³Análise realizada nos dados transformados em “log x” na base 10.

Tabela 2 – Bioensaio 2: Média ± EP do tempo de desenvolvimento larval (dias) de Spodoptera frugiperda alimentada com folhas de milho.

Extratos de plantas

3˚ instar1

4˚ instar1

5˚ instar

6˚ instar²

Cinamomo (frutos/folhas)

1,63 ± 0,97 b

-

-

-

Cinamomo (Frutos)

3,50 ± 0,64 a

-

-

-

Alamanda

1,19 ± 0,49 b

3,65 ± 0,68 a

1,69 ± 0,56ns

2,96 ± 0,53ns

Três marias

1,38 ± 0,50 b

3,00 ± 0,45 b

2,50 ± 0,89

3,25 ± 0,59

Pimenta cambuci

1,44 ± 0,65 b

2,88 ± 0,38 b

2,19 ± 0,74

3,56 ± 0,74

Nim

1,81 ± 0,49 b

2,17 ± 0,49 c

-

-

Testemunha

1,31 ± 0,35 b

3,38 ± 0,38 ab

1,81 ± 0,56

3,04 ± 0,66

CV (%)

12,91

3,64

27,63

11,5

nsMédia ± EP não diferem entre si pelo teste Tukey (p<0,0001). (-) 100 de mortalidade. 1Análise realizada nos dados transformados em (x+k)^1/2 com k=0,1. ²Análise realizada nos dados transformados em “log x” na base 10.

Tabela 3 – Bioensaio 3: Média ± EP do tempo de desenvolvimento larval (dias) de Spodoptera frugiperda alimentada com folhas de milho tratadas com diferentes extratos de plantas.

Extratos de plantas

5˚ instar1

6˚ instar

Cinamomo (fruto/folha)

1,28 ± 1,02ns

-

Cinamomo (fruto)

1,31 ± 0,66

-

Alamanda

1,31 ± 0,81

3,37 ± 0,89ns

Três marias

1,30 ± 1,09

3,02 ± 1,32

Pimenta cambuci

1,39 ± 0,83

3,31 ± 0,69

Nim

1,36 ± 0,70

3,10 ± 0,95

Testemunha

1,33 ± 0,57

2,33 ± 1,01

CV(%)

22,19

38,76

nsMédia ± EP não diferem entre si pelo teste Tukey (p<0,0001). (-) 100 de mortalidade. 1Análise realizada nos dados transformados em 1/x. 2Análise dos dados transformados em “log x” na base 10.

Biografia do Autor

Leoneli Fandres Wrublak, Universidade Federal da Fronteira Sul campus Laranjeiras do Sul
Engenheira Agrônoma (2016) pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) campus Laranjeiras do Sul
Josemar Tomazini, Universidade Federal da Fronteira Sul campus Laranjeiras do SUl
Acadêmico do curso de Agronomia da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) campus Laranjeiras do Sul
Edemar José Baranek, Universidade Federal da Fronteira Sul campus Laranjeiras do Sul
Possui graduação em Agronomia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) - 2008. Especialista em Educação do Campo (FAESI/UNIGUAÇU) - 2010. Mestre em Agricultura Orgânica pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) - 2014. Atualmente é Engenheiro Agrônomo da Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Laranjeiras do Sul.
Aline Pomari Fernandes, Universidade Federal da Fronteira Sul campus Laranjeiras do Sul
Possui Bacharelado e Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (2008), mestrado em Agronomia com ênfase em Entomologia Agrícola pela Universidade Estadual de Londrina (2011) e doutorado em Ciências com ênfase em Entomologia, pela Universidade de São Paulo (2013). Atualmente é professora adjunta do curso de Agronomia com ênfase em Agroecologia da Universidade Federal da Fronteira Sul.

Referências

ALMEIDA, Â. A. et al. Tratamentos homeopáticos e densidade populacional de Spodoptera frugiperda (J.E. SMITH, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae) em plantas de milho no campo. Revista Brasileira de milho e sorgo, v.2. n.2, pag. 1-8, 2003.

BOWLING, C. C. Rearing of two lepidopterous pests of rice on common artificial diet. Annals of the Entomological Society of America. College Park, v. 60, n. 6, p. 1215-1216, 1967.

PARUSSOLO, T. A. et al. Efeito de extratos aquosos de vegetais sobre o desenvolvimento inicial da lagarta do cartucho Spodoptera frugiperda. XX Congresso Brasileiro de Entomologia. Gramado-RS. Set. 2004.

SANTIAGO, G. P. Avaliação dos efeitos de extratos aquosos de plantas sobre a biologia da lagarta-do-cartucho Spodoptera frugiperda (j. e. smith, 1797) mantida em dieta artificial. 2005. 110f. Dissertação (Mestrado em Agronomia - Área de concentração Produção vegetal). Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Piauí, Teresina-PI. 2005.

VIANA, P. A. et al. Uso do Extrato Aquoso de Folhas de nim para o Controle de Spodoptera frugiperda na Cultura do Milho. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Sete Lagoas, MG. Dez. 2006.

Publicado
28-09-2016