Caracterização de crianças que foram expostas ao vírus HIV em um serviço de referência do oeste catarinense

  • Alessandra Paiz Universidade Federal da Fronteira Sul
Palavras-chave: HIV, transmissão vertical, crianças.

Resumo

A mais frequente forma de transmissão do HIV em menor de 13 anos de idade, no período de 1980 a junho de 2011 é a transmissão vertical (TV). Do total de 4.000 casos notificados tem-se um total de 3.561 casos (89%) com categoria de exposição por TV, ou seja, quase que a totalidade de casos de aids em crianças menores de 13 anos foi transmitida pela mãe (BRASIL, 2011). Objetivo: Caracterizar as crianças que foram expostas verticalmente ao HIV e as que têm HIV/aids atendidas em um serviço de referência do município de Chapecó-SC. Metodologia: Trata-se de uma abordagem quantitativa descritiva de caráter retrospectivo tendo seu desenvolvimento em um serviço de referência para tratamento de pessoas com HIV no município de Chapecó/SC, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com o número do CAAE 49499115.4.0000.5564, e parecer nº1.380.297 e aprovado pelo edital de iniciação científica nº 281/UFFS/2015. Os sujeitos foram crianças com até 12 anos de idade que foram expostas verticalmente ao vírus HIV ou que tem HIV/aids e estão ou já estiveram em acompanhamento neste serviço de referência. A coleta dos dados realizou-se partindo de um formulário que tornou possível a produção de dados através do acesso aos prontuários, respeitando os aspectos éticos da pesquisa com seres humanos conforme resolução 466/2012. Resultados: Em relação às informações do cuidador das crianças infectadas pelo HIV, foi possível perceber que 88,9 são do sexo feminino e que 53,6% têm idade entre 20 e 30 anos e 88,8% apresentam algum nível de escolaridade. Em relação às crianças que adquiriram HIV, pode-se perceber que 77,8% são do sexo feminino e 22,2% são do sexo masculino, destas, 33,3% são menores de 4 anos de idade, 11,1% possuem até 8 anos incompletos e 55,5% possuem até 12 anos incompletos e 44,4% residem no município de Chapecó. Das crianças infectadas somente 22,2% sabem do seu diagnóstico e 33,3% realizam acompanhamento psicológico. Segundo Ministério da Saúde (BRASIL, 2016) estes momentos requerem uma atenção especial pois podem afetar também o seu sistema imunológico. Em relação ao aleitamento materno, 33,3% receberam o aleitamento que segundo o Guia para os profissionais da saúde de 2011 quando ele é realizado, os riscos de transmissão do vírus aumenta de 15% a 20% e caso não haja ações profiláticas este percentual aumenta para até 42% (BRASIL, 2011). O esquema medicamentoso teve seu início antes dos dois anos de idade em 66,6% das crianças. Segundo recomendações do Ministério da Saúde a quimioprofilaxia do recém-nascido deve iniciar imediatamente após o parto ou nas primeiras horas de vida. Com relação ao esquema medicamentoso realizado pelas crianças, 100% seguiram o esquema sem modificação e apenas 11,1% apresentaram queixa relacionada ao tratamento, caracterizada por diarreia. Já na análise das crianças que foram expostas ao HIV e que encontram-se em investigação, tornou-se possível, ao analisar os dados sobre os cuidadores, os quais mostram que 100% são do sexo feminino e mães das crianças, sendo que 53,6% possuem entre 20 e 30 anos de idade e que 96,4% possuem algum nível de escolaridade. Referente ao tipo de parto realizado, 17,9% realizaram parto vaginal e 50% tiveram seu diagnóstico antes da gravidez. Outro aspecto analisado foi a religiosidade onde 85,7% relataram possuir religião, sendo que em outro estudo a religião foi citada como uma das estratégias para o enfrentamento da infecção, prevenindo o sofrimento psicológico e para se acostumar com a soropositividade (SILVIA, et al. 2008). Em relação aos dados das crianças que foram expostas verticalmente e estão em investigação, 75 % residem em Chapecó, 46,3% são do sexo feminino e 53,6% do sexo masculino, destas, 71,4% não foram amamentadas. No que se refere ao uso de Nevirapina, 89,3% das crianças fizeram uso, este medicamento deve ser empregada a crianças cujas mães não realizaram uso de antirretrovirais (ARV) durante o pré-natal ou quando elas possuem carga viral maior que 1.000 cópias/ml (BRASIL,2016) e 96,4% fizeram uso de Zidovudina (AZT). Quanto à idade das crianças ao realizarem o primeiro atendimento no serviço foi de 57,2% em crianças com até 15 dias de vida, 14% com até 30 dias de vida e 28,6% em crianças com mais de 30 dias de vida, segundo BRASIL (2009), as crianças nascidas de mães soropositivas devem ser atendidas antes dos seus 30 dias de vida e o acompanhamento deve ser realizado mensalmente nos primeiro 6 meses de vida e bimestral a partir do segundo semestre de vida. Ao analisar os dados das crianças que foram expostas ao vírus e soroconverteram, foi possível identificar que 100% dos cuidadores são do sexo feminino e mãe das crianças, destas, 37% apresentam idade entre 30 a 40 anos e que todas possuem algum nível de escolaridade, sendo que 97,4% são soropositivos e 59,2% tiveram seu diagnóstico antes da gravidez, prevalecendo o número de parto cesáreo em 82,2% dos casos. Em relação ao uso de ARV, 80,9% realizaram o uso durante a gravidez. No que diz respeito aos dados das crianças, 65,6% pertencem ao município de Chapecó, onde 95,5% tiveram seu encaminhamento para o serviço de referência ao nascer, 34,3% tiveram seu primeiro atendimento antes dos 15 dias de vida, 96,8% fizeram uso de AZT solução oral e 8,3% realizaram uso de Nevirapina. Em relação ao aleitamento materno, 2,5% das crianças receberam o aleitamento materno. Conclusão: O trabalho com crianças que foram expostas pelo vírus HIV, requer um olhar especial devido as demandas de cuidado específicas com a finalidade do controle da carga viral e também da imunidade, por isto é possível observar algumas dificuldades durante a prestação destes serviços e a realização do tratamento. Assim, o acompanhamento preconizado para crianças com HIV é essencial para garantir o controle da qualidade de vida, ressaltando a importância de a criança aderir o tratamento de forma correta, com o auxílio dos trabalhadores da saúde, garantindo o seu bem-estar e qualidade de vida.  Ainda, identificar o perfil deste público possibilita a construção de estratégias de cuidado que irão ao encontro das necessidades.

Biografia do Autor

Alessandra Paiz, Universidade Federal da Fronteira Sul

Alessandra Paiz, Acadênica da 6ª fase do curso de graduação em Enfermagem pela Universidade Federal da Fronteira Sul- Campus Chapecó.

Léia Borges Vieira da Assumpção, Acadêmica da 10ª fase do curso de graduação em Enfermagem pela Universidade Federal da Fronteira Sul- Campus Chapecó.

Tassiana Potrich, Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora assistencial da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS, Campus Chapecó/SC.

Samuel Spielberg Zuge,Enfermeiro, doutorando em enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professor colaborador da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional DST/AIDS. Boletim Epidemiológico AIDS/DST. 2011.

BRASIL. DST/aids e Hepatites Virais. Disponível em: http://www.aids.gov.br/pcdt/pediatrico/2. Acesso em 01 de agosto de 2016.

BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção a saúde do recém-nascido. Guia para os profissionais de saúde. Brasília/DF, 2011.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e AIDS. Recomendações para Terapia Antirretroviral em Crianças e Adolescentes Infectados pelo HIV: manual de bolso. Brasília, 2009.

SILVA, Richardson Augusto Rosendo da.; ROCHA, Vera Maria da.; DAVIM, Rejane Marie Barbosa.; TORRES, Gilson de Vasconcelos. Formas de enfrentamento da AIDS: Opinião de mães de crianças soropositivas. Rev. Latino-Am. Enfermagem v.16 n.2 Ribeirão Preto mar./abr. 2008.

Publicado
26-09-2016