ELABORAÇÃO E VALIDAÇÃO DE UM MATERIAL EDUCATIVO SOBRE A INFECÇÃO PELO HIV PARA ADOLESCENTES A PARTIR DO REFERENCIAL DE VULNERABILIDADE

  • Fabíola Zenatta Freitas Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
  • Luana Patrícia Valandro Universidade de Passo Fundo.
  • Crhis Netto de Brum Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Chapecó (UFFS/SC)
Palavras-chave: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, Saúde do Jovem, Guias Informativos

Resumo

1 Introdução

No Brasil, as notificações de infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e pela Síndrome de imunodeficiência adquirida (Aids) apontam para uma mudança no perfil epidemiológico, destacando o processo de juvenização, o qual é caracterizado pelo aumento de notificações entre adolescentes (BRASIL, 2015). Apesar dos adolescentes possuírem informações sobre prevenção da transmissão do HIV pela mídia e pelos materiais desenvolvidos pelo Ministério da Saúde, esses apresentam conteúdos enfatizando a utilização apenas do preservativo, sem atentar para as particularidades e singularidades do indivíduo. De tal modo, que o conceito de vulnerabilidade em relação à infecção pelo HIV, poderá auxiliar, por meio do empenho de produção e difusão de conhecimentos, discussões e ações sobre os distintos graus e situações de suscetibilidade, tanto em relação ao indivíduo como ao grupo de infecção, partindo das peculiaridades atribuídas pelos conjuntos sociais (AYRES, 2012). Assim, justificou-se tal pesquisa, pois ao dar voz aos adolescentes, puderam contribuir para a formulação de um material educativo conforme as suas necessidades.

2 Objetivo

Elaborar e validar um material educativo sobre a infecção pelo HIV para adolescentes, a partir do referencial de vulnerabilidade.

3 Metodologia

O projeto foi elaborado por meio de um estudo metodológico, aprovado pelo Programa Institucional de Iniciação Científica e Tecnológica da UFFS, Campus Chapecó (PRO-ICT/UFFS) edital número 281/UFFS/2015, desenvolvido em quatro etapas: A primeira, ocorreu no período de agosto a dezembro de 2015 e tratou-se de uma pesquisa bibliográfica que contribuiu para determinar os pontos de consenso e os pontos controversos; A segunda etapa, foi dividida em duas abordagens (qualitativa e quantitativa) e a partir delas, foi possível identificar às vulnerabilidades dos adolescentes à infecção pelo HIV. As duas abordagens foram realizadas nas Escolas de Educação Básica Antônio Morandini e São Francisco do município de Chapecó, SC, Brasil, com adolescentes na faixa etária de 13 a 19 anos. A pesquisa qualitativa ocorreu por meio da produção de dados da Dinâmica de Criatividade e Sensibilidade (DCS), que está fundamentada no Método Criativo Sensível (MCS), o almanaque (CABRAL, NEVES, 2015), com nove adolescentes. Os dados foram analisados conforme a Análise do Discurso Francesa. A parte quantitativa teve seu início em novembro de 2015 por meio de amostragem por conveniência, a partir de uma amostra de 206 adolescentes. Para a coleta de dados foi utilizado um questionário de caracterização dos adolescentes, o qual integra os dados sócio-demográficos e a “Escala de atitudes frente ao HIV”. Os dados foram analisados após a digitação no programa Epi-info®, versão 7.0, com dupla digitação independente. Realizou-se a análise descritiva dos dados, por meio do programa PASW Statistics® (Predictive Analytics Software, SPSS) versão 18.0 for Windows; A terceira etapa caracterizou-se pela elaboração do material educativo; A quarta foi desenvolvida a validação do material educativo desenvolvido. O projeto foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFFS/SC sob parecer número: 1.154.514.

4 Resultados e Discussão

Em relação à pesquisa bibliográfica, ressalta-se, que a literatura, ainda aponta para o conceito de comportamento e grupo de risco. Tal apontamento poderá estar relacionado ao quantitativo de produções serem de outros países, como Estados Unidos, o qual não utilizam o conceito de vulnerabilidade para as ações do HIV/Aids. No estudo qualitativo: a pesquisa em relação à vulnerabilidade particularizou as diferentes situações de suscetibilidade dos sujeitos a partir dos seus três planos analíticos inter-relacionados: o individual, o social e o programático. No plano analítico individual, os resultados mostraram que ainda existem questões culturais quanto à projeção de risco para o outro. O aumento da vulnerabilidade está associado a aspectos que são comuns a adolescência, como por exemplo: onipotência, sensação de invulnerabilidade e necessidade de explorar o novo (AYRES, 2012). No plano social, se destacaram os aspectos demográficos e acesso às informações. Apesar da maioria dos adolescentes considerarem suficientes as informações a respeito da Aids sabe-se que a fonte de informações dos adolescentes, muitas vezes, vem de colegas e amigos, que também não tiveram esse acesso dando origem, assim, a conceitos equivocados, carregados de mitos e tabus. Já no plano analítico programático foi contemplado que o serviço de saúde precisa levar em consideração a singularidade, potencialidades e fragilidades de cada um e que venha a possibilitar um cuidado multiprofissional. No que diz respeito às questões quantitativas: as que envolveram o fator geral de percepção da informação técnico-científica, foi possível identificar as questões que apresentaram um baixo conhecimento sobre o HIV/Aids, foram: a “Aids é uma doença que não atinge apenas homossexuais” foi possível observar que os adolescentes discordam parcialmente (19,4%) e discordam totalmente (16,5%). Para os adolescentes a questão “A Aids não pode ser contraída nos consultórios de dentistas e ginecologistas, e também em cabeleireiros e manicures” apresentou um elevado número de afirmativas concordo totalmente (20,9%) e concordo parcialmente (39,8%). Em relação a questão “A saliva não mata o vírus causador da Aids” e na questão o “Suor não pode transmitir o HIV” 18,8% e 26,2% dos adolescentes discordam parcialmente, respectivamente. Quando perguntado se “Não se contrai Aids pela picada de inseto”, 21,8% dos adolescentes discordavam parcialmente. A partir dessas informações o material educativo foi elaborado e enviado para sua validação.

5 Conclusão

A pesquisa apontou que Aids ainda é considerada uma doença do outro e que (pre)conceitos como abraçar um soropositivo e sentar em vasos sanitários se contrai aids ainda permeiam o imaginário dos adolescentes e que esta epidemia, encontra-se distante do seu cotidiano. A partir destas constatações o Manual foi realizado pautado na história do HIV, perpassando pelos conceitos de grupo de risco, comportamento de risco e vulnerabilidade, a fim de desmistificar que é uma doença do outro. Além disso, foram revistas questões quanto à transmissão, cura, vacina e tratamento, pois foram situações que povoaram os imaginários dos adolescentes durante as pesquisas. Assim destaca-se que o uso do material educativo no ambiente escolar poderá auxiliar a minimizar a vulnerabilidade dos adolescentes frente ao HIV e (re)orientá-los quanto aos seus anseios.

Biografia do Autor

Luana Patrícia Valandro, Universidade de Passo Fundo.
R2 na Especialização em Residência Multiprofissional Integrada, Universidade de Passo Fundo.
Crhis Netto de Brum, Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Chapecó (UFFS/SC)
Docente da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Chapecó (UFFS/SC)

Referências

AYRES, José Ricardo de Carvalho Mesquita et al. Caminhos da integralidade: adolescentes e jovens na Atenção Primária à Saúde. Interface comum saúde educ. v. 16, n. 40, 2012. p. 67-81.

BRASIL. Programa Nacional DST/AIDS.Boletim Epidemiológico AIDS/DST. 2015. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/data/Pages> Acesso em: 09 de mar. 2016.

CABRAL, Ivone Evangelista; NEVES, Eliane Tatsch. Pesquisar com o método criativo sensível na enfermagem: fundamentos teóricos e aplicabilidade. (In): LACERDA, M. R.; COSTENARO, R. G. S. Metodologias da pesquisa para a enfermagem e saúde da teoria a prática. 1 ed. Porto Alegre: Moriá Editora, p. 325-350.

Publicado
21-09-2016