ANATOMIA FOLIAR DE LANTANA FUCATA L. (VERBENACEAE)

  • Thainara Marcotto Alba Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Cerro Largo
  • Jonas Both de Melo Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Cerro Largo
  • Carla Maria Garlet de Pelegrin
Palavras-chave: Lantana fucata, morfoanatomia, plantas medicinais.

Resumo

1 Introdução

As plantas medicinais são amplamente utilizadas pela população mundial na cura e prevenção de doenças. Dentre muitas espécies com potencial medicinal, estão representantes de Verbenaceae. Em relação ao gênero Lantana, no Brasil, existem relatos da utilização da infusão das folhas de L. camara e L. fucata, como tônicos e estimulantes no tratamento de coceiras, úlceras, cortes, edemas, febre biliosa e reumatismo (OLIVEIRA, 2007). Devido ao grande uso de medicamentos fitoterápicos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) regulamenta a produção e comercialização destes. A agência exige vários testes, entre eles estudos macro e microscópicos do órgão vegetal em questão. Estes testes devem garantir a autenticidade e eficácia do medicamento fitoterápico, auxiliando no controle de qualidade, evitando adulterações (BRASIL, 2014). Deste modo, este trabalho irá caracterizar a anatomia foliar de L. fucata, afim de contribuir com a identificação de amostras vegetativas da espécie e para a distinção entre espécies próximas.

2 Objetivo

O objetivo deste estudo foi descrever a estrutura anatômica da folha de L. fucata, a fim de identificar características auxiliares no diagnóstico desta espécie e ampliar o conhecimento da anatomia dos representantes da família Verbenaceae.

3 Metodologia

Foram realizadas expedições à campo em diferentes populações para a coleta de folhas, para a confecção de lâminas e exemplares férteis de L. fucata, para confecção de exsicatas. Para a confecção e laminas histológicas, as amostras vegetais foram submetidas a fixação, desidratação, inclusão em resina plástica e posterior corte em micrótomo. Além disso, também foram obtidos cortes a mão livre. As lâminas foram analisadas e fotografadas em microscópio ótico com câmera digital acoplada.

4 Resultados e Discussão

Em vista frontal da epiderme, Lantana fucata exibe células com paredes celulares anticlinais sinuosas em ambas as faces da folha (Fig. 1A) e complexos estomáticos anomocíticos.  As folhas são hipoestomáticas, pois os estômatos estão restritos a face abaxial da folha (Fig. 1F). Lantana fucata apresenta tricomas tectores unicelulares (Fig. 1B) e tricomas glandulares de dois tipos. Estes foram classificados de acordo com Passos et al. (2009), que classifica e descreve a anatomia foliar de Lantana camara e Lantana radula. Os tricomas bicelulares do tipo II são multicelulares com uma ou mais células secretoras e um pedúnculo mais evidente (Fig. 1C), enquanto que os tricomas glandulares do tipo III, exibem cabeça unicelular esférica, que aparenta estar dilatada, compondo a parte secretora, e um curto pedúnculo (Fig. 1D). A presença de tricomas glandulares é característica da família Verbenaceae e o estudo de sua morfologia e dos compostos secretados é muito importante para o conhecimento dos compostos bioativos das plantas. Não foi possível identificar a constituição química da secreção dos tricomas glandulares de L. fucata. Segundo Judd et al. (2009) a secreção de terpenos é comum nos tricomas glandulares de Verbenaceae, porém vários estudos indicam que a natureza da secreção pode variar bastante e pode ser predominantemente hidrofílica ou lipofílica (TOZIN et al. 2015). O mesofilo de L. fucata é dorsiventral, com uma camada de parênquima paliçádico na face adaxial e 2-3 camadas de parênquima esponjoso na face abaxial (Fig. 1D e 1F). O pecíolo de L. fucata é plano e convexo nas faces adaxial e abaxial, respectivamente e a epiderme é unisseriada, com tricomas tectores e glandulares em toda sua extensão. O sistema vascular é colateral, aberto em formato de ferradura com dois feixes vasculares menores acessórios laterais e quatro feixes localizados na região adaxial (Fig. 1E). Em corte transversal da lâmina foliar verifica-se que os estômatos estão levemente elevados em relação às demais células epidérmicas (Fig. 1F).

 

Figura 1: Características anatômicas da folha de Lantana fucata: A- Face adaxial da epiderme evidenciando células com paredes anticlinais sinuosas (seta), B – Tricomas tectores (tec) e tricomas glandulares (gl) na face abaxial da epiderme. C- Tricoma glandular do tipo II, pedúnculo (pe) e cabeça (ca). D – Características do mesofilo, parênquima paliçádico (pp), parênquima esponjoso (ps), tricoma glandular do tipo III, cabeça (ca) e pedúnculo (seta). E- Corte transversal do pecíolo, região abaxial (aba), região adaxial (ada), feixe vascular (Fxv); F– Estômatos (es) levemente elevados em relação as demais células epidérmicas.

5 Conclusão

Este trabalho contribuiu na caracterização da anatomia foliar de Lantana fucata fornecendo informações para o conhecimento de estruturas anatômicas que podem vir a ser utilizadas no controle de qualidade de eventuais fitoterápicos, que venham a ser desenvolvidos com a planta alvo.

 

 

 

 

 

 

Referências

BRASIL. ANVISA. Instrução normativa nº 4, de 18 de junho de 2014. Disponível em:<http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/10f7288044703abbbf8fffe3a642e80/Guia+final+dicol+180614.pdf?MOD=AJPERES>. Acesso em 20 de abr. 2016.

JUDD, W. S.; et al. Sistemática Vegetal: Um Enfoque Filogenético. 3 eds. Porto Alegre: Artmed, 2009.

OLIVEIRA, F. Q.; GOBIRA, B.; GUIMARÃES, C.; BATISTA, J.; BARRETO, M.; SOUZA, M. Espécies vegetais indicadas na odontologia. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 17, p. 466-476, 2007.

PASSOS, J.L.; MEIRA, R.M.S.A.; BARBOSA, L.C.A. Foliar anatomy of the species Lantana camara and L. radula (Verbenaceae). Planta Daninha, Viçosa-MG, v.27, n.4, p.689-700, 2009.

TOZIN, L.R.S et al. Glandular trichome diversity on leaves of Lippia origanoides and Lippia stachyoides (Verbenaceae): morphology, histochemistry and ultrastructure. Botany, v. 93, n. 5, p. 297-306, 2015.

Publicado
23-09-2016