ANÁLISE DOS LAUDOS DOS EXAMES CITOPATOLÓGICOS PARA O CONTROLE DO CÂNCER DO COLO DO ÚTERO EM UM MUNICÍPIO PÓLO DO OESTE CATARINENSE

  • Taize Sbardelotto Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
  • Érica de Brito Pitilin Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
  • Rafaela Bedin Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
  • Vanessa Aparecida Gasparin Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
Palavras-chave: Exame citopatológico, Câncer do colo do útero, Programa de rastreamento, Prevenção secundária, Saúde ginecológica

Resumo

1 Introdução

O câncer do colo do útero pode ser definido pela multiplicação desenfreada do epitélio que recobre o colo, envolvendo o tecido inferior e podendo acometer estruturas e órgãos adjuntos ou afastados, compreendendo a terceira maior causa de cânceres nas mulheres e a quarta causa de morte entre elas (BRASIL,2013). A apesar de sua magnitude, é considerado um tipo de câncer evitável, pois sua detecção se dá precocemente e as alterações celulares podem ser descobertas com facilidade através do exame citopatológico do colo do útero. Esse exame consiste na única ferramenta capaz de detectar precocemente o câncer, além de outras doenças acometidas no sistema reprodutor feminino tal como, metaplasia escamosa, doença inflamatória pélvica, cervicites, gardenerela, tricomoníase, papiloma vírus humanos (HPV), entre outras (WHO, 2007). Quando coletado corretamente, pode gerar um laudo capaz de diagnosticar a presença dessas anormalidades ou a situação estável do mesmo. O profissional de saúde deve assegurar a garantia de um esfregaço satisfatório para avaliação oncótica, o que implica na presença de células em quantidade representativa, bem distribuídas, fixadas e com a representatividade da zona de transformação (ZT), região onde localizam-se mais de 90% das lesões que antecedem o câncer de colo do útero. Considerando que o limite máximo de amostras insatisfatórias esperado é de 5% do total de exames realizados, e que 100% dos exames devem apresentar a ZT evidencia-se a importância da realização desse estudo.  (BRASIL, 2013).

2 Objetivo

Identificar os fatores associados às alterações celulares do colo do útero no município de Chapecó, SC, polo do oeste catarinense, no período de 2015.

3 Metodologia

Trata-se de um estudo descritivo, retrospectivo de caráter quantitativo realizado a partir da consulta dos laudos dos exames citopatológicos registrados no Sistema de Informação do Câncer – SISCAN da esfera municipal. Para a definição do cálculo amostral, foi considerada a população total de exames citopatológicos realizados no ano anterior a coleta no município acrescidos de erro estimável de 3% e intervalo de confiança de 97%, mediante a estratificação proporcional e representativa dos 27 centros de saúde existentes no município em questão. Os laudos analisados foram apenas àqueles já liberados para as pacientes. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva, além de testes específicos como Qui-quadrado de Pearson, análise bivariada e regressão logística. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal da Fronteira Sul (CEP/UFFS) sob parecer n° 059401/2015 e CAAE 46421815.0.0000.5564.

4 Resultados

Foram avaliados 1.157 laudos sendo que destes, 70,1% foram realizados em mulheres entre 25 a 64 anos, faixa etária considerada alvo das ações em saúde vigentes no país. Além disso, 22% dos exames foram em mulheres de 15 a 24 anos e 8% naquelas a cima de 65 anos. Do total de exames 96,88% foram realizados para o controle e rastreamento da doença e 11,58% das mulheres nunca haviam realizado o exame, com significância estatística para a faixa etária entre 15 a 24 anos.

Quanto às características dos resultados dos exames, 99,01% da amostra selecionada foi satisfatória, com significância estatística para amostras insatisfatórias em mulheres acima de 65 anos. Em 90,06% dos laudos o colo do útero visualizado durante a coleta estava normal e as células da Zona de Transformação (ZT) estavam presentes em 74,76% dos exames. As alterações benignas foram as mais frequentes, com destaque para as inflamações (18,9%) e o agente microbiológico prevalente foi o Lactobacillus sp (60,3%) enquanto que o agente infeccioso foi a Gardnerella vaginalis (16,8%). Os fatores que influenciaram significativamente para o surgimento de alterações celulares foram: idade entre 25 a 64 anos, uso de contraceptivo oral, terapia de reposição hormonal e epitélio metaplásico.

5 Discussão

Em relação à idade, tais achados podem estar relacionados com a dificuldade de realizar a coleta em mulheres em faixa etária mais avançada, uma vez que nesse período há uma escassez de estrogênio resultando na diminuição do número de células escamosas e glandulares disponíveis para a amostragem, o que resulta na ausência da coleta de células da ZT (SOARES; SILVA, 2010). Por outro lado, a reposição hormonal, também esteve vinculado ao surgimento de alterações celulares, assim como o uso de contraceptivos orais, o qual segundo a literatura por si só não gera efeito sobre a progressão ou o desenvolvimento de lesões cervicais, mas podem atuar em sinergia, causando aumento na suscetibilidade para o desenvolvimento de lesões de alto grau em mulheres infecctadas pelo Papilomavírus humano (HPV) (AMARAL; CETKOVSKÁ; GURGEL, 2014).

No que se refere ao epitélio metaplásico, este consiste em um processo de transformação do epitélio glandular para epitélio escamoso que ocorre predominantemente em mulheres mais jovens, tornando-as vulneráveis ao desenvolvimento de lesões instraepiteliais cervicais e ao risco de infecção pelo HPV, consequentemente acabam por influenciar a representatividade da ZT (FERREIRA; ALVES; MARTINS, 2015).

Ressalta-se a importância da ZT na amostra, por mais que não seja utilizada para classifica a amostra como insatisfatória, esta pode demonstrar a necessidade de monitoramento constante e ser utilizada como importante indicador da qualidade da coleta do exame.

6 Conclusão

Os dados obtidos remeteram aos pressupostos desse estudo de que as alterações no colo do útero acontecem não só em função da não realização do exame, mas também pela própria condição da mulher como idade, epitélio metaplásico, uso de contraceptivo oral e/ou terapia de reposição hormonal, sugerindo que os serviços de saúde sozinhos não dão conta de enfrentar os índices elevados do câncer de colo do útero. Neste contexto, conhecer o perfil das alterações prevalentes no colo do útero bem como os fatores que influenciam a ocorrência dessas alterações é de suma importância para o profissional enfermeiro visto que, a coleta do exame bem como a entrega do resultado é realizada por esse profissional. Além disso, os achados desse estudo reforçam a necessidade de monitoramento constante da qualidade da coleta desses exames por meio da representatividade da ZT, a fim de aperfeiçoar as ações de proteção e prevenção das lesões precursoras do câncer do colo do útero e fornecer uma assistência qualificada e resolutiva à população de mulheres assistidas.

Referências

AMARAL, C.M.; CETKOVSKÁ, K.; GURGEL, A.P. MDM2 polymorphism associated with the development of cervical lesions in women infected with Human papillomavirus and using of oral contraceptives. Infect Agent Cancer., v. 9, n. 1, p. 1-24; 2014.

BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica. Controle dos cânceres do colo do útero e da mama. 2º edição. Brasília, Ministério da Saúde: 2013. p-42.

FERREIRA, J.E.L.; ALVES, M.C.; MARTINS, M.C.V. et al. Perfil da população atendida em um consultório de atendimento integral à saúde da mulher. Ciências Biológicas e de Saúde, v. 3, n. 5, p. 127-140; 2015.

SOARES, M.B.O.; SILVA, S.R. Resultados de citologia oncótica em uma regional de saúde no período de 2007-2008. Rev. Rene., v. 11, n. 3, p. 23-31; 2010.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Cancer-control: knowledge into action: WHO guide for efectivepogrammes. Switzerland: WHO, 2007.

Publicado
21-09-2016