PEQUENOS MAMÍFEROS TERRESTRES EM FRAGMENTOS DE MATA NO MUNICÍPIO DE CERRO LARGO, RS

  • Daniele Pereira Rodrigues Universidade Federal da Fronteira Sul - Cerro Largo
  • Jady Sausen Universidade Federal da Fronteira Sul - Cerro Largo
  • Fabrício Skupien Universidade Federal da Fronteira Sul - Cerro Largo
  • Luana Braun Universidade Federal da Fronteira Sul - Cerro Largo
  • Daniela Olievira De Lima Universidade Federal da Fronteira Sul - Cerro Largo

Resumo

  1. INTRODUÇÃO

A Mata Atlântica, símbolo mundial de biodiversidade, é um ambiente severamente fragmentado, é um local onde ocorreu um processo de ruptura da continuidade, especialmente relacionado a processos ecossistêmicos. Assim, é de extrema importância a realização de estudos na região de Mata Atlântica para aumentar as informações a respeito da fauna nestas áreas remanescentes drasticamente reduzidas (MELO, 2009).

Os mamíferos compõem um grupo com grande diversidade desempenhando variados papéis no ecossistemas, como a polinização e dispersão de sementes (WEBER & ROMAN, 2013). No Brasil, são conhecidas 701 espécies de mamíferos nativos, sendo que no Rio Grande do Sul são encontradas 175 espécies (WEBER & ROMAN, 2013). Essas espécies apresentam grande diversidade em sua morfologia, comportamento, modo de vida e distribuição. Na maioria das regiões do mundo, as espécies de mamíferos sofrem influência de diversos tipos de impactos ambientais que podem colocá-las em risco de extinção devido a processos antrópicos.

 

  1. OBJETIVO

O estudo teve por objetivo realizar um levantamento e caracterização da comunidade de pequenos mamíferos em fragmentos florestais no município de Cerro Largo, Rio Grande do Sul. Com objetivos específicos de conhecer a riqueza, composição e a abundância das espécies presentes neste local.

 

  1. METODOLOGIA

O estudo foi realizado entre abril de 2015 e julho de 2016, no município de Cerro Largo-RS, clima Cfa subtropical. A amostragem foi realizada em dois fragmentos: nos fundos dos Laboratórios da UFFS campus Cerro Largo e no entorno da Escola Padre José Schardong. Realizamos saídas de campo estacionais com dez dias de duração em cada área, sendo que cada uma possui três transectos com sete pontos de amostragem. Cada transecto possui uma distância de 25m da borda e 25m um do outro.

Foram utilizadas 42 armadilhas do tipo gaiola (Sherman e Tomahawk). Os pontos de amostragem estão distantes 20m um do outro, onde foram colocadas duas armadilhas, uma no solo e outra no sub-bosque. As armadilhas eram iscadas diariamente com uma mistura de banana, óleo de fígado de bacalhau, pasta de amendoim, farinha de milho e sardinha. Para os animais capturados eram registrados o sexo, condição reprodutiva, tamanho da cauda e do corpo, presença ou ausência de ectoparasitas e peso corporal, além da identificação da espécie a qual pertencem. Ainda, foram marcados com um brinco metálico com um número individual, para identificação nas recapturas. Os indivíduos foram soltos no local de captura. Este projeto possui autorização do CEUA-UFFS e do IBAMA.

 

  1. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram obtidas 369 capturas de 175 indivíduos pertencentes a seis espécies,  resultando num sucesso de captura de 8,24%. Desses indivíduos capturados, obtivemos 205 capturas de 93 indivíduos de Akodon montensis, 77 capturas de 43 indivíduos de Oligoryzomys flavescens, 46 capturas de 18 indivíduos de Oryzomys sp., e 36 capturas de 18 indivíduos de Didelphis albiventris (Tabela 1).

 

Tabela 1: Número de captura totais (capturas + recapturas) de pequenos mamíferos em fragmentos florestais no noroeste do Rio Grande do Sul durante as quatro estações. Foram realizadas duas amostragens no outono e inverno e uma amostragem na primavera e no verão.

Espécies Capturadas

Outono

Inverno

Primavera

Verão

Total

Akodon montensis

33

108

51

13

205

Oligorizomys flavesces

8

41

26

2

77

Oryzomys

7

14

16

9

46

Didelphis albiventris

7

1

1

27

36

Não identificadas

1

1

1

2

5

Total

56

165

95

53

369

FONTE: SKUPIEN, 2016

Foi possível verificar uma baixa diversidade de espécies, devido a captura de apenas seis espécies diferentes, onde a espécie A. montensis apresentou maior sucesso de captura. O estudo foi realizado em dois fragmentos com presença de lavouras e área urbana, e a diversidade e composição de espécies encontradas refletem predominantemente este alto grau de perturbação.

O baixo grau de arborealidade da comunidade de pequenos mamíferos é um indicador de que a comunidade amostrada encontra-se altamente antropizada. Devido ao fato de que as espécies arborícolas são severamente prejudicadas em áreas fragmentadas em função do alto grau de isolamento dos fragmentos florestais. Organismos especialistas são mais afetados pela perda de hábitat, diferente de organismos generalistas que são menos afetados ou até mesmo adaptam-se a nova matriz de hábitat.

Em relação as espécies capturadas, a espécie A. montensis apresentou alto grau de dominância na comunidade estudada, e esta dominância foi observada nas duas áreas. Akodon montensis é uma espécie onívora e generalista, utiliza como recurso alimentar material de origem vegetal ou mesmo pequenos animais; apresentando deslocamento basicamente cursorial e capacidade escansorial limitada (WEBER & ROMAN, 2013). A espécie de maior tamanho corpotal capturada foi D. albiventris, pertencente à família Didelphidae, que possui hábito cursorial, escalando árvores ocasionalmente. Apresenta grande potencial para colonizar ambientes urbanos onde existem fragmentos florestais (CÁCERES, 2000; WEBER & ROMAN, 2013).

 

  1. CONCLUSÃO

Foi possível verificar a baixa diversidade de espécie desta comunidade, com apenas seis espécies, sendo quatro identificadas e bastante comuns em ambientes antropizados e as outras duas ainda não identificadas. Akodon montensis teve maior número de indivíduos capturados nas duas áreas e nas quatro estações durante o período de amostragem, sendo a espécie dominante.

PALAVRAS–CHAVE: Rodentia, Marsupialia, Fragmentação, Mata Atlântica.

 

REFERÊNCIAS

 

CÁCERES, N.C. 2000. Population ecology and reproduction of the white-eared opossum Didelphis albiventris (Mammalia, Marsupialia) in an urban environment of Brazil. Ciência e Cultura Journal of the Brazilian Association for the Advancement of Science. v52 (3). p.171-173.

MELO, G.L. 2009. Estrutura de comunidade e estratificação vertical de pequenos mamíferos em floresta estacional atlântica (Parque Estadual do Turvo) no extremo sul do Brasil. Dissertação do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

WEBER, M.; ROMAN, C.; CÁCERES, N.C. (Org.). 2013. Mamíferos do Rio Grande do Sul. Santa Maria: ed. da UFSM, 554 p.

Publicado
28-09-2016