AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DA TOXOPLASMOSE POR GESTANTES E MÉDICOS EM MUNICÍPIOS DO SUDOESTE DO PARANÁ

  • Davi Fernando Alba Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Karina Ramirez Starikoff Universidade Federal da Fronteira Sul
Palavras-chave: Educação preventiva, Pré-natal, Toxoplasma gondii

Resumo

1. Introdução

A toxoplasmose é uma infecção causada pelo parasita protozoário Toxoplasma gondii. Os gatos são os hospedeiros definitivos onde o organismo pode completar o seu ciclo sexual. (DUBEY, 2010).  Dubey (2010) aponta que após a infecção os gatos eliminam os oocistos do parasita em suas fezes entre uma e duas semanas depois da infecção, no entanto a eliminação dos oocistos pode se repetir durante a vida quando os felinos passam por episódios de imunossupressão. De acordo com Dubey (2010), para que os oocistos obtenham potencial infeccioso é necessário que ocorra a esporulação entre um a cinco dias no ambiente, e estes permanecem resistentes e infectantes por longos períodos. A contaminação dos hospedeiros intermediários pode ocorrer após a ingestão de oocistos maduros, cistos teciduais contendo bradizoítos ou, mais raramente, pelo contato com taquizoítos (JESUS, 2014). Jones e Dubey (2012) afirmam que a infecção por toxoplasmose em seres humanos é acidental. Prado et al., (2011) as principais formas de transmissão da toxoplasmose para o homem é o hábito de comer carne crua ou mal passada, além da ingestão de legumes, frutas, leite e água contaminados. Joiner e Dubremetz (1993) apontam que gestantes que adquirem a infecção durante a gestação, principalmente durante os primeiros dois trimestres, podem ter quadros de aborto espontâneo, nascimento prematuro, morte neonatal, ou sequelas severas no feto, como retinocoroidite, calcificações cerebrais e hidrocefalia ou microcefalia. A severidade da forma congênita vai depender da idade do feto. A infecção no início da gestação tende a estar associada ao aborto ou a sequelas mais severas, enquanto que a infecção tardia, embora seja mais frequente, leva a sequelas relativamente menos severas (AMENDOEIRA e CAMILLO-COIRO, 2010).

2. Objetivo

Os objetivos da pesquisa foram avaliar a percepção das gestantes e médicos sobre a Toxoplasmose nas municípios de Salto do Lontra, Realeza, Santa Isabel do Oeste e Planalto - PR. Realizou-se um levantamento sobre as informações que as gestantes têm sobre a relação zoonótica da toxoplasmose; formas de transmissão, consequências e prevenção. As gestantes foram questionadas sobre a existência e os hábitos dos gatos nas residências, além das práticas realizadas por estas na manipulação e no descarte das fezes destes animais de estimação.

Também foi verificado a existência de solicitações de exames para toxoplasmose no pré-natal e orientação médica sobre a doença.

3. Metodologia

A pesquisa foi composta por entrevistas com seis médicos que realizam atendimento e acompanhamento dos grupos de gestantes nos postos de saúdes do Sistema Único de Saúde (SUS) dos municípios de Planalto, Realeza, Santa Isabel do Oeste e Salto do Lontra – PR no período entre dezembro de 2015 e maio de 2016. Os médicos preencheram o termo de consentimento livre e esclarecido e responderam a uma entrevista, a conversa foi gravada após autorização dos mesmos para posterior tabulação e análise dos dados.  O questionário tinha como objetivos verificar se os mesmos solicitavam as gestantes o exame para detecção da toxoplasmose; em que momento da gestação o exame era solicitado; e quantas vezes durante a gestação o mesmo era realizado.  Procuravam identificar se eram repassadas orientações sobre a doença para as gestantes; e se eram realizadas orientações quando existia presença de gatos no domicílio ou local que a gestante mantinha contato. Durante a pesquisa foi aplicação do questionário para as gestantes foi realizada pelo profissional da área da enfermagem responsável pelo atendimento das gestantes em cada município. No estudo, todas as mulheres grávidas que realizaram acompanhamento pré-natal nas unidades básicas de saúde entre dezembro de 2015 a maio de 2016 foram convidadas a participar da pesquisa; as que aceitaram foram orientadas a preencher o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e em seguida responderam o questionário epidemiológico, que era composto por questões relacionadas a variáveis sociodemográficas, informações sobre a gestação, conhecimento sobre a doença toxoplasmose, hábitos de comportamento e alimentares e o contato com animais. Os dados coletados foram avaliados e tabulados pelo programa Microsoft Excel 2011.

4. Resultados e Discussão

O questionário epidemiológico foi aplicado a 87 gestantes, sendo 22 em Salto do Lontra, 23 em Santa Izabel do Oeste, 14 em Planalto e 26 em Realeza; Com relação às gestantes, quanto ao conhecimento sobre o que é toxoplasmose, mais de 80% das gestantes de Realeza afirmaram saber do que se trata. Salto do Lontra e Planalto apresentaram índices superiores, sendo de 68,18% e 56,25%, respectivamente. Já em Santa Izabel do Oeste, 52,17% das gestantes não sabem do que se trata. Apenas 25,7% de todas as gestantes sabiam quais as consequências da doença para elas; 69% apontaram saber quais animais podem transmitir a toxoplasmose, destas, 74,8% citaram os gatos e 13,2% os cães; Em relação ao consumo de alimentos como salame colonial, carne crua ou mal cozida e vegetais crus, 57,5%, 27,6% e 8,0% das gestantes apresentaram pelo menos um, dois e três comportamentos de risco para a doença, respectivamente. Seis dos oito médicos que realizam o acompanhamento pré-natal nos municípios foram entrevistados. Desses, todos relataram que a solicitação do exame sorológico é realizada logo no início do acompanhamento pré-natal; apenas 50% dos médicos afirmaram questionar as gestantes sobre a presença de animais de estimação na residência, em especial gatos. Quando a gestante é IgM e IgG  negativa para a doença todos os médicos afirmaram repetir o exame pelo menos mais duas vezes durante a gestação. Sobre orientações de como conviver com animais durante a gestação, em especial os gatos, um deles fez orientações para as soronegativas que deixem o gato com amigos ou familiares durante a gestação para aumentar a segurança. Um dos médicos apresentou comportamento mais radical e orientou as gestantes a se desfazerem dos felinos.

5. Conclusão

A divulgação de informações sobre qualquer temática não atinge restritamente àquele grupo em particular, mas se dissemina no âmbito social em que esta pessoa esta inserida. Cabe também aos médicos ampliar esta comunicação, pois trabalham diretamente com as gestantes, para orientar e diminuir as dúvidas e lacunas do esclarecimento sobre a doença.

Biografia do Autor

Davi Fernando Alba, Universidade Federal da Fronteira Sul
Acadêmico do curso Bacharelado em Medicina Veterinária
Karina Ramirez Starikoff, Universidade Federal da Fronteira Sul
Professora Doutora Docente em Universidade Federal da Fronteira Sul

Referências

AMENDOEIRA, M. R.; CAMILLO-COURA, L. F. Uma breve revisão sobre toxoplasmose na gestação. Scientia Medica, Porto Alegre, v.20, n.1, p.113-119, 2010.

DUBEY, JP. Toxoplasmosis of Animals and Humans. 2th. Boca Raton, FL: CRC Press; 2010.

JESUS, L. N. N. P. de. Avaliação da reatividade de anticorpos anti-Toxoplasma gondii pela técnica de citometria de fluxo como indicadores de lesão ocular em soros de recém nascidos com toxoplasmose congênita. 2014. 62 f. Dissertação (Mestrado em Doenças Infecciosas) - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências da Saúde Programa de Pós-graduação em doenças infecciosas, Vitória, 2014. Disponível em: <http://goo.gl/1j9Drk>. Acesso em: 25 mai. 2016.

JOINER, K. A. DUBRMETZ, J. F. Toxoplasma gondii: a protozoan for the nineties. Infect Immunity. v. 61, p. 1169-1172. Apr 1993. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC281344/>. Acesso em: 24 abr. 2016.

JONES, J. L. DUBEY, J. P. Foodborne toxoplasmosis. Clinical Infectious Diseases. 2012; 55:845–851.

Publicado
19-09-2016