ATLAS DAS LÍNGUAS EM CONTATO NA FRONTEIRA: OESTE CATARINENSE – CARTOGRAFIA

  • Ana Elizabeht Fornara Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Chapecó
  • Cristiane Horst Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Chapecó

Resumo

1 INTRODUÇÃO

 

Historicamente e em virtude da imigração e das correntes migratórias internas, muitas línguas foram e continuam sendo faladas na região Oeste Catarinense. A relação estabelecida entre esses falares provocou modificações na língua portuguesa e vice versa, constituindo, assim, variações particulares. Sabendo da insuficiência de pesquisas na relação entre línguas minoritárias e o português, e visto que levantamentos e estudos realizados por atlas linguísticos já existentes não cobrem o multilinguismo existente no Oeste Catarinense, a presente pesquisa buscou entender as relações interlinguais, bem como as relações identitárias advindas desse contanto em um meio pluriétnico. Para isso, criou-se uma base de dados, através da planilha do Excel, que auxiliará na elaboração de um atlas linguístico pluridimensional do contato de variedades minoritárias com o português, envolvendo também contextos extralinguísticos diversos.

2 OBJETIVO

 

O objetivo central do projeto foi desenvolver os fundamentos metodológicos necessários para a constituição de uma base de dados adequada para um atlas linguístico-contatual das línguas minoritárias com o português na região Oeste Catarinense.

3 METODOLOGIA

 

Inicialmente, buscou-se realizar um levantamento dos municípios das regiões “Caminhos da Fronteira” e “Grande Oeste”. Para isso foram pesquisados os históricos presentes nos sites de prefeituras municipais e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), selecionando as informações convenientes para reunir esses municípios em pontos para uma futura coleta de dados. Assim, contemplou-se os 76 municípios que formam a região Oeste Catarinense e estabeleceu-se a presença de 36 pontos para coleta de dados.

Nesse período também realizou-se a revisão do questionário linguístico (Krug, 2013). A proposta inicial foi a de realizar uma testagem piloto do questionário no município de Chapecó e redondezas, no entanto, nesse projeto não foi possível efetuar essa aplicação de maneira integral. Reavaliou-se a questão, uma vez que aplicações parciais foram e estão sendo desenvolvidas por alunos do Mestrado em Estudos Linguísticos, da UFFS – campus Chapecó

Como proposta básica desse projeto construiu-se um mapa dentro da planilha do Excel que servirá de base para lincar outras planilhas referentes aos dados fonéticos, sonoros e estilísticos quando, de fato, essas informações forem obtidas em futuras pesquisas de campo. Para finalizar, criamos um blog na internet onde o mapa foi publicado.

4 RESULTADOS  E DISCUSSÕES

 

As análises feitas a partir dos históricos dos municípios do Oeste Catarinense apontam para uma necessidade crescente de estudos em prol das línguas minoritárias, visto que a falta de informações referentes a tais línguas refletem em atitudes equivocadas que geram a estigmatização dos falantes. Como exemplo, os históricos citam uma “cultura típica” das etnias predominantes na região, mas não fazem referência às questões linguísticas. Muitas vezes, inclusive, aborda-se a presença de línguas minoritárias dentro do tópico “turismo” presente nos sites de prefeituras municipais. Línguas minoritárias aparecem como algo exótico e enfatiza-se a “beleza” que há na cultura vinda da Europa, porém, desconsidera-se a importância cognitiva e identitária que tais línguas possuem para a sociedade, de maneira geral. Quanto às línguas indígenas, os históricos praticamente apagam a história pré-colonização e a atual existência de povos indígenas na região.

Na tentativa de reverter a situação, a base de dados criada a partir desse projeto conta com 36 pontos de coleta de dados definidos na região Oeste Catarinense através de uma análise minuciosa que contemplou aspectos históricos, geográficos, políticos, culturais e linguísticos de todos os municípios que compõem a região. Cada ponto de coleta de dados se justifica por um motivo central que reflete uma situação única de municípios ou grupo de municípios. Dessa forma, tem-se desde a formação de uma ilha linguística, ou seja, a presença de um município que se diferencia linguisticamente dos demais por questões recorrentes apenas nesse ponto, como a formação de uma língua de fronteira, até a junção de três ou mais municípios vizinhos que possuem características linguísticas semelhantes, como a vinda de imigrantes de uma mesma região e a predominância de uma mesma língua minoritária.

Nesse momento, apresentam-se os pontos para a futura coleta de dados:

Dionísio Cerqueira; Anchieta; Palma Sola; São José do Cedro, Princesa, Guarujá do Sul e Guaraciaba; Descanso e Belmonte; São Miguel Do Oeste, Bandeirantes, Barra Bonita e Paraíso; Iporã do Oeste e Tunapólis; Itapiranga e São João do Oeste; Santa Helena; Riqueza, Caibi, Mondai; São Carlos; Palmitos; Iraceminha, Flor do Sertão, São Miguel da Boa Vista e Romelândia; Tigrinhos, Serra Alta e Bom Jesus do Oeste e Saltinho; Águas de Chapecó; Guatambu, Caxambu do Sul e Planalto Alegre; Nova Erechim; Chapecó; Cunhatai, Saudades e Cunha Porã; Águas Frias, Jardinópolis, União do Oeste, Irati e Coronel Freitas; Maravilha; Pinhalzinho; Modelo; Xaxim e Cordilheira Alta; Quilombo, Formosa do Sul e Santiago do Sul; Marema e Lajeado Grande; Entre Rios e Ipuaçu; São Domingos; Xanxerê; Faxinal dos Guedes, Vargeão, Ponte Serrada e Passos Maia; Abelardo Luz; Bom Jesus e Ouro Verde; Coronel Martins, Galvão e Jupiá; São Lourenço do Oeste; São Bernardino e Novo Horizonte; Campo Erê.

 

5 CONCLUSÃO

Ao término da pesquisa reforçamos a ideia inicial de que o Oeste Catarinense é uma região linguisticamente diversificada, portanto plurilíngue. Diversas línguas minoritárias e o português, língua majoritária, coexistem e se relacionam nesse espaço, consequentemente existem modos de falar diferentes, mas complementares.

A atual pesquisa cartográfica, portanto, age exatamente sobre a grande demanda dos estudos de contato de línguas minoritárias: o levantamento de dados. É através de um banco de dados que seja de fácil manuseio por parte dos pesquisadores que se poderá constituir um atlas linguístico da região Oeste. Assim, acredita-se ser possível realizar pesquisas diversas, com o intuito de desconstruir crenças, conhecer mais um pouco do uso real do português dessa região, revitalizar e manter línguas na região da Fronteira Sul.

 

Mapa 1. Região Oeste Catarinense com os pontos para coleta de dados:

 

Palavras-chave: Geolinguística; Cartografia linguística; Banco de dados; Pluridimensionalidade

Publicado
06-09-2016