LEITURA, ESCRITA E INTERTEXTUALIDADE: REVELAÇÕES DO AMBIENTE ACADÊMICO

  • Deivid Sacon Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Erechim
  • Andréia Inês Hanel Cerezoli Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Erechim

Resumo

1 Introdução

A leitura é uma atividade altamente complexa de produção de sentidos, baseada não só na inteligibilidade dos elementos linguísticos presentes na superfície do texto, mas, também, na mobilização de diferentes saberes, experiências e conhecimentos do leitor.  Uma dessas exigências materializa-se na necessidade do (re) conhecimento de outro (s) texto (s) ou do modo de constituí-los no processo de leitura e produção de sentido, ou seja, nas questões de intertextualidade. Adota-se aqui a explicação de intertextualidade concebida pela Linguística Textual que a define como a presença, em um texto, de outro texto (intertexto) anteriormente produzido, configurando-se como um fator responsável, também, pela coerência do texto.

2 Objetivo

O objetivo deste trabalho é apresentar resultados parciais de pesquisa desenvolvida para verificar se estudantes universitários identificam intertextos em charges jornalísticas, ou seja, se demonstram a competência da leitura.

 

3 Metodologia

Os dados analisados foram obtidos em uma situação de avaliação acadêmica decorrente de trabalho desenvolvido em um componente curricular para calouros, de uma universidade pública do sul do Brasil. O corpus era composto de 51 (cinquenta e uma) provas, cada uma com 2 (duas) questões.

As questões foram selecionadas estabelecendo-se que o gênero textual selecionado seria a charge jornalística, os assuntos poderiam circular por diferentes esferas sociais.

4 Resultados e Discussão

Estabeleceu-se como ideal (compreensão do texto) que os alunos deveriam reconhecer os dois intertextos presentes e os sentidos produzidos a partir da combinação dos discursos. Assim, para o texto 1, esperava-se que os alunos identificassem a presença de elementos que remetessem aos filmes da série “Velozes e Furiosos”. Chamou-se essa referência de Intertexto 1. Além disso, esperava-se o reconhecimento de outro intertexto: o da disputa pelo espaço no mercado de transportes privados urbanos, ocasionada pela implementação de carros, conectados ao aplicativo UBER e os tradicionais táxis urbanos. Chamou-se essa referência de Intertexto 2.

Os intertextos atualizados na charge permitiram ao autor fazer uso da trama ficcional do filme “Velozes e Furiosos” para contextualizar as disputas e confrontos existentes nas cidades entre táxis e UBERs.

Os dados obtidos no questionário mostraram que treze alunos não identificaram nenhum dos intertextos propostos, trinta e dois identificaram apenas um dos intertextos presentes na charge e apenas seis alunos conseguiram identificar os dois intertextos presentes e o sentido construído.

Para o texto 2, esperava-se que os alunos notassem a presença de elementos que remetiam à medida tomada para evitar o racionamento de água na Grande São Paulo, a captação do chamado “volume morto”  do Sistema Cantareira. Chamou-se essa referência de intertexto 1. O intertexto 2 remete à obra “Vidas secas” de Graciliano Ramos que retrata a história de uma família que caminha sob o sol escaldante do nordeste, buscando encontrar um lugar menos castigado pela seca, observando os restos mortais de diferentes plantas e animais ao longo do caminho percorrido.

O sentido produzido na charge pela presença dos intertextos 1 e 2 é criticar o enfoque dado pelas mídias e por governos à situação hídrica de São Paulo, em detrimento da atenção destinada ao nordeste brasileiro que enfrenta crises hídricas constantemente.

Os dados mostraram que trinta e oito alunos não conseguiram identificar nenhum dos intertextos presentes na charge e treze alunos conseguiram identificar o intertexto 1, que fazia referência à crise hídrica enfrentada pela população da Grande São Paulo. Nenhum dos alunos conseguiu identificar a presença dos dois intertextos, impossibilitando a compreensão da charge.

5 Conclusão

A intertextualidade é um fenômeno indispensável na produção dos mais diferentes gêneros textuais, que precisa ser explorado metodologicamente de modo diferenciado nas aulas de Língua Portuguesa, a fim de possibilitar a compreensão efetiva dos textos.

Afinal, a reconstrução dos sentidos de um texto é a soma de crenças, vivências de leituras mil de livros, filmes, museus, exposições; experiências pessoais e sociais; convivência com pessoas próximas e distantes; mas também por ações pedagógicas efetivas voltadas para boas práticas de leitura a serem desenvolvidas em espaços de ensino e aprendizagem públicos e privados.

Biografia do Autor

Deivid Sacon, Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Erechim
Graduando em Agronomia pela Universidade Federal da Fronteira Sul
Publicado
16-10-2016