OS ANCIÃOS KAINGANG E OS ITINERÁRIOS DAS FONTES DO MONGE JOÃO MARIA
Palavras-chave:
Fontes de água, Kaingang, Monge João MariaResumo
O imaginário popular tem inspirado rotas e caminhos sagrados. No Sul do Brasil, há uma hagiografia popular sobre o monge João Maria que é constantemente atualizada em diferentes contextos. Há itinerários demarcados no estado do Paraná, com parques que investem no ambientalismo e na defesa da natureza, amparados por ensinamentos e profecias do monge. As romarias privilegiam a relação com o sagrado e as curas que são a ele atribuídas. Em Santa Catarina, além das cidades que compõem o roteiro do conflito do Contestado, há as que cultuam a história e as marcas da passagem do monge. No oeste catarinense, os Kaingang, que foram marginalizados pelo processo de colonização, implementado, especialmente no final do Século XIX e início do XX, rememoram e transmitem às novas gerações a importância da preservação dos modos de conhecimento transmitidos pelo “São João Maria” como costumam se referir. As narrativas dos ancestrais sobre o monge são adotadas para ressignificar lugares e práticas. As fronteiras impressas no espaço pela colonização dificultaram o acesso às fontes do monge. No presente, há uma tentativa de incluir e dar visibilidade aos olhos d’água reconhecidos como pontos do itinerário do monge. A pesquisa busca além de mapear e acompanhar a visitação das fontes de águas consideradas santas no interior do município de Chapecó, SC, refletir sobre os significados e práticas do culto ao São João Maria no presente. Quais são os sentidos atribuídos aos caminhos considerados sagrados pelos anciãos Kaingang? Que histórias essas experiências comunicam? Como esses modos de conhecimento se articulam com a afirmação da identidade Kaingang e as lutas do presente? A metodologia adotada consiste na realização de entrevistas com os anciãos Kaingang e no registro das memórias e histórias sobre o monge. A etnografia pretende também abordar os mapas cognitivos que orientaram as experiências do passado que ainda guardam reminiscências dos itinerários das consideradas “águas santas”, as fontes do monge, nas quais foram batizados muitos Kaingang. A pesquisa está em consonância com a demanda da Escola Indígena Toldo Chimbangue, em registrar esse patrimônio imaterial e também proporcionar às novas gerações o conhecimento dos itinerários e rotinas que marcaram a vida dos ancestrais antes dos limites geográficos e culturais impostos pelo capitalismo e pela colonização. A crescente onda evangélica neopentecostal tem atuado no sentido de desqualificar os modos de conhecimento transmitidos pelo monge, como o cuidado com a natureza e a defesa de viver a vida de maneira frugal, sendo que esses valores contrastam com a teologia da prosperidade. O registro dessas experiências é significativo para que os anciãos possam compartilhar esses saberes com outras gerações Kaingang e também com outros públicos.
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