AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIMICROBIANO DE ÓLEOS ESSENCIAIS DE PLANTAS MEDICINAIS
Palavras-chave:
Atividade antimicrobiana; Resistência bacteriana; Produtos naturais; Terapia alternativa; Fitoterapia.Resumo
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIMICROBIANO DE ÓLEOS ESSENCIAIS DE PLANTAS MEDICINAIS.
PAULO HENRIQUE FIGUEIREDO1, JÚLIA TEODORO2, ADRIANO FAVERO3, WAGNER LUIZ DA COSTA FREITAS4, FAGNER LUIZ DA COSTA FREITAS5.
INTRODUÇÃO
A resistência antimicrobiana é um dos desafios mais críticos para a saúde única, pois impacta significativamente a saúde humana e animal, devido à capacidade de microrganismos, tais como bactérias, fungos e parasitos, sobreviverem e se multiplicarem mesmo na presença de agentes antimicrobianos e antiparasitários (Anvisa, 2022).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, até 2050, a resistência antimicrobiana poderá causar milhões de mortes anuais caso medidas eficazes não sejam tomadas. Estima-se que infecções causadas por bactérias resistentes sejam responsáveis por aproximadamente 50 mil óbitos anuais na Europa e nos Estados Unidos (Marques et al., 2023).
No Brasil, a situação também é alarmante. Dados do Ministério da Saúde (2025), indicam que a resistência antimicrobiana é diretamente responsável por cerca de 34 mil mortes anuais. Além disso, o país registra aproximadamente 221 mil óbitos relacionados a infecções bacterianas e 400 mil casos de sepse a cada ano, reforçando a magnitude desse problema de saúde pública.
Diante desse desafio, diversas estratégias têm sido investigadas visando o enfrentamento da resistência microbiana. Entre elas, destaca-se o uso de óleos essenciais (OEs), cujos potenciais efeitos terapêuticos têm sido amplamente documentados e vêm despertando crescente interesse na comunidade científica.
OBJETIVO
O referido estudo teve como finalidade avaliar atividade antimicrobiana dos óleos essenciais de palmarosa Cymbopogon martinii (OEP), citronela Cymbopogon winterianus (OEC), melaleuca Melaleuca alternifolia (OEM), alecrim Rosmarinus officinalis (OEA) e lavanda Lavandula dentata (OEL), cultivados em Realeza/PR, frente a cepas padrões de Pseudomonas aeruginosa, Shigella flexneri, Streptococcus uberis, Streptococcus agalactiae, Streptococcus pyogenes, Enterococcus faecalis e Bacillus cereus.
MATERIAL E MÉTODOS
Cultivo e colheita de plantas medicinais
O trabalho foi realizado na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Realeza, PR, Brasil. As mudas de Palmarosa; Citronela; Melaleuca; Alecrim e Lavanda foram cultivadas e colhidas no Setor de Áreas Experimentais da UFFS, sendo encaminhadas ao Laboratório de Química para posterior extração do óleo essencial.
Extração do óleo essencial e Análise Cromatográfica
A massa vegetal fresca foi submetida à técnica de destilação por arraste a vapor para obtenção dos OEs. Os OEs foram analisados por cromatógrafo de fase gasosa acoplada a espectrometria de massas. O aparelho utilizado foi da marca Agilent, modelo MSD 5977.
Culturas e microrganismos
Foram usadas cepas padrões de Pseudomonas aeruginosa NP0053, Shigella flexneri NP0122, Streptococcus uberis, Streptococcus agalactiae, Streptococcus pyogenes NP0015, Enterococcus faecalis NP0022 e Bacillus cereus. Provenientes do Laboratório de Pesquisas NB2 da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Realeza, PR.
Padronização do Inóculo
As culturas foram reativadas e enriquecidas caldo de Brain Heart Infusion Broth (BHI) e posteriormente foram transferidas para caldo Mueller Hinton (CMH) e padronizadas para turbidez equivalente 0,5 da escala de McFarland, correspondendo a 1,5 x 108 UFC/mL.
Determinação da CIM e CBM
A Concentração Inibitória Mínima (CIM) foi determinada por meio do método de microdiluição em caldo, seguindo diretrizes padronizadas do CLSI (2024). Foram utilizadas diluições seriadas dos OEs e inóculo ajustado à escala 0,5 de McFarland, com leituras espectrofotométricas a 625 nm antes e após incubação a 36 °C por 24 horas. A viabilidade bacteriana foi confirmada com resazurina, indicador de crescimento baseado em alteração de cor (azul para rosa), conforme descrito por Reller et al. (2009) e Schumacher et al. (2024). A Concentração Bactericida Mínima (CBM) foi obtida a partir dos poços sem crescimento visível na CIM, sendo semeados em ágar Mueller Hinton e incubados a 35 ± 2 °C/24h. A menor concentração sem crescimento bacteriano visível foi considerada a CBM (CLSI, 1999).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em nosso estudo, todas as cepas bacterianas testadas apresentaram sensibilidade aos OEs na triagem por disco-difusão, sendo posteriormente submetidas ao ensaio de microdiluição para determinação da CIM e da CBM. Os valores de CIM variaram entre 12,5% e 11%, enquanto os de CBM oscilaram de 12,5% a 0,78%.
A cepa Pseudomonas aeruginosa apresentou elevada resistência aos OEs, exigindo altas concentrações para efeito bactericida (CIM ≥ 6,25%), conforme também relatado por Contrucci et al. (2019) e Paula et al. (2022). No entanto, OEA e OEP demonstraram maior eficácia, com CIM de 0,78125% e CBM de 12,5%, sugerindo potencial terapêutico.
A Shigella flexneri foi altamente sensível ao OEC (CIM de 0,09765%), com resultados semelhantes para OEP, OEA e OEM. Embora estudos anteriores, como o de Bittencourt (2014), relatem baixa eficácia do OEA, neste estudo ele apresentou atividade promissora (CIM de 0,195312% e CBM de 1,5625%).
As cepas de Streptococcus uberis e S. agalactiae foram sensíveis à maioria dos OEs, especialmente ao OEP. No entanto, o OEM demonstrou menor eficácia frente ao S. uberis, e o OEA exigiu concentrações mais altas contra S. agalactiae.
A Streptococcus pyogenes apresentou alta suscetibilidade aos OEs, com CIMs entre 0,04882% e 0,195312%, embora alguns óleos tenham requerido maiores concentrações para efeito bactericida, como observado por Silva et al. (2019).
Para Enterococcus faecalis, o OEP teve melhor desempenho (CIM e CBM de 0,78125%), enquanto OEC e OEM exigiram concentrações mais elevadas. OEA e OEL apresentaram atividade intermediária.
A cepa Bacillus cereus foi sensível a diversos OEs, especialmente ao OEP e OEA. Esses achados corroboram a maior suscetibilidade de bactérias Gram-positivas, como descrito por Calo et al. (2015) e Heberle et al. (2016).
Embora tenha sido observada variação na atividade antibacteriana entre as diferentes bactérias, todos os OEs cultivados no município de Realeza, PR, foram capazes de inibir o crescimento das cepas testadas. Destaca-se a alta susceptibilidade de Streptococcus pyogenes ao efeito bactericida dos OEs. Em contraste, Pseudomonas aeruginosa que demonstrou maior resistência à ação bactericida, especialmente frente aos OEP e OEC. Para os OEs OEM e OEL, a atividade bacteriostática foi observada em concentrações de 6,25%, enquanto, para OEA, a CBM foi de 12,5%, indicando a necessidade de concentrações mais elevadas para efeito bactericida sobre essa espécie.
CONCLUSÃO
O estudo comprova o potencial dos OEs como agentes antimicrobianos alternativos e evidencia que sua eficácia varia conforme a composição química e o microrganismo alvo. Os resultados apontam para a relevância de aprofundar pesquisas que padronizem formulações e explorem combinações sinérgicas, visando ampliar seu uso seguro e eficaz no combate à resistência antimicrobiana.
Assim, reafirma-se que os óleos essenciais representam não apenas uma alternativa promissora, mas também uma estratégia potencialmente transformadora no enfrentamento da resistência antimicrobiana.
REGÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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