AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIMICROBIANO DE ÓLEOS ESSENCIAIS DE PLANTAS MEDICINAIS

Autores

  • Graduando em Medicina Veterinária. JÚLIA TEODORO Universidade Federal da Fronteira Sul. Grupo de Pesquisa em Saúde Única.
  • Medico Veterinário Paulo Henrique Figueiredo Universidade Federal da Fronteira Sul. Grupo de Pesquisa em Saúde Única. https://orcid.org/0009-0002-8624-5932
  • Doutorando em Biociências e Saúde. Universidade Federal da Fronteira Sul. Grupo de Pesquisa em Saúde Única. https://orcid.org/0000-0002-9414-1095
  • Doutor em Biotecnologia. Luiz da Costa Freitas Universidade Federal da Fronteira Sul. Grupo de Pesquisa em Saúde Única.
  • Professor Dr. Fagner Luiz da Costa Freitas Responsável pelo rupo de Pesquisa em Saúde Única. https://orcid.org/0000-0003-2792-4230

Palavras-chave:

Atividade antimicrobiana; Resistência bacteriana; Produtos naturais; Terapia alternativa; Fitoterapia.

Resumo

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIMICROBIANO DE ÓLEOS ESSENCIAIS DE PLANTAS MEDICINAIS.

PAULO HENRIQUE FIGUEIREDO1, JÚLIA TEODORO2, ADRIANO FAVERO3, WAGNER LUIZ DA COSTA FREITAS4, FAGNER LUIZ DA COSTA FREITAS5.


INTRODUÇÃO

A resistência antimicrobiana é um dos desafios mais críticos para a saúde única, pois impacta significativamente a saúde humana e animal, devido à capacidade de microrganismos, tais como bactérias, fungos e parasitos, sobreviverem e se multiplicarem mesmo na presença de agentes antimicrobianos e antiparasitários (Anvisa, 2022).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, até 2050, a resistência antimicrobiana poderá causar milhões de mortes anuais caso medidas eficazes não sejam tomadas. Estima-se que infecções causadas por bactérias resistentes sejam responsáveis por aproximadamente 50 mil óbitos anuais na Europa e nos Estados Unidos (Marques et al., 2023). 

No Brasil, a situação também é alarmante. Dados do Ministério da Saúde (2025),  indicam que a resistência antimicrobiana é diretamente responsável por cerca de 34 mil mortes anuais. Além disso, o país registra aproximadamente 221 mil óbitos relacionados a infecções bacterianas e 400 mil casos de sepse a cada ano, reforçando a magnitude desse problema de saúde pública.

Diante desse desafio, diversas estratégias têm sido investigadas visando o enfrentamento da resistência microbiana. Entre elas, destaca-se o uso de óleos essenciais (OEs), cujos potenciais efeitos terapêuticos têm sido amplamente documentados e vêm despertando crescente interesse na comunidade científica.

 

OBJETIVO

O referido estudo teve como finalidade avaliar atividade antimicrobiana dos óleos essenciais de palmarosa Cymbopogon martinii (OEP), citronela Cymbopogon winterianus (OEC), melaleuca Melaleuca alternifolia (OEM), alecrim Rosmarinus officinalis (OEA) e lavanda Lavandula dentata (OEL), cultivados em Realeza/PR, frente a cepas padrões de Pseudomonas aeruginosa, Shigella flexneri, Streptococcus uberis, Streptococcus agalactiae, Streptococcus pyogenes, Enterococcus faecalis e Bacillus cereus.

MATERIAL E MÉTODOS

Cultivo e colheita de plantas medicinais

O trabalho foi realizado na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Realeza, PR, Brasil. As mudas de Palmarosa; Citronela; Melaleuca; Alecrim e Lavanda foram cultivadas e colhidas no Setor de Áreas Experimentais da UFFS, sendo encaminhadas ao Laboratório de Química para posterior extração do óleo essencial.

Extração do óleo essencial e Análise Cromatográfica

A massa vegetal fresca foi submetida à técnica de destilação por arraste a vapor para obtenção dos OEs. Os OEs foram analisados por cromatógrafo de fase gasosa acoplada a espectrometria de massas. O aparelho utilizado foi da marca Agilent, modelo MSD 5977.

Culturas e microrganismos

Foram usadas cepas padrões de Pseudomonas aeruginosa NP0053, Shigella flexneri NP0122, Streptococcus uberis, Streptococcus agalactiae, Streptococcus pyogenes NP0015, Enterococcus faecalis NP0022 e Bacillus cereus. Provenientes do Laboratório de Pesquisas NB2 da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Realeza, PR.

Padronização do Inóculo

As culturas foram reativadas e enriquecidas caldo de Brain Heart Infusion Broth (BHI) e posteriormente foram transferidas para caldo Mueller Hinton (CMH) e padronizadas para turbidez equivalente 0,5 da escala de McFarland, correspondendo a 1,5 x 108 UFC/mL. 

Determinação da CIM e CBM

A Concentração Inibitória Mínima (CIM) foi determinada por meio do método de microdiluição em caldo, seguindo diretrizes padronizadas do CLSI (2024). Foram utilizadas diluições seriadas dos OEs e inóculo ajustado à escala 0,5 de McFarland, com leituras espectrofotométricas a 625 nm antes e após incubação a 36 °C por 24 horas. A viabilidade bacteriana foi confirmada com resazurina, indicador de crescimento baseado em alteração de cor (azul para rosa), conforme descrito por Reller et al. (2009) e Schumacher et al. (2024). A Concentração Bactericida Mínima (CBM) foi obtida a partir dos poços sem crescimento visível na CIM, sendo semeados em ágar Mueller Hinton e incubados a 35 ± 2 °C/24h. A menor concentração sem crescimento bacteriano visível foi considerada a CBM (CLSI, 1999).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em nosso estudo, todas as cepas bacterianas testadas apresentaram sensibilidade aos OEs na triagem por disco-difusão, sendo posteriormente submetidas ao ensaio de microdiluição para determinação da CIM e da CBM. Os valores de CIM variaram entre 12,5% e 11%, enquanto os de CBM oscilaram de 12,5% a 0,78%.

A cepa Pseudomonas aeruginosa apresentou elevada resistência aos OEs, exigindo altas concentrações para efeito bactericida (CIM ≥ 6,25%), conforme também relatado por Contrucci et al. (2019) e Paula et al. (2022). No entanto, OEA e OEP demonstraram maior eficácia, com CIM de 0,78125% e CBM de 12,5%, sugerindo potencial terapêutico.

A Shigella flexneri foi altamente sensível ao OEC (CIM de 0,09765%), com resultados semelhantes para OEP, OEA e OEM. Embora estudos anteriores, como o de Bittencourt (2014), relatem baixa eficácia do OEA, neste estudo ele apresentou atividade promissora (CIM de 0,195312% e CBM de 1,5625%).

As cepas de Streptococcus uberis e S. agalactiae foram sensíveis à maioria dos OEs, especialmente ao OEP. No entanto, o OEM demonstrou menor eficácia frente ao S. uberis, e o OEA exigiu concentrações mais altas contra S. agalactiae.

A Streptococcus pyogenes apresentou alta suscetibilidade aos OEs, com CIMs entre 0,04882% e 0,195312%, embora alguns óleos tenham requerido maiores concentrações para efeito bactericida, como observado por Silva et al. (2019).

Para Enterococcus faecalis, o OEP teve melhor desempenho (CIM e CBM de 0,78125%), enquanto OEC e OEM exigiram concentrações mais elevadas. OEA e OEL apresentaram atividade intermediária.

A cepa Bacillus cereus foi sensível a diversos OEs, especialmente ao OEP e OEA. Esses achados corroboram a maior suscetibilidade de bactérias Gram-positivas, como descrito por Calo et al. (2015) e Heberle et al. (2016).

Embora tenha sido observada variação na atividade antibacteriana entre as diferentes bactérias, todos os OEs cultivados no município de Realeza, PR, foram capazes de inibir o crescimento das cepas testadas. Destaca-se a alta susceptibilidade de Streptococcus pyogenes ao efeito bactericida dos OEs. Em contraste, Pseudomonas aeruginosa que demonstrou maior resistência à ação bactericida, especialmente frente aos OEP e OEC. Para os OEs OEM e OEL, a atividade bacteriostática foi observada em concentrações de 6,25%, enquanto, para OEA, a CBM foi de 12,5%, indicando a necessidade de concentrações mais elevadas para efeito bactericida sobre essa espécie.

 

CONCLUSÃO

O estudo comprova o potencial dos OEs como agentes antimicrobianos alternativos e evidencia que sua eficácia varia conforme a composição química e o microrganismo alvo. Os resultados apontam para a relevância de aprofundar pesquisas que padronizem formulações e explorem combinações sinérgicas, visando ampliar seu uso seguro e eficaz no combate à resistência antimicrobiana.

Assim, reafirma-se que os óleos essenciais representam não apenas uma alternativa promissora, mas também uma estratégia potencialmente transformadora no enfrentamento da resistência antimicrobiana.


REGÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANVISA. Considerada um grave problema de saúde pública, a resistência microbiana aos antimicrobianos causa um número expressivo de óbitos e prejuízos à economia. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2021/confira-dados-mundiais-sobre-resistencia-microbiana. Acesso em: 11 jan. 2025.

BITTENCOURT, W. J. M. Óleos essenciais de plantas condimentares com potencial anti-Shigella flexneri na conservação de carne moída. 2014. 70 p. Dissertação (Mestrado em Plantas Medicinais, Aromáticas e Condimentares) – Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2014. Disponível em: http://repositorio.ufla.br/jspui/handle/1/5151.

CALO, J. R.; CRANDALL, P. G.; O'BRIEN, C. A.; RICKE, S. C. Essential oils as antimicrobials in food systems: a review. Food Control, v. 54, p. 111-119, 2015.

CLSI. Methods for Determining Bactericidal Activity of Antimicrobial Agents; Approved Guideline M26-A. Wayne, PA, USA, 1999.

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CONTRUCCI, B. A. et al. Efeito de óleos essenciais sobre bactérias gram-negativas isoladas de alimentos. Ensaios e Ciências, v. 23, n. 3, p. 180-184, 2019.

Heberle, T. et al. Atividade antimicrobiana de óleo essencial de laranja. XCIGR Section VI international technical symposium food: the tee that sustains life. FURGS, Gramado-RS, 2016.

Marques, G. R.; Santos, A. C. C.; Costa, M. T. Resistência bacteriana na medicina veterinária e implicações com a saúde pública. Vet. e Zootec., v. 30, 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. RAM no Brasil. 2025. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/r/ram/ram-no-brasil. Acesso em: 15 mai. 2025.

PAULA, et al. Ação antimicrobiana de óleo essencial extraído de diferentes marcas portuguesas de hortelã-pimenta. Revista Multiciência Online, v. 7, n. 10, 2022.

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Silvia, S. R. et al. Avaliação da atividade antimicrobiana do óleo essencial das sementes de Passiflora edulis sims frente às bactérias gram-positivas e gram-negativa. Revista multidisciplinar e de psicologia, v. 13, n. 43, p. 1003-1017, 2019.

SCHUMACHER, A. et al. In vitro antimicrobial susceptibility testing methods: agar dilution to 3D tissue-engineered models. European Journal of Clinical Microbiology & Infectious Diseases, 2024.

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Biografia do Autor

  • Medico Veterinário Paulo Henrique Figueiredo, Universidade Federal da Fronteira Sul. Grupo de Pesquisa em Saúde Única.

    Sou graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) Campus Realeza-PR e atuo em projetos de Iniciação Científica com apoio da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado do Paraná (FA). Tenho experiência na área de Medicina Veterinária, com ênfase em clínica cirúrgica, clínica médica e anestesiologia de animais de companhia, atuando no auxílio a médicos veterinários nessas especialidades. Possuo formação como Auxiliar de Médico Veterinário e conhecimentos básicos em Medicina Tradicional Chinesa, incluindo acupuntura, moxabustão, cura reconectiva, Reiki e fitoterapia. Desenvolvo pesquisas voltadas à avaliação do potencial antimicrobiano de óleos essenciais em associação sinérgica com medicamentos alopáticos e na análise do rendimento e da composição cromatográfica de óleos essenciais obtidos de plantas medicinais, bem como no desenvolvimento de formulações de medicamentos e antiparasitários. Além disso, integro o Grupo de Estudos em Saúde Única, aprofundando meus conhecimentos sobre a inter-relação entre saúde animal, humana e ambiental.

  • Doutorando em Biociências e Saúde., Universidade Federal da Fronteira Sul. Grupo de Pesquisa em Saúde Única.

    Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Especialização em Análises Clínicas e Microbiologia, Especialização em Biotecnologia II e Mestre em Ciências Aplicadas a Saúde, ambos pela UNIOESTE. Mestre em Saúde, Bem-Estar e Produção Animal Sustentável na Fronteira Sul na UFFS. Doutorando em Biociências e Saúde na UNIOESTE.Experiência na grande área da Saúde, principalmente na Microbiologia, mas atuando também nas seguintes áreas: fisiologia humana, farmacologia, parasitologia, controle de qualidade, análises clínicas, físico-químicas e microbiológicas. Atualmente:- Laboratorista na Universidade Federal da Fronteira Sul, responsável pelo laboratorio de pesquisa Nivel de Biossegurança 2

  • Doutor em Biotecnologia. Luiz da Costa Freitas, Universidade Federal da Fronteira Sul. Grupo de Pesquisa em Saúde Única.

    Profissional com graduação em Ciências Biológica; Especialização em Análises Clínicas; Mestrado e Doutorado em Ciências, com ênfase em Microbiologia Aplicada Escola de Engenharia de Lorena - EEL USP. Exerceu função de docente na formação de alunos dos cursos de Ciências Biológicas, Engenharia Bioquímica e Ciências Farmacêuticas.

  • Professor Dr. Fagner Luiz da Costa Freitas, Responsável pelo rupo de Pesquisa em Saúde Única.

    Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Semiárido (2003), Mestrado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2006), Doutorado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2009) e Pós-doutorado em Imunologia pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é professor Associado I da Universidade Federal da Fronteira Sul, tendo experiência na área de Medicina Veterinária, com ênfase em Doenças Parasitárias de Animais Domésticos.

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Publicado

06-10-2025

Edição

Seção

Ciências Agrárias - Campus Realeza