ANÁLISE DO PERFIL DO EGRESSO DO CURSO DE MEDICINA DA UFFS CHAPECÓ

Autores

  • Rackel Silva Resende Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Luísa Eugênio Farias
  • Renne Rodrigues
  • Graciela Soares Fonseca

Palavras-chave:

Faculdades de medicina, Formação Médica; Educação Superior; Educação de Graduação em Medicina., Avaliação curricular, 1. Políticas Educacionais 2. Heroificação 3. Discurso

Resumo

om a subsequente promulgação da Constituição Federal de 1988, observou-se a criação de um modelo pautado pela prevenção de doenças e agravos e pela promoção da saúde, em contraposição ao modelo flexneriano tradicional.  Marco desse processo é a Estratégia Saúde da Família, que (re)estruturou a Atenção Primária à Saúde (APS). Como parte desse processo, destaca-se a importância da formação de médicos generalistas, capazes de atuar em consonância com os princípios e pilares do SUS, promovendo cuidados integrados e centrados na saúde da população (Nogueira, 2009; Castellanos et al., 2009).

Nas últimas décadas, orientados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para os cursos de Medicina, observou-se um fortalecimento dos processos educacionais e uma redefinição do papel das escolas médicas. Entre os pontos centrais das DCNs, destaca-se a formação de médicos com uma compreensão ampliada da saúde, dotados de visão social crítica e aptos a aplicar uma medicina voltada ao cuidado integral do indivíduo. Nesse sentido, a formação é direcionada ao desenvolvimento de habilidades e competências que capacitam o médico para a atuação, sobretudo no SUS, a fim de responder às demandas de saúde da população (Chaves; Rosa, 1990; Pícoli et al., 2017; Elizondo-Montemayor et al., 2007; Franco et al., 2014).

Entretanto, apesar dos avanços — como a ampliação de vagas e o ingresso crescente de estudantes —, a formação médica ainda enfrenta barreiras relacionadas ao acesso, já que a entrada nos cursos de Medicina permanece fortemente influenciada por fatores socioeconômicos e culturais, que impactam diretamente o perfil dos profissionais formados (Figueiredo et al., 2022).

Diante desse cenário, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o perfil dos egressos do curso de Medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Chapecó, buscando compreender suas características sociodemográficas, bem como os desafios técnico-científicos e sociais enfrentados no início da trajetória profissional. 

2 Objetivos

O presente estudo teve como objetivo caracterizar o perfil dos egressos das três primeiras turmas do curso de Medicina da UFFS Campus Chapecó, em relação a inserção no mercado de trabalho, pós-graduação e satisfação profissional.

3 Metodologia

Trata-se de um estudo quantitativo, de delineamento transversal e caráter descritivo, realizado com egressos das turmas iniciais do curso de Medicina da UFFS, Campus Chapecó. Foram incluídos na pesquisa todos os egressos com no mínimo um ano de formado, correspondentes às três primeiras turmas do curso.

A coleta de dados ocorreu aproximadamente um ano após a conclusão do curso, por meio da aplicação de um questionário estruturado, elaborado especificamente para esta pesquisa, que foi disponibilizado em formato digital. O instrumento investigou variáveis sociodemográficas, localização geográfica pós-formatura, inserção no mercado de trabalho, trajetória na formação pós-graduada e a percepção sobre a formação acadêmica .

Os dados coletados foram analisados por meio de estatística descritiva, com uso de frequências absolutas e relativas, média e desvio padrão, utilizando o software Microsoft Excel®. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humano, sendo seguida todas as normas éticas, esclarecimentos e concordância com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos participantes da pesquisa.

4 Resultados e Discussão

Dos 150 egressos elegíveis, 73 responderam ao instrumento de pesquisa, sendo, 24 (32,87%) da primeira, 21 (28,76%) da segunda e 28 (38,35%) da terceira turma.

A média de idade dos participantes foi de 28,8 anos, variando entre 25 e 43 anos, o que corrobora a tendência nacional de rejuvenescimento do perfil médico, conforme aponta a Demografia Médica de 2025 (Scheffer, 2025). A maioria dos respondentes se identificou como do sexo feminino (57,5%) e solteira (58,9%). Todos os participantes se autodeclararam cisgênero, não havendo relatos de diversidade de identidade de gênero no grupo analisado. Esse perfil está em consonância com os dados de Figueiredo et al. (2022), que analisaram os egressos da medicina no Brasil em 2018.

O predomínio de mulheres entre os egressos acompanha a tendência nacional de feminização da medicina. Embora os homens ainda representem a maioria da população médica total, as mulheres já são maioria entre os profissionais com menos de 35 anos. Em 2009, aproximadamente 40% dos médicos eram mulheres; estima-se que, até 2035, elas representarão a maioria da categoria (Scheffer, 2025). Esse fenômeno reforça transformações na composição da força de trabalho médica e aponta para a necessidade de políticas que considerem as especificidades de gênero na formação e no exercício profissional.

Em relação à residência atual, 89% dos egressos (n = 65) permaneciam na região Sul do Brasil, indicando uma tendência de fixação regional no período pós-formatura. Especificamente no município de formatura, Chapecó, 30 egressos (41,1%) ainda residiam na cidade dois meses após a conclusão do curso. Esse padrão também foi observado em outros estudos, nos quais médicos recém-formados tendem a permanecer nos médios e grandes centros onde se graduaram (Purim et al., 2016; Scheffer, 2025). Após um ano, esse número caiu para 18 (24,7%), sugerindo deslocamentos progressivos em busca de melhores oportunidades profissionais ou formação especializada.

No que diz respeito à formação em nível de pós-graduação, 40 egressos (54,8%) prestaram processos seletivos para programas de residência médica, com taxa de aprovação de 75% (n = 30). À época da coleta de dados, 29 egressos (39,7%) estavam regularmente matriculados em programas de residência. A especialidade mais escolhida foi Medicina de Família e Comunidade (30%), o que pode refletir a influência de um currículo orientado para o Sistema Único de Saúde (SUS) e o fortalecimento da Atenção Primária à Saúde (APS), conforme preconizam as DCNs (Brasil, 2014).

Todos os egressos encontravam-se atuando profissionalmente na área médica, o que evidencia elevada empregabilidade no período pós-formatura. Observou-se ampla variação nas cargas horárias semanais e nas faixas de rendimento mensal, o que pode ser atribuído à diversidade de vínculos empregatícios, contextos de atuação e distribuição regional. A satisfação com a remuneração foi, em geral, classificada como moderada. A maioria declarou estar “parcialmente satisfeita”, indicando que, embora os rendimentos sejam considerados suficientes para sustento e desenvolvimento profissional, nem sempre correspondem às expectativas iniciais.

A avaliação da formação recebida na UFFS foi, majoritariamente, positiva. Os egressos destacaram o desenvolvimento de competências fundamentais à prática médica, como trabalho em equipe, compromisso ético, comunicação interpessoal e atenção integral à saúde. Houve consenso de que a formação esteve alinhada aos princípios do SUS e ao perfil profissional preconizado pelas DCNs, que valorizam uma atuação generalista, crítica, ética e socialmente comprometida (Brasil, 2014).

Contudo, os participantes também relataram limitações significativas, principalmente em relação à infraestrutura da universidade e à oferta de cenários de prática variados e contínuos ao longo da graduação. Essas lacunas foram apontadas como desafios que, embora não inviabilizem a formação, impactam negativamente a vivência clínica longitudinal e a consolidação de competências práticas em algumas áreas específicas da medicina.

Esses achados contribuem para reflexões sobre a efetividade do projeto pedagógico adotado e reforçam a importância do monitoramento sistemático dos egressos como ferramenta estratégica para a qualificação da formação médica, especialmente em instituições públicas voltadas à interiorização do ensino superior e ao fortalecimento do SUS.

5 Conclusão

Os resultados deste estudo evidenciam que os egressos do curso de Medicina da UFFS, Campus Chapecó, apresentam elevado nível de inserção no mercado de trabalho, com forte adesão à formação em residência médica, especialmente em especialidades voltadas à Atenção Primária. Observou-se ainda uma predominância de mulheres jovens, reforçando a tendência de feminilização da profissão médica. A avaliação positiva da formação recebida e a consonância percebida com os princípios do SUS e com as competências previstas nas DCNs revelam o alinhamento da proposta pedagógica da instituição com as diretrizes nacionais. No entanto, também foram apontadas limitações estruturais e dificuldades na oferta de cenários práticos que merecem atenção institucional.

Esse panorama reforça a importância da escuta contínua dos egressos como ferramenta estratégica para o aperfeiçoamento curricular e para a consolidação de um modelo de formação médica socialmente comprometido, crítico e voltado à redução das iniquidades em saúde.

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Publicado

06-10-2025

Edição

Seção

Ciências da Saúde - Campus Chapecó