ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA E DO ESTRESSE OXIDATIVO EM PACIENTES COM CÂNCER DE BEXIGA

Autores

  • Milena Beatriz Zang Instituo Federal de Santa Catarina
  • EDUARDA VALCARENGHI JABONSKI
  • VANDRIEL PEDONE DA ROSA
  • MARCOS EUZEBIO MACIEL
  • Marcelo Zeni
  • SARAH FRANCO VIEIRA DE OLIVEIRA MACIEL
  • Carolina Dacroce Dariva
  • KARINA LETÍCIA STRAPAZZON
  • Rodolfo Tenório da Fonseca

Palavras-chave:

Câncer de bexiga; Qualidade de vida; Vulnerabilidades

Resumo

1 Introdução

 O câncer, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), é uma doença caracterizada pelo crescimento anormal das células que, ao se dividirem rapidamente, tendem a se tornar incontroláveis. Especificamente, o câncer de bexiga é uma neoplasia comum do trato urinário, ocupando a 12ª posição no ranking global de frequência de cânceres (INCA). Embora fatores como a exposição a substâncias cancerígenas, infecções e inflamações crônicas na bexiga, sejam causas significativas em populações específicas (Antoni et al., 2017), um dos padrões observados em todo o mundo está relacionado aos modos de vida dos indivíduos.             Compreender as tendências comportamentais adotadas por pacientes com tumores urológicos e identificar padrões pode fornecer recursos importantes para intervenções que visem à melhoria da qualidade de vida. Logo, o conhecimento derivado da pesquisa se conecta à área de ensino, por meio de práticas pedagógicas e capacitação de profissionais da saúde. Destaca-se o potencial dessas informações para auxiliar no desenvolvimento de estratégias preventivas mais eficazes, contribuindo para a redução da incidência da doença e divulgação de informações acessíveis a toda a comunidade, o que se relaciona com a extensão.

Dessa forma, o estudo em questão analisou os aspectos relacionados ao perfil dos pacientes com câncer de bexiga, tais como a condição socioeconômica, o estado emocional, o consumo de substâncias psicoativas lícitas, como o álcool, e o nível de condicionamento físico.

2 Objetivos

O presente estudo teve como objetivo analisar os fatores emocionais, socioeconômicos e comportamentais que podem influenciar no desenvolvimento do câncer de bexiga, com foco em hábitos etilistas, dificuldades funcionais e financeiras.

3 Metodologia

Estudo transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, número do Parecer 3.421.380. Os participantes da pesquisa foram selecionados em um hospital de referência em oncologia no oeste de Santa Catarina, e na Cidade do Idoso, no município de Chapecó. Realizou-se a coleta de dados dos prontuários de 45 pacientes com diagnóstico recente de câncer de bexiga, que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Destes, 34 responderam aos questionários EORTC QLQ-C30 versão 3.0 e SF-36, para avaliação da qualidade de vida. Os indivíduos controle foram selecionados com base em pareamento por idade (+/- 5 anos) e gênero em relação aos pacientes. Posteriormente, foram calculados os escores de acordo com Aaronson et al. (1993), pela análise das escalas funcional, de sintomas e de saúde geral. As análises estatísticas foram realizadas no software GraphPad Prism versão 8.0. Os resultados estatisticamente significativos foram aqueles com p<0,05.

 

4 Resultados e Discussão 

Na análise do teste de Qui-quadrado, para comparar a distribuição do hábito etilista entre pacientes com câncer de bexiga e o grupo controle, observou-se que, entre os pacientes (n = 32), 9 (59,4%) declararam nunca ingerir bebidas alcoólicas, 8 (25%) declararam ingerir mensalmente e 5 (15,6%) semanalmente. No grupo controle (n = 42), 11 (26,2%) declararam nunca ingerir bebidas alcoólicas, 15 (35,7%) declararam ingerir mensalmente e 16 (38,1%) semanalmente, com diferença estatisticamente significativa (p=0,01). Nas três categorias de hábitos etilistas, os pacientes declararam menor ingestão de álcool em comparação ao grupo controle.  Esse menor consumo de álcool entre os pacientes pode estar relacionado ao impacto do diagnóstico recente, que geralmente aumenta a preocupação com a saúde. Porém, esse comportamento não reflete necessariamente os hábitos anteriores à descoberta da doença. Fatores emocionais, como estresse crônico e depressão, podem influenciar tanto o surgimento do câncer quanto o uso de substâncias psicoativas, como o álcool (Bauer, 2004). Além disso, dificuldades econômicas podem agravar esses transtornos e intensificar o consumo de álcool como forma de enfrentamento, prejudicando a vida social e profissional dos indivíduos (da Silva et al., 2021).                                                                                                                            No teste de correlação de Spearman, relacionando a pontuação de dificuldade financeira e a de funcionalidade emocional nos pacientes com câncer de bexiga (n = 34), foi observada uma correlação negativa (r=-0,55; p=0,0008), mostrando que quanto maior a pontuação de dificuldade financeira, menor a de funcionalidade emocional. Já quando relacionado o escore de funcionalidade física e emocional nos pacientes (n = 34), não foi observada correlação significativa (r=0,29; p=0,1).                                                                                                     No teste de Kruskal-Wallis para comparação da funcionalidade física e emocional nos diferentes grupos de hábito etilista nos pacientes (nunca ingere bebida alcoólica, n = 19; ingere bebida alcoólica mensalmente, n = 8; ingere bebida alcoólica semanalmente, n = 5), não foram observadas diferenças significativas em relação à funcionalidade física (p=0,73) e emocional (p=0,41).

5 Conclusão

O menor consumo de álcool pelo grupo com câncer de bexiga pode estar relacionado ao impacto do diagnóstico, pela maior preocupação e cuidado dos pacientes em relação à própria saúde, não refletindo necessariamente os hábitos de vida anteriores. Também foi possível corroborar que as dificuldades financeiras estão associadas à piora da funcionalidade emocional nos pacientes.                                                                                           Embora não tenha sido observada relação significativa entre as funcionalidades física e emocional, a literatura mostra uma sólida associação entre essas variáveis (Vasconcelos-Raposo e Teixeira, 2018). Além disso, tanto a funcionalidade física quanto a emocional não apresentaram relação com o consumo de álcool, constatação que contrasta com a literatura. Segundo o National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA, 2025), o álcool está diretamente associado a alterações comportamentais e ao sistema imunológico, afetando a funcionalidade física. Essas ausências de significância provavelmente se devem ao tamanho amostral reduzido. Importante destacar que meta-análises indicam que a qualidade de vida está associada ao risco de mortalidade em pacientes com câncer, principalmente antes do início do tratamento (Fukushima et al., 2024).                                                          Dessa forma, as informações deste estudo podem auxiliar, sobretudo a nível regional, na assistência prestada pelos profissionais de saúde e na elaboração de políticas públicas voltadas à melhoria da qualidade de vida desses pacientes.

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Publicado

06-10-2025

Edição

Seção

Ciências da Saúde - Campus Chapecó