PREVALÊNCIA DE MEDICAMENTOS POTENCIALMENTE INAPROPRIADOS PARA IDOSOS EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA DO NORTE DO RS
Resumo
1 Introdução
O envelhecimento populacional e a transição epidemiológica, associados à maior prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), vêm produzindo um cenário de uso crescente de múltiplas medicações a longo prazo, especialmente em idosos, os quais são mais suscetíveis às iatrogenias medicamentosas em decorrência das alterações fisiológicas próprias do envelhecimento e suas implicações farmacocinéticas e farmacodinâmicas (MARTINS et al., 2021; RZEWUSKA et al., 2017; RANDLES et al., 2022; FRIED et al., 2021; CLEGG et al., 2013). Neste sentido, listas de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos (MPI) têm sido desenvolvidas no intuito de auxiliar os médicos a compor prescrições mais racionais e com menor probabilidade de dano ao paciente. Sabe-se, ainda, que idosos residentes de instituições de longa permanência (ILPI) estão expostos a maiores riscos de desfechos negativos relativos à polifarmácia e uso de MPI, caracterizando-os, portanto, como população especialmente vulnerável (PAZAN; WEHLING, 2021; WASTESSON et al, 2018; PRINCE et al, 2015; MAHER; HANLON; HAJJAR, 2014) e carente de investigações e intervenções específicas nesse sentido, justificando a realização do presente estudo como forma de prover o substrato epidemiológico para guiar tais abordagens.
2 Objetivos
Esta análise parcial objetivou avaliar a prevalência de MPI para idosos em um subgrupo de residentes de uma instituição de longa permanência (ILPI) do norte gaúcho, bem como avaliar a presença de polifarmácia e interações medicamentosas graves entre as prescrições dos institucionalizados e obter dados gerais sobre o perfil dos indivíduos.
3 Metodologia
Trata-se de estudo quantitativo, observacional, com delineamento transversal descritivo, abordando dados secundários. A amostra e análises parciais aqui apresentadas compreendem idosos residentes de uma instituição de longa permanência (ILPI) do norte gaúcho, sendo não probabilística, selecionada por conveniência, abrangendo os idosos que residiam no local no início do ano de 2024.
As variáveis coletadas para a análise parcial foram: sexo, data de nascimento e a lista de medicamentos utilizados contendo doses e posologia específica. A entrada e processamento de dados foram feitas, respectivamente, com os softwares EpiData 3.1 e PSPP, ambos de distribuição livre.
As interações medicamentosas foram verificadas através da ferramenta “Drug Interaction Checker” disponível em <https://www.drugs.com/drug_interactions.html>. A presença de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos foi avaliada através da Lista de Beers, edição revisada de 2023 (American Geriatrics Society Beers Criteria® Update Expert Panel, 2023). Para a análise, polifarmácia foi definida como uso concomitante de cinco ou mais fármacos e polifarmácia extrema como uso concomitante de 10 ou mais fármacos.
4 Resultados e Discussão
A amostra foi composta por 20 pacientes, equivalente a 37.73% do total de 53 casos previstos para a análise final, sendo 8 do sexo masculino e 12 do sexo feminino, com idades variando de 67 a 95 anos (média de 77 ± 7,34). Polifarmácia esteve presente em 18 (90%) de 20 casos da amostra e a polifarmácia extrema ocorreu em 60%. Todos os residentes da instituição apresentaram interações medicamentosas em suas prescrições, com interações graves presentes em 60% da amostra. A média de interações medicamentosas foi de 27,05 (± 15.30) e a de interações graves foi de 1,50 (± 1,70). Observou-se ainda que todos os 20 casos analisados utilizavam MPI para idosos, com número de MPI nas prescrições variando entre 2 e 6 medicamentos, com média de 3,95 (± 1,43).
Comparando-se com dados de população similar avaliada no estudo conduzido por Mainardes e colegas (MAINARDES et al., 2022), nota-se que os mesmos encontraram similar divisão entre os sexos, com 66,7% de mulheres em suas casuística, mas a prevalência de polifarmácia na presente análise foi ainda maior (100% contra 53,2%), utlizando as mesmas definições. Em estudo com dados provenientes de 10 ILPIs do nordeste brasileiro (n = 321), Moreira e colaboradores (MOREIRA et al., 2020), utilizando a edição de 2015 da Lista de Beers, encontraram prevalência de 54,6% de MPI e 47,0% de polifarmácia, destoando dos 100% observados no presente estudo tanto para polifarmácia como para uso de MPI, embora concorde com a predominância feminina em sua amostra.
Já considerando-se o contexto internacional, Morin e colegas (MORIN et al., 2016), em revisão sistemática de 43 estudos norte-americanos e europeus, encontraram prevalência de MPI em idosos de 43,2%, também significativamente menor do que o observado na presente casuística. Destaca-se que a discrepância entre os achados apresentados e a literatura pertinente pode dever-se, entre outros fatores, ao baixo tamanho amostral e ao caráter parcial dos dados, bem como utilização de edições diferentes da Lista de Beers entre os estudos.
5 Conclusão
Os resultados desta análise de dados parciais permitem confirmar o perfil de feminilização da velhice, com predominância de mulheres entre os residentes de ILPI, mas constatando-se altíssima prevalência de polifarmácia e uso de MPI em ambos os sexos, evidenciando discordância entre a literatura pertinente e apontando para necessidade de maior investigação e confirmação dos achados em estudos de maior porte, com posterior formulação de políticas e ferramentas para abordar a polifarmácia e uso de MPI em idosos residentes de ILPI, caso se confirmem os achados.
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