OS MACROFUNGOS DO FILO BASIDIOMYCOTA E ASCOMYCOTA NA REGIÃO CANTUQUIRIGUAÇU/PR - ETAPA II.

  • Iago Gomes da Silva UFFS
  • Josimeire Aparecida Leandrini
  • André Martins UFFS
Palavras-chave: Diversidade, Funga, Floresta Ombrófila Mista, Agaricales, Xylariales

Resumo

 OS MACROFUNGOS DO FILO BASIDIOMYCOTA E ASCOMYCOTA NA REGIÃO CANTUQUIRIGUAÇU/PR - ETAPA II.

IAGO GOMES DA SILVA  ,*, ANDRÉ MARTINS , JOSIMEIRE APARECIDA LEANDRINI 2,

 

1 Introdução

Os organismos pertencentes ao  Reino Fungi são um dos principais responsáveis pela decomposição e ciclagem da matéria orgânica presente no meio ambiente. No mundo estão descritas aproximadamente 99.000 espécies de fungos (Kirk et al. 2008), das quais cerca de 13.800 existiriam no Brasil (Lewinsohn & Prado 2006).São eucariontes, heterótrofos, e utilizam esporos como uma das técnicas reprodutivas e possuem parede celular formada de quitina (DEACON, 2006). Tendo em vista que a descrição da funga na região é um trabalho essencial para melhor entender o ecossistema, o presente trabalho pretende ampliar a base de dados para auxiliar em pesquisas futuras, e descrever potenciais espécies com utilizações terapêuticas ou alimentícias.

 

2 Objetivos

Coletar e registrar espécies de macrofungos Basidiomycota e Ascomycota na área urbana e rural de Laranjeiras do Sul, campus da Universidade Federal da Fronteira Sul e área rural de Rio Bonito do Iguaçu; Identificar, fotografar e elaborar fichas de identificação do material coletado e incorporá-los ao herbário Povos da Floresta (LSPV) da Universidade Federal da Fronteira Sul campus Laranjeiras do Sul – PR; Detectar entre as espécies coletadas as que podem expressar potencial de usos alimentares e/ou medicinais; Organizar ficha ilustrada de identificação e usos para aulas de laboratório de escolas do ensino médio e UFFS.



3 Metodologia

As coletas foram realizadas entre os meses de novembro de 2023 a março de 2024, e foram realizadas de acordo com o proposto por Gimenes (2010) e Bononi (1984). Nas áreas selecionadas foram utilizadas trilhas pré-existentes, a partir destas, novos transectos foram adicionados ao acaso, até que não fossem mais avistados espécies de fungos diferentes. 

Após a coleta, o material devidamente etiquetado e acondicionado em caixa de transporte foi levado ao Laboratório de Botânica da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Laranjeiras do Sul para serem processadas. No laboratório foram medidos e colocados para a coleta das esporadas. Após esse processo os cogumelos foram levados para secagem em estufa de circulação de ar forçado à temperatura de 400 C, por 12h  e quando necessário por 24h dependendo do tamanho do cogumelo, logo após os mesmos foram  acondicionados em um freezer -20 0C por mais 24h para eliminar pequenos invertebrados visando uma melhor durabilidade do material e por último acomodados em sacos pardos junto do papel com sua esporada em uma caixa organizadora de 50 L com naftalina. 

As características de identificação macroscópicas foram verificadas conforme protocolos descritos por PEREIRA & PUTZKE (1990); SILVEIRA & GUERRERO (2003) e  LAESSOE (2013). Para verificação dos detalhes foi utilizado microscópio estereoscópico e microscópio óptico Biológico Olympus Cx21 binocular. Para análise de características microscópicas, os materiais foram reidratados na solução 5% KOH, já hidratados foram realizados cortes onde foram colocados sob lâminas  e submetido aos reagentes de Melzer, azul de algodão e água destilada. 

As observações, medidas e fotos das microestruturas foram realizadas em microscópio acoplado com régua e com medidas do programa xxx. A partir do levantamento na literatura qual a sua indicação (alimentícia ou medicinal), advertência (caso o fungo apresenta efeitos tóxicos sobre outros organismos).

Após as análises realizadas foram feitas a identificação por meio de chaves de identificação descritas na literatura específica de cada grupo (PEREIRA & PUTZKE, 1990; PUTZKE & PUTZKE, 1998). O material coletado, devidamente identificado, será depositado no Herbário Povos da Floresta (LSPV) da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Laranjeiras do Sul – PR. Os resultados obtidos foram divididos em áreas urbano e rural para facilitar o registro e a importância das áreas de preservação da funga na região. 

 

4 Resultados e Discussão

Foram encontrados em Laranjeiras do Sul, campus da Universidade Federal da Fronteira Sul e área rural de Rio Bonito do Iguaçu um total de 66 espécimes, no período de cinco meses de coleta. Dos espécimes coletados, seis (6) pertenciam ao filo Ascomycota, todos da Classe Sordariomycetes, Ordem Xylariales e família Xylariaceae gênero Xylaria; 60 espécimes pertencentes ao filo Basidiomycota, Classe Agaricomycetes. Com relação à  Ordem, a distribuição de exemplares foi: Agaricales (34), Polyporales (12), Auriculariales (07)  e Hymenochaetales (02). Familias: Polyporaceae, Auriculariaceae, Crepidotaceae, Nidulariaceae, Meruliaceae, Hymenochaetaceae, Geastraceae, Irpicaceae, Marasmiaceae, Hygrophoraceae, Tricholomataceae, Callistosporiaceae, Ganodermataceae, Plutaceae, Schizophyllaceae. Pleurotus djamor (Fr.) Boedijn, Favolus brasiliensis (Fr.) Fr são exemplos de cogumelos comestíveis e apreciados na culinária, a maioria das auricularias são comestíveis e produzidas pelo mundo, as descritas aqui estão em processo de identificação e para afirmar sua comestibilidade necessita-se descobrir a quais espécies pertencem. Algo a se ressaltar é a grande quantidade de cogumelos encontrados na serrapilheira algo um substrato fundamental e cheio de vidas, algo que deve ser conscientizado, pois  parte da população vê esse material como resíduo e acaba colocando fogo quando acumulado em sua propriedade, acabando com o habitat de diversos seres fundamentais para o local.

Na área urbana de Laranjeiras do Sul foram encontradas oito espécimes, do filo Ascomycota um único gênero,  Xylaria  o qual ainda não foi  identificada a espécie. Já para o filo Basidiomycota foram encontrados Trametes villosa Laccase; Pluteus sp.1, Geastrum sp.1, Fuscoporia sp.1; Agaricales (03) e  Agaricomycetes (01). O local da coleta fica dentro de uma propriedade num bairro central da cidade chamado Jaboticabal, com uma floresta com predominância de árvores nativas e principalmente da Jabuticaba (Plinia cauliflora), com um risco eminente de ser desmatada para a construção de um loteamento, algo que ressalta ainda mais a importância de se realizar o estudo da fauna, flora e funga ali presente antes de perdermos o conhecimento das espécies presente nesse refúgio ambiental no meio da cidade.

Já na área rural foram encontradas quarenta e três espécimes em três localidades, Comunidade Flor do Pinho, Assentamento 8 de Julho (Rio Leão) e  UFFS campus Laranjeiras do Sul. Foram encontradas seis espécies não identificadas de Ascomycota, sendo eles  Xylaria sp.2, Xylaria sp.3, Xylaria sp.4, Xylaria sp.5, Xylaria sp.7. Já para o filo Basidiomycota foram encontrados Schizophyllum commune Fries, Pleurotus djamor (Fr.) Boedijn, Trametes villosa, Favolus brasiliensis, Leucopaxillus  gracillimus Leucopaxillus  gracillimus Singer  &  A.H.  Sm., Macrocybe titans (H.E Bigelow & Kimbr.) Pegler, Lodge & Nakasone, dentre todas apenas Leucopaxillus  gracillimus foi encontrada em duas localidades, Amauroderma sp.,  Auricularia sp.1,  Auricularia sp.2, Auricularia sp.4 Auricularia sp.5; Auricularia sp.6; Auricularia sp.7, Cymatoderma sp.1, Cymatoderma sp.2, Cyathus sp., Fuscoporia sp, Geastrum sp.2, Hygrocybe sp.1, Hygrocybe sp.2, Hygrocybe sp.3, Polyporus sp.1, dois Marasmiaceae e doze Agaricales. Os locais de coleta apresentam características semelhantes no que diz respeito ao seu redor, são fragmentos de mata nativa rodeados de habitações e plantações, nos três locais existiam riachos em alguns trechos e não medem mais de 5.000 m² (cinco mil metros quadrados). 

Na área rural do Rio Bonito, na comunidade Acentinho foram encontradas 14 espécimes, sendo todas do filo Basidiomycota, Crepidotus sp., Pyrofomes sp., Gloeoporus sp, Marasmius sp., Pluteus sp.2, Panus sp. e Auricularia sp.3, seis Agaricales e um Polyporales que precisam ainda de identificação e nível de espécies. A área de coleta se encontra em uma propriedade particular singular na região onde se encontra por ser um dos poucos refúgios a beira do Alagado da Usina do Salto Santiago, tem uma área de 2,42 hectares e apresenta mata virgem em quase toda sua extensão.

 

5 Conclusão

O levantamento de fungos na região por se tratar de importante ecótono, uma vez que ocorre a transição entre a Floresta Ombrófila Mista e a Floresta Estacional Semidecidual, se mostra de extrema relevância à compreensão básica do meio, que futuramente servirá de apoio à futuras pesquisas que visam compreender as relações entre fauna, flora e funga, e ressalta a importância de se criar mais espaços de preservação para manter vivas espécimes essenciais para a manutenção do ciclo da natureza.

Referências Bibliográficas

BONONI, V. L. R.; FIDALGO, O. Técnicas de coleta, preservação e herborização de material botânico. Instituto de Botânica, São Paulo, 1984.

 

DEACON, Jim W. Fungal biology. Institute of Cell and Molecular Biology, University of Edinburgh, UK: Blackwell Publishing, 2006.

 

GIMENES, L. J. Fungos Basidiomicetos: Técnicas de Coleta, Isolamento e Subsídios para Processos Biotecnológicos. Instituto de Botânica. IBT, 2010. 

 

KIRK, P. M., CANNON, P. F., MINTER, D. W., & STALPERS, J. A. Dictionary of the Fungi.(10thedn). Wallingford, UK, 2008.



LAESSOE, Thomas. Mushrooms: How to Identify and Gather Wild Mushrooms and Other Fungi. London: Dorling Kindersley, 2013.



LEWINSOHN, T.M. & PRADO, P.I. Síntese do conhecimento atual da biodiversidade brasileira. In: Lewinsohn T.M. (org.). Avaliação do estado do conhecimento da biodiversidade brasileira. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2006.



PEREIRA, A. B. & PUTZKE, J. Famílias e gêneros de fungos Agaricales (cogumelos) no Rio Grande do Sul. Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, 1990.

 

PUTZKE, J. & PUTZKE, M. T. L. Os reinos dos fungos. 1ª edição, volume 1. Editora: EDUNISC. Santa Cruz do Sul, 1990.



SILVEIRA  B. M. R; GUERRERO, T. R. Glossário Ilustrado de fungos:Termos e Conceitos aplicados á Micologia. 2ª Edição. Editora-UFRGS. Porto Alegre, 2003.



WEATHER UNDERGROUND. Laranjeiras do Sul, Paraná, Brasil Weather Conditions. Disponível em:https://www.wunderground.com/weather/br/laranjeiras-do-sul. Acesso em: 23 ago. 2024.

 

Palavras-chave: Diversidade; Funga; Floresta Ombrófila Mista; Agaricales, Xylariales 

 

Nº de Registro no sistema Prisma:  PES-2023-0558 

Financiamento: Fundação Araucária.

 

Publicado
18-09-2024
Seção
Ciências Biológicas - Campus Laranjeiras do Sul