AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE INDÍGENAS ADULTOS E IDOSOS ATENDIDOS EM AMBULATÓRIO DE SAÚDE NO SUL DO BRASIL

  • JACKSON PAGNO LUNELLI UFFS
  • LEANDRO TUZZIN
  • DANIELA TEIXEIRA BORGES
  • IVANA LORAINE LINDEMANN
  • JOSSIMARA POLETTINI
  • RENATA DOS SANTOS RABELLO
  • GUSTAVO OLSZANSKI ACRANI
Palavras-chave: Indígenas;, Estado nutricional, Fatores sociodemográficos;, Atividade física;, Obesidade.

Resumo

No Brasil, os povos indígenas são expostos a inúmeros fatores ambientais e socioeconômicos, os quais têm efeito direto na segurança e qualidade alimentar ofertada a esse grupo populacional, fator que é potencialmente relevante na análise dos desfechos nutricionais. Objetivo: Avaliar o estado nutricional e descrever a prevalência de excesso de peso (sobrepeso e obesidade), além de seus fatores associados, em adultos e idosos indígenas atendidos em um ambulatório de média e alta complexidade no norte do Rio Grande do Sul. Trata-se de um estudo transversal realizado no Ambulatório de Saúde Indígena da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)/Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), no Campus da UFFS Passo Fundo (RS). A amostra foi composta por todos os indivíduos, de ambos os sexos e com idade igual ou superior a 20 anos, atendidos no ambulatório no período de 06 de agosto de 2021 a 30 de setembro de 2022. O desfecho do estudo, estado nutricional, foi aferido por meio da análise das variáveis peso (quilogramas) e da altura (metros). Para fins de análise foi realizado o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC). Para os adultos (idade entre 20 e 59 anos), foram considerados com sobrepeso os indivíduos que apresentarem IMC entre 25 a 30 kg/m² e indivíduos obesos aqueles com valores entre 30 a 40 kg/m². Para os idosos (idade ≥ 60 anos), foram considerados com sobrepeso os indivíduos que apresentarem IMC ≥ de 27kg/m²; para análise estatística foram agrupados os idosos e adultos com sobrepeso e obesidade. Ao todo, 245 indígenas integraram a amostra, com predomínio de indivíduos do sexo feminino (56,3%), da faixa etária de 20 a 59 anos de idade (84,4%) e de etnia Kaingang (96,2%). Ao analisar a escolaridade, o grupo de analfabetos e fundamental incompleto teve predomínio (59,5%). Ao estratificar a amostra com base no IMC, observou-se uma prevalência de sobrepeso/obesidade de 85,3% (IC95 79-82), e eutrofia de 14,7% (IC95 8-21).  A prática de atividade física regular foi observada em uma minoria da amostra (10,1%).  Ao analisar as variáveis clínicas, a Hipertensão Arterial Sitêmica (HAS) foi observada em 26,2%, Diabetes Mellitus em 12%, Dislipidemia 7%, Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) 2,5% e o Acidente Vascular Encefálico (AVE) em 2,9% da amostra. Ao analisar a relação entre o estado nutricional e as variáveis sociodemográficas e comportamentais, observou-se diferença estatisticamente significante relacionadas ao sexo e à escolaridade, destacando uma maior prevalência do desfecho entre as mulheres (91,5%; p=0,01), e entre os indivíduos não alfabetizados ou com ensino fundamental incompleto (87,5%; p=0,03). Quanto ao grau de escolaridade, observou-se uma maior frequência de indivíduos com excesso de peso entre o grupo dos não alfabetizados analfabetos e com fundamental incompleto.No presente estudo não foi possível observar diferença estatisticamente significativa entre a idade e o IMC (p=0,2), mas de forma descritiva, observa-se que adultos acima do peso são a maioria (87,6%), padrão também observado entre os idosos (77,8%). Nesta amostra também não foi possível observar diferença estatisticamente significativa entre a prática de atividade física e o IMC (p=0,7), o grupo que praticou atividade regularmente teve valores acima do peso (90,9%) semelhantes ao grupo que não praticou nenhuma atividade (87,1%).O presente estudo demonstrou relação significativa da baixa escolaridade e do sexo feminino com a obesidade e o sobrepeso do grupo populacional. Vale ressaltar que os presentes resultados são passíveis de viés de seleção e podem ter sofrido com a falta de poder estatístico na análise de algumas variáveis devido a amostra reduzida. Isto posto, fica evidente a relevância do presente estudo, de como a obesidade é prevalente entre as comunidades indígenas, mas também fica evidente a necessidade de ampliar as linhas de pesquisa entre a população indígena brasileira para que seja possível atuar de forma mais eficiente e eficaz.

Publicado
10-09-2024
Seção
Ciências da Saúde - Campus Passo Fundo