PERSPECTIVAS INTERDISCIPLINARES DURANTE O PROCESSO DE TRANSIÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES TRANSGÊNERO

  • Matheus Gonçalves Cavassin Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Augusto Krindges
  • JOÃO VITOR ANTUNES LINS DOS SANTOS
  • JEFERSON SANTOS ARAÚJO
Palavras-chave: Identidade de Gênero. Cuidados de Enfermagem Crianças. Adolescentes. Pessoas Transgêneros.

Resumo

  1. Introdução 

 

As crianças e adolescentes passam por diversas transformações de caráter biológico, psicossocial e identitário. Tais mudanças possuem condições de transição, ou seja, a evolução esperada parte do princípio de que o jovem está deixando de ser quem é, para tornar-se quem deve ser. Esse dinamismo provoca enormes revoluções na psique do ser, e é considerada um momento importante e impactante na vida do indivíduo. Entretanto, este processo pode se tornar ainda mais complexo quando a criança ou adolescente depara-se com o sentimento de incongruência com seu gênero biológico. caracterizando–se como indivíduos transexuais, ou seja, que possuem uma discordância entre o sexo biológico e o gênero. Tal discrepância é terreno fértil para uma série de eventos complexos envolvendo a família e os membros do ambiente educacional (Wagner, Armstrong. 2020). Logo, analisar o processo transitório sob diferentes óticas, como a da família, a de profissionais da saúde e dentro do âmbito educador pode ser de forte importância pois irá relacionar três grandes universos sociais que impactam diretamente a vida de jovens e adolescentes transexuais. Desta forma, o presente estudo propôs analisar o processo transitório considerando a influência familiar, o impacto do suporte de profissionais de educação e como o ambiente acolhedor dentro dos centros de saúde pode ser importante para uma transição mais saudável e bem sucedida. 

 

  1. Objetivos

 

Interpretar, com base na teoria das transições, as percepções dos profissionais de saúde, dos educadores e dos familiares sobre o processo de transição da identidade de gênero em crianças e adolescentes

 

  1. Metodologia 

 

O respectivo estudo caracteriza-se por possuir uma pesquisa interpretativa de abordagem qualitativa. Foi fundamentado pela teoria das transições, proposta pelas enfermeiras Meleis e Chick (2000). A coleta da pesquisa foi realizada na cidade de Chapecó. Foram realizadas entrevistas presenciais com 30 pessoas, sendo 10 familiares, 10 educadores e 10 profissionais da saúde. Os critérios de inclusão estiveram relacionados com o pertencimento do tema, os três grupos de entrevistados necessitavam estar envolvidos com as crianças e adolescentes transgêneros ou que estivessem passando pelo processo de transição. As entrevistas foram realizadas utilizando um questionário que se adaptava a cada grupo em questão, com base na técnica do círculo hermenêutico dialético. Os diálogos foram transcritos e analisados posteriormente pela análise temática indutiva ((BRAUN; CLARKE, 2006).

 

  1. Resultados e Discussão

 

A partir da elaboração da tese e a divisão dos três campos sociais que interferem no processo transitório, é possível admitir que existem condicionantes inibidores e facilitadores dentro de cada grupo participante na vida do indivíduo.  De início, pode-se citar os achados com as entrevistas dos familiares, educadores e profissionais de saúde que auxiliam a facilitar o processo de transição:

  1. Fala dos pais:

Filho é para toda a vida! Filho é filho! Então para mim não mudou nada, isso me ajuda a dar apoio a ela. 

 

Se for da vontade dele eu sempre vou estar aqui, meu amor não muda, vou respeitá-lo e apoiá-lo no que for preciso.

  1. Fala dos profissionais de saúde:

Tentamos usar o nome social em cadastros e tentamos replicar o conhecimento. E em questão de atendimento, é não violar direitos, fazer o mínimo para cada ser humano, conforme a necessidade do seu processo. Sei que não é o suficiente, mas tento fazer o que posso!

  1. Fala dos educadores:

Ela me contou toda a transição dela, sobre a questão hormonal e tal, é algo muito novo para ele! Mas sei que ela só falou sobre isso porque tem confiança em mim, conquistamos isso uma com a outra, e dessa forma posso ajudá-la. 

A partir das falas dos familiares, educadores e profissionais de saúde, nota-se que existe uma grande sustentação pautada no apoio, sentimento de proteção e sensibilidade para a transição. Além de que, o ambiente gerado pelo sentimento de respeito à transição, propicia uma experiência diferente daqueles que não obtiveram suporte emocional da família e desrespeito dentro do ambiente escolar. As falas supracitadas consistem em condicionantes facilitadores que foram encontrados em diversos entrevistados e consistem em elementos chave para a efetivação de um bom processo de transição. Assim como proposto por Meleis e Chick (2000) a transição consiste em um momento de instabilidade rumo ao momento de estabilidade. Desta forma, pode-se concluir que os fatores positivos encontrados nas entrevistas com adolescentes, familiares, professores e profissionais de saúde, apontam que este movimento de apoio pode gerar um processo transicional bem sucedido. 

 

  1. Conclusão

 

Esta pesquisa evidenciou que o tripé constituído pelo apoio e suporte familiar, educadores capacitados no manejo com crianças e adolescentes e profissionais de saúde que pratiquem a equidade em seus atendimentos, acarretam em uma experiência de transição favorável à criança e ao adolescente. Os achados das entrevistas apontam que o movimento de transição pode ser facilitado, quando há uma convergência sinérgica entre os três pontos (família, educadores e profissionais da saúde), ou, pode ser prejudicado quando não há uma boa relação entre as três estruturas sociais, penalizando o processo transitório de crianças e adolescentes. Destaca-se também as fragilidades dentro de cada campo social e suas respectivas influências nas transições. Em seu cerne, a falta de amparo e envolvimento dos familiares irão impactar negativamente o ambiente íntimo do jovem, penalizando o processo como um todo. Paralelamente, a falta de apoio relacionado a profissionais educadores irá potencializar uma introversão aguda perante a exposição do próprio reconhecimento do gênero, já que em muitos casos, a exposição da transexualidade parte dos próprios jovens quando se sentem acolhidos. Por fim destaca-se também o manejo diferenciado que profissionais de saúde necessitam desempenhar frente às necessidades diferenciadas deste seleto grupo de jovens que estão em processo de redescobrimento de seus próprios gêneros. 

Palavras-chave: Identidade de Gênero. Cuidados de Enfermagem Crianças. Adolescentes. Pessoas Transgêneros.

Nº de Registro no sistema Prisma: PES-2021-0101

Financiamento: UFFS

Publicado
16-10-2023