PREVALÊNCIA DO DIAGNÓSTICO DE DIABETES MELLITUS, DO TRATAMENTO FARMACOLÓGICO E DO NÃO CONTROLE DOS NÍVEIS GLICÊMICOS EM ADULTOS ACOMPANHADOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

  • Vanessa Loss Loss Secchi UFFS
  • Gustavo Olszanski Acrani
  • Ivana Loraine Lindemann
  • Lissandra Glusczak
Palavras-chave: Epidemiologia, Fatores de Risco, Doença Crônica, Sistema de Saúde

Resumo

1 Introdução

            O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é uma doença crônica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo e representa um desequilíbrio no sistema endócrino, englobando um conjunto de perturbações metabólicas. Tal distúrbio é caracterizado por uma reduzida resposta periférica à insulina, podendo estar associado ou não a uma diminuição na produção desse hormônio. Em decorrência dessa condição, observa-se um aumento nos níveis de glicose em jejum (hiperglicemia) e elevadas concentrações glicêmicas após as refeições (SBD, 2019).

            Dentro do contexto do sistema público de saúde do Brasil, cabe aos profissionais que atuam na Atenção Primária à Saúde (APS), em especial aos membros das equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF), a responsabilidade pelo diagnóstico precoce da doença, do tratamento farmacológico e não farmacológico, assim como pela constante supervisão e monitoramento dos pacientes (BRASIL, 2013).

            Vale destacar que o controle dos níveis glicêmicos emerge como uma questão crucial no DM2. Esses níveis frequentemente divergem dos padrões normais por diferentes motivos, como uma administração inadequada de medicamentos ou hábitos alimentares inapropriados. Sendo assim, ajustes no tratamento são necessários de forma contínua.
            No município de Marau/RS, a cobertura da APS é abrangente, alcançando 100% da população por meio das equipes da ESF. Nesse contexto, ganha destaque a importância de identificar os aspectos ligados à prevalência e ao tratamento do DM2 em pacientes assistidos pelo sistema de saúde local, a fim de permitir uma melhor compreensão acerca da frequência dessas condições, com o objetivo de fornecer indicadores que possam ser utilizados para avaliar e ajustar as estratégias de saúde no município.

2 Objetivos

       Estimar a prevalência do diagnóstico de DM2 e do não controle dos níveis glicêmicos em adultos acompanhados na APS e suas distribuições de acordo com características sociodemográficas, de saúde e de comportamento.

3 Metodologia

            Trata-se de um estudo epidemiológico transversal, realizado de setembro de 2022 a agosto de 2023, tendo como população pacientes adultos acompanhados na APS do município de Marau/RS. Foi selecionada uma amostra probabilística, de forma sistemática, entre todos os indivíduos de ambos os sexos e com idade entre 20 e 59 anos, com agendamento para consulta médica e/ou de enfermagem no ano de 2019 e excluídos aqueles que evoluíram ao óbito devido à inacessibilidade dos prontuários. A pesquisa da qual este estudo faz parte foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFFS (parecer de número 4.769.903). Os dados foram coletados por acesso on-line, através de login e senha fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde, aos prontuários eletrônicos disponíveis no sistema de prontuários integrados das Estratégias de Saúde da Família do município, o G-MUS - Gestão Municipal de Saúde e diretamente digitados em banco criado no programa EpiData, versão 3.1 (livre distribuição). 

            Para este estudo, selecionaram-se variáveis sociodemográficas (sexo, idade, cor da pele, escolaridade, situação no mercado de trabalho), de saúde (estado nutricional, doença renal, hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, doença cardíaca, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico, dislipidemia, tratamento para diabetes mellitus, uso de hipoglicemiante e uso de insulina) e de comportamento (uso de plantas medicinais, consumo de tabaco, de álcool e de outras drogas). Para a caracterização do estado nutricional foi adotado o Índice de Massa Corporal (IMC), sendo IMC ≤ 18,5 considerado baixo peso; IMC > 18,5 e < 25,0 peso adequado (eutrófico); IMC ≥ 25,0 e < 30,0 sobrepeso e IMC ≥ 30,0 obesidade (BRASIL, 2011). Para o desfecho diabetes mellitus, considerou-se pacientes com diagnóstico positivo em prontuário e, para glicemia não controlada, hemoglobina glicada (HbA1C) maior que 7,0 (PITITTO et al., 2022).

            As análises estatísticas foram realizadas no software PSPP (distribuição livre), com caracterização da amostra e cálculo da prevalência dos desfechos com intervalo de confiança de 95% (IC95). Ainda, verificou-se a distribuição dos desfechos de acordo com variáveis preditoras empregando-se o teste do qui-quadrado e admitindo-se erro tipo I de 5%.

4 Resultados e Discussão

            A amostra foi constituída por 1.581 participantes, sendo 63,2% do sexo feminino, 26,8% entre 30 e 39 anos, 68,1% brancos, 38,5% com ensino fundamental incompleto e 65,0% ativos economicamente. Referente às variáveis comportamentais, 8,7% faziam uso de plantas medicinais, 10,0% eram tabagistas, 3,7% tinham costume de consumir bebidas alcoólicas e 1,6% possuía realizava o consumo de outras drogas – Tabela 1.

            Quanto às características de saúde, identificou-se em 37% obesidade, 1,5% doença renal, 19,9% hipertensão arterial sistêmica (HAS), 1,8% doença cardíaca, 0,4% infarto agudo do miocárdio (IAM), 1,0% acidente vascular encefálico (AVE) e 8,4% dislipidemia, conforme a Tabela 2. Dentre os diabéticos (n=99), 84 adultos faziam tratamento para a doença, sendo que 19 utilizavam insulina e 65 pacientes faziam uso de hipoglicemiantes – Figura 1.

            A prevalência de diabetes mellitus foi de 6,3% (IC95 5-7). Constatou-se maior frequência de DM em pacientes com obesidade (67,2%; p<0,001), doença renal (2,0%; p=0,001), HAS (75,8%; p<0,001), doença cardíaca (9,1%; p<0,001), IAM (3%; p<0,001) e dislipidemia (41,4%; p<0,001).

           A relação significativa entre DM e HAS corrobora estudos prévios que indicam uma associação estreita entre as doenças. Nesse sentido, em 2019, a prevalência de HAS entre os brasileiros com diabetes foi de aproximadamente 68%, sendo a resistência à insulina o principal mecanismo subjacente à ocorrência de HAS nesses pacientes (BRASIL, 2020). Ademais, sabe-se que há um risco 2,5 vezes maior de diabetes em pacientes com hipertensão e essa patologia acompanha mais de 60% dos pacientes com DM tipo 2 (SBD, 2019).

            A prevalência de glicemia não controlada nos pacientes que possuíam registro em prontuário (n=102) foi de 26,5%, sendo mais frequente em pacientes obesos (41%; p<0,05), com dislipidemia (44,5%; p=0,05) e com HAS (55,6%; p=0,05). Logo, salienta-se que o excesso de glicose na circulação causa danos aos vasos, podendo ocluir as artérias coronárias, o que leva ao IAM, e, também, diminui a taxa de filtração glomerular (TFG), cursando com perda progressiva da função renal e microalbuminúria. Todavia, a relação descrita com o IAM não foi significativa na pesquisa, embora o DM tenha sido mais frequente em pacientes com dislipidemia.

  1. Conclusão

            A alta prevalência de comorbidades associadas à DM2 torna indispensável a implementação de medidas voltadas ao acompanhamento criterioso dessas doenças no âmbito da APS, a fim de assegurar de maneira mais efetiva a prevenção e o diagnóstico precoce para reduzir complicações futuras decorrentes dessas patologias.

            Entretanto, é possível inferir que o controle do diabetes nesse cenário é eficaz, uma vez que somente 2 a cada 10 pacientes apresentaram diabetes não controlado. Assim, a análise dos resultados ressalta a relevância e o impacto que uma cobertura integral de 100% na atenção primária pode exercer sobre o controle do diabetes em uma comunidade.

Palavras-chave: Epidemiologia; Fatores de Risco; Doença Crônica; Sistema de Saúde.

Nº de Registro no sistema Prisma: PES-2022-0067

Financiamento: Edital Nº 89/GR/UFFS/2022

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Referências Bibliográficas

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: diabetes mellitus. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.

BRASIL. Ministério da Saúde. SISVAN. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES (SBD). Diretrizes- Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-2020. Clannad ed. São Paulo: Editora Clannad, 2019.

PITITTO, B. De A.; DIAS, M. L.; MOURA, F. F. De, et al. Metas no tratamentos do diabetes. Sociedade Brasileira de Diabetes, 2022.

Publicado
27-09-2023