AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE DO HERBICIDA 2,4-D EM GIRINOS DE PHYSALAEMUS: A FORMULAÇÃO COMERCIAL É MAIS TÓXICA QUE O INGREDIENTE ATIVO?

  • GUILHERME FELICIONI FERREIRA Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Bruna Caprini
  • Inete Baú
  • Alexandre Follador
  • Marília Hartmann
Palavras-chave: Ecotoxicologia, sobrevivência, herbicidas

Resumo

O ácido 2,4-diclorofenoxiacético, conhecido como 2,4-D, é um composto utilizado como
ingrediente em mais de 100 herbicidas no Brasil. Apesar de seu potencial de agredir o meio
ambiente, é amplamente utilizado devido ao seu baixo custo e eficiência. No ambiente o
2,4-D se aloca facilmente em ambientes aquáticos, nos sistemas aquáticos eles afetam de
forma negativa os organismos. Podendo causar diversos problemas genéticos e
morfológicos, porém, os efeitos de doses subletais de 2,4-D ainda são pouco conhecidos ,
não sendo possível mensurar seus impactos nas espécies não alvo. Também são pouco
conhecidos as diferenças entre a toxicidade do ingrediente ativo (IA) do equivalente ácido e
das formulações comerciais (FC). Physalaemus cuvieri é uma espécie de anfíbio anuro
(Leptodactylidae) amplamente distribuída no Brasil. Este estudo teve como objetivo
comparar a toxicidade de concentrações crônicas de uma formulação comercial de 2,4-D e
do ingrediente ativo da fórmula em girinos de P. cuvieri. As concentrações coletadas foram
4, 30, 52,2, 75 e 100 μg/L. As desovas foram coletadas menos de 24 horas após a postura
dos ovos e criadas em solução FETAX sob condições controladas de laboratório até o
estágio de desenvolvimento 25 de acordo com Gosner (S25). O teste teve duração de 15
dias, semi-estático, em triplicata com 10 girinos em cada recipiente (30 por concentração e
30 no controle). A mortalidade foi verificada diariamente e o comprimento e a massa totais
foram medidos no primeiro (D1) e no último (D15) dias. A mortalidade não foi significativa
nos girinos expostos ao IA e FC. No tratamento IA ocorreu uma morte em 100 μg/L, e em
FC, 14 mortes no total: 1 em 4 μg/L, 3 em 30 μg/L, 5 em 52,2 e 5 em 100 μg/L. Não
ocorreu mortalidade nos controles. Embora tenha sido baixa, 18 % dos expostos a FC não
sobreviveram até o final do período de ensaio, o que leva a questionamentos sobre a
formulação comercial e levanta a possibilidade de mais estudos sobre a sobrevivência desta
espécie na exposição a 2,4-D. Os girinos expostos a IA e FC de 2,4-D não apresentaram
diferenças entre comprimento e massa no dia 14. Apesar das medidas variarem entre o
controle e girinos expostos, não foi suficiente para uma diferença estatística entre elas.
Quando o crescimento dos 14 dias de ensaio foi analisado, foi possível verificar que os
girinos em contato com concentrações entre 30 e 100 μg/L de FC cresceram menos que os
em IA. Essa diminuição de tamanho pode ser uma resposta ao estresse causado pela
substância química. O desenvolvimento reduzido dos girinos pode torná-los mais
vulneráveis ​​à predação em ambientes naturais, diminuindo taxas de sobrevivência. O IA e
FC testados no presente estudo não causaram mortalidade significativa, mas podem
interferir no crescimento dos girinos de P. cuvieri. São necessários mais estudos para
confirmar a diferença na toxicidade entre o IA e a FC de 2,4-D.

Publicado
02-10-2023